Francês deixa Comissão Europeia em meio a briga com von der Leyen
Thierry Breton, que havia sido nomeado para segundo mandato como comissário de seu país na UE, acusou chefe do bloco de 'governança questionável'
O francês Thierry Breton apresentou sua renúncia com efeito imediato do cargo de comissário de mercado interno da União Europeia nesta segunda-feira, 16, acusando a chefe do executivo do bloco, Ursula von der Leyen, de “governança questionável”. Ele havia sido nomeado recentemente pelo presidente da França, Emmanuel Macron, para um segundo mandato supervisionando as políticas industriais e do mercado único europeu. No entanto, afirmou em publicação nas redes sociais que von der Leyen havia pedido que o Palácio do Eliseu voltasse atrás na decisão.
Segundo Breton, os motivos por trás da movimentação da chefe da UE são “pessoais” e não foram discutidos diretamente com ele. “À luz desses desenvolvimentos recentes — mais um caso de governança questionável — tenho que concluir que não posso mais exercer minhas funções”, declarou.
O anúncio veio com um toque de teatralidade. O ex-comissário postou no X, antigo Twitter, uma moldura vazia pendurada na parede com a legenda: “Notícias de última hora: meu retrato oficial para o próximo mandato da Comissão Europeia”. A carta de renúncia foi publicada em uma postagem separada.
Caos na Comissão Europeia
O anúncio intensifica a desordem da nomeação da equipe de von der Leyen, que já está atrasada. Buscando mais equilíbrio em termos de gênero no gabinete, a chefe da Comissão Europeia desencadeou uma briga política na Eslovênia ao pressionar o governo a retirar a candidatura de um homem.
Ela deve revelar detalhes da próxima comissão, com mandato de cinco anos, após reuniões com parlamentares na terça-feira, 17. Sua equipe é composta por 27 comissários da UE, um de cada estado-membro, que serão responsáveis por aplicar as leis do bloco abrangendo várias áreas, incluindo meio ambiente e clima, política industrial e econômica, relações exteriores, imigração, agricultura e pesca.
Breton era um dos comissários mais importantes de von der Leyen, e ganhou destaque ao enfrentar empresas de tecnologia dos Estados Unidos, como o X e a Meta, sobre regulamentações para conter os efeitos nocivos da internet. Ele também supervisionou medidas para aumentar a produção bélica da União Europeia diante da guerra na Ucrânia.
Disputa interna
Horas após a notícia ser divulgada, o ministro das Relações Exteriores da França, Stéphane Séjourné, substituiu Breton como candidato indicado pela França. Ele é um aliado de Macron, que foi líder de sua coalizão centrista, Juntos, no Parlamento europeu. A Comissão Europeia, porém, ainda não confirmou quem assumirá o portfólio de mercado interno, sinal de que a renúncia de Breton pegou von der Leyen de surpresa. Autoridades da União Europeia contavam com o cumprimento de seu segundo mandato.
Sua dramática renúncia ocorre logo após Macron, politicamente enfraquecido após reveses eleitorais, nomear Michel Barnier, político da centro-direita, como primeiro-ministro. Foi uma tentativa de acalmar a crise política da França após eleições antecipadas no legislativo, que a esquerda venceu sem maioria absoluta na Assembleia Nacional.
Apesar do tumulto político em casa, a França continua influente na defesa de uma “Europa mais soberana”, agenda que prega que a UE dependa menos do resto do mundo para segurança, recursos vitais e bens industriais.
Briga antiga com von der Leyen
Ex-empresário, Breton não tinha medo de criticar sua chefe. Ele se juntou a outros colegas de alto escalão no ano passado para condenar a decisão de von der Leyen de nomear um colega alemão do partido União Democrata Cristã para um cargo importante, para a qual ele era considerado menos qualificado do que outros candidatos.
Quando ela concorreu à reeleição para a chefia da Comissão Europeia em junho deste ano, Breton questionou se esse era o melhor caminho. “É possível (tornar a) confiar a gestão da Europa ao PPE (Partido do Povo Europeu) por mais cinco anos?”, ele escreveu no X sobre a coalizão de von der Leyen. “O próprio PPE não parece acreditar em sua candidata”, completou.
Von der Leyen, que acabou sendo reeleita após traçar acordos com outras coalizões de centro-direita e centro-esquerda no Parlamento europeu, há muito tempo enfrenta acusações de que é indiferente, carece de transparência e não envolve colegas na tomada de decisões da União Europeia.