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Fidel, a Revolução e o fascínio dos intelectuais

O entusiasmo com a ditadura cubana, apesar de todos os seus pecados

Por AFP Atualizado em 26 nov 2016, 09h40 - Publicado em 26 nov 2016, 09h02

“Ele é toda a ilha”, escreveu o francês Jean-Paul Sartre após conhecer, deslumbrado, Fidel Castro, no auge da Revolução Cubana, um sentimento que ainda domina muitos intelectuais, apesar do passar das décadas e dos crimes contra os direitos humanos atribuídos ao líder cubano.

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Quando, em 1º janeiro de 1959, Fidel Castro proclama o “início da Revolução” na varanda do hotel da cidade de Santiago de Cuba (região Sudeste), ela ainda não é marxista, mas é inegavelmente de esquerda e representa uma esperança formidável para intelectuais e jovens do mundo todo, após a crise stalinista.

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No momento em que um vento de libertação sopra pelo mundo, o homem de charuto seduz. Ele tem apenas 32 anos e promete acabar com a corrupção que predominou na ditadura de Fulgencio Batista, assim como com o embargo americano nessa ilha situada a menos de 160 km da costa da Flórida.

A seu lado, está Ernesto “Che” Guevara, o médico argentino que bebe na teoria marxista, sonha com unificar a América Latina e se tornará um ícone da Revolução, após sua morte como um “mártir” na Bolívia, em 1967.

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Mas é um outro ícone, o da intelligentsia francesa, Jean-Paul Sartre, que desembarca em 22 de fevereiro de 1960, em Havana, com a também escritora Simone de Beauvoir ao lado.

Durante um mês, o casal passeia pela ilha com Fidel. Sartre escreve um longo texto, “Furacão sobre o açúcar”, e multidões de jovens estrangeiros, entre eles o futuro ministro francês das Relações Exteriores, Bernard Kouchner, ou o intelectual Régis Debray, que se uniria a Che, na Bolívia, vão viver o “milagre” cubano.

Ainda em 1960, a jovem Françoise Sagan, nova coqueluche do mundo literário francês, é enviada por Cuba pela revista “L’Express” e volta desiludida com os primeiros desvios do regime.

Mas esse ainda era um momento glorioso da Revolução. Mesmo que, em 1961, no primeiro congresso “revolucionário” dos escritores, Fidel Castro tenha traçado claramente os limites da liberdade de expressão: “Na Revolução tudo, contra a Revolução, nada”.

O dramaturgo Virgilio Piñera murmura no microfone: “Quero apenas dizer que eu tenho muito medo”.

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Em 1971, o poeta Heberto Padilla, de prestígio mundial, é preso e o caso afasta do regime muitos intelectuais.

Vários escritores, como peruano Mario Vargas Llosa, o mexicano Octavio Paz, o espanhol Jorge Semprun, ou o próprio Sartre, denunciam a detenção do poeta, que acaba sendo solto. O preço foi alto, porém. Durante horas, ele é obrigado a fazer uma “autocrítica” humilhante, denunciando seus amigos e até sua mulher como “inimigos da Revolução”.

A perseguição aos intelectuais e aos artistas por seu “pensamento subversivo” continuará com mais ou menos vigor. Escritores como Guillermo Cabrera Infante, Reinaldo Arenas, ou Zoé Valdés, escolhem o exílio. Ainda assim, Fidel continua a fascinar.

Apesar das divergências com o regime, o escritor colombiano e antigo jornalista da agência cubana Prensa Latina Gabriel Garcia Marquez, Prêmio Nobel de Literatura, era um grande amigo do comandante Fidel.

Toda uma geração de presidentes latino-americanos – do falecido Hugo Chávez (Venezuela) a Evo Morales (Bolívia), passando por Luiz Inácio Lula da Silva – reivindica a herança do líder Fidel que, doente, afastou-se do poder há dois anos, entregando-o a seu irmão, Raúl.

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Para os europeus, sobretudo, socialistas como Danielle Mitterrand, Fidel e sua Revolução continuam sendo um capítulo único da História do comunismo.

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