‘Fantasiada’ de socialite, espiã russa adentrou círculo social da Otan
Segundo portal de jornalismo investigativo, agente posava como designer de joias na Itália para se aproximar de membros do Comando da aliança militar

Uma espiã do Departamento Central de Inteligência (GRU) da Rússia GRU fingiu ser uma designer de joias latino-americana por uma década e, com o disfarce, conseguiu adentar o círculo social da Otan, a principal aliança militar ocidental, na cidade italiana de Nápoles. A investigação, publicada nesta sexta-feira, 26, foi feita pelo portal de jornalismo investigativo Bellingcat em parceria com outros meios de comunicação, , incluindo La Repubblica, na Itália, e Der Spiegel, na Alemanha.
De acordo com a investigação, a designer conhecida como Maria Adela Kuhfeldt Rivera, que dizia ser filha de pai alemão e mãe peruana e ter nascido nascida na cidade peruana de Callao, seria na verdade a agente Olga Kolobova, treinada para se passar por estrangeira – algo conhecido na comunidade de inteligência secreta como uma “ilegal”.
Desde o início do período soviético as agências de inteligência usam ilegais, e como “Rivera”, às vezes, vivem por décadas com identidades falsas.
A agente ilegal se mudou para Roma, Malta, Paris e depois foi para Nápoles, onde ficou entre 2013 e 2018. Na cidade, que é a sede do Comando da Força Conjunta Aliada da Otan, montou uma joalheria chamada Serein e levou uma vida social ativa com os membros da organização.
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Rivera também assumiu o cargo de secretária na filial de Nápoles do Lions Clube Internacional e conhecidos afirmam que, assim, ela conseguiu fazer amizade com muitos funcionários da Otan e figuras do alto escalão. Um funcionário da organização revelou aos investigadores que ele teve um breve relacionamento romântico com a espiã.
O investigador principal, Christo Grozev, CEO da Bellingcat, afirmou em uma entrevista que descobriu o rastro da espiã quando analisava um banco de dados vazado de pessoas que teriam passado pela fronteira de Belarus. As informações foram fornecidas por um grupo de hacker de oposição ao regime de Alexander Lukashenko, aliado do presidente russo, Vladimir Putin.
Quando Grozev procurava os números de passaportes russos, e identificava os intervalos conhecidos por terem sido usados por agentes do GRU, o que destacou foi um único nome que não era russo: Maria Adela Kuhfeldt Rivera. Durante a investigação descobriu que ela viajou com vários passaportes russos com números de série dentro de uma sequência usada por outros agentes conhecidos, entre eles um oficial supostamente envolvido no ataque a Sergei Skripal e sua filha na Inglaterra, em 2018.
Segundo Grozer, como o portal Bellingcat publicou artigos sobre os supostos envolvidos no ataque a Skripal e as identidades falsas usadas para viajar, Rivera pode ter sido retirada de cena por seus chefes, que temiam que outros agentes com números de passaportes semelhantes fossem comprometidos.
Dois meses após sua saída repentina de Nápoles, Rivera usou suas redes sociais paara tentar explicar seu desaparecimento e silêncio.
“É a verdade que devo finalmente revelar… O cabelo está crescendo agora após a quimioterapia, muito curto, mas está lá. Sinto falta de tudo, mas estou tentando respirar”. Não há rastros que indiquem que a suposta espiã saiu da Rússia novamente.