Gaza será ‘totalmente destruída’ e palestinos serão deslocados, diz ministro de Israel
Declaração ocorre um dia após gabinete de segurança israelense aprovar plano que prevê 'conquista' e 'manutenção' do enclave

O ministro das Finanças de Israel, Bezalel Smotrich, afirmou nesta terça-feira, 6, que a Faixa de Gaza será “totalmente destruída” e que os palestinos serão deslocados “em grande número para terceiros países”. A declaração ocorre um dia após o gabinete de segurança do país aprovar um plano para a Operação Carruagens de Gideão, que prevê “a conquista” e “a manutenção dos territórios”, informou uma autoridade israelense ao jornal britânico The Guardian.
“Gaza será totalmente destruída, os civis serão enviados para o sul, para uma zona humanitária sem Hamas ou terrorismo, e de lá começarão a sair em grande número para terceiros países”, disse Smotrich durante uma conferência sobre assentamentos judaicos na Cisjordânia.
Quase 2 milhões de palestinos foram deslocados e mais de 51 mil foram mortos desde o início da guerra entre Israel e o grupo palestino radical Hamas, em outubro de 2023. Grupos de direitos humanos dizem que deslocar pessoas à força é um crime de guerra em potencial e um crime contra a humanidade — esse último corresponde a “violações graves cometidas como parte de um ataque em larga escala contra qualquer população civil”, incluindo deportação, segundo o Tribunal Penal Internacional (TPI), em Haia.
Egito e Jordânia se recusam a aceitar o êxodo da população de Gaza para os seus territórios, já que a permissão atestaria cumplicidade com o crime de limpeza étnica. Por sua vez, a Corte Internacional de Justiça (ICJ), das Nações Unidas, analisa acusações de genocídio contra Israel. No ano passado, o tribunal ordenou que o governo israelense “tomasse todas as medidas” para prevenir e punir incitações de genocídio, além de demandar que Tel Aviv permita o “fornecimento irrestrito” de ajuda humanitária ao enclave palestino através da fronteira com o Egito.
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Resposta do Hamas
Após a notícias sobre a Operação Carruagens de Gideão, o Hamas afirmou que não participará de negociações de trégua com Israel até que o país encerre a “guerra da fome” em Gaza. Nas últimas semanas, soldados israelenses reforçaram “zonas de proteção” com quilômetros de profundidade ao longo do perímetro da Faixa de Gaza e expandiram seu controle sobre grande parte do norte e do sul do território
“Não faz sentido iniciar negociações ou considerar novas propostas de cessar-fogo enquanto a guerra da fome e a guerra de extermínio continuarem na Faixa de Gaza”, disse Basem Naim, um alto funcionário do Hamas, à agência de notícias AFP. Ex-ministro da Saúde em Gaza, ele pediu pressão internacional para Tel Aviv pôr fim aos “crimes de fome, sede e assassinatos”.
O plano de “conquista” da totalidade do território palestino inclui o controle da distribuição de suprimentos a civis por meio de empresas privadas americanas. Ainda nesta terça-feira, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) também condenou o plano de Israel para desmontar o sistema de ajuda humanitária a Gaza.
“Não aceitamos uma proposta e um plano que não estejam à altura dos princípios humanitários fundamentais de imparcialidade, neutralidade e entrega independente de ajuda”, disse o porta-voz do OCHA, Jens Laerke, acrescentando que o plano de Israel é “projetado para controlar e restringir ainda mais o fornecimento, o que é o oposto do que é necessário.”