França: corte inicia julgamento de 6 jovens por decapitação de professor
Samuel Paty foi morto por um agressor de 18 anos; Outros cinco adolescentes são acusados de conspirar contra o professor e monitorar sua rotina
Um tribunal da França começou o julgamento de seis adolescentes nesta segunda-feira, 27, que correrá a portas fechadas, por acusações de conexão com a decapitação de um professor de história. A morte de Samuel Paty, 47 anos, em frente à escola onde trabalhava num subúrbio de Paris, chocou o país em 2020.
Paty foi assassinado por um agressor de 18 anos de origem chechena, que por sua vez foi morto a tiros pela polícia logo após o ataque. Os outros cinco menores no julgamento, com idades entre 14 e 15 anos no momento do ataque, serão acusados de conspiração criminosa premeditada e de emboscada.
Suspeita-se que os jovens tenham ajudado o assassino a identificar Paty, além de monitorarem sua rotina para transmitir informações ao agressor sobre o horário em que o professor saía da escola. Eles podem pegar até dois anos e meio de prisão.
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O crime brutal ocorreu depois de Paty mostrar, em sala de aula, caricaturas do profeta Maomé, em um contexto de discussão sobre liberdade de expressão. O gesto irritou alunos e pais muçulmanos, já que a maioria dos seguidores do Islã condena representações de profetas, que é considerada uma blasfêmia pela religião.
Na época, uma menina de 13 anos teria contado aos pais que Paty orientou os alunos muçulmanos a saírem da sala antes de mostrar as caricaturas. No entanto, hoje ela enfrenta acusações de dar declarações falsas, já que descobriu-se que ela não estava na aula em questão.
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A irmã de Paty, Mickaelle, disse em comunicado através do advogado Louis Cailliez que seu irmão ainda estaria vivo se não houvesse uma “associação fatal de pequenas covardias e grandes mentiras”. Oito adultos também são acusados em conexão com o caso e comparecerão a um tribunal criminal especial.
No mês passado, quase dois anos depois do assassinato de Paty, um homem de 20 anos matou um professor a facadas, além de ferir duas outras pessoas gravemente, num ataque a uma escola no norte de França. O caso, que ocorreu após o início da guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas no Oriente Médio, elevou os temores de uma nova onda de violência jihadista no país.
A França sofreu uma série de ataques de militantes islâmicos nos últimos anos, incluindo um tiroteio em 2015 nos escritórios do Charlie Hebdo, uma revista satírica que publicou caricaturas que Paty mostrou nas suas aulas.