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Ex-primeira-dama argentina detalha agressões que teria sofrido de Alberto Fernández

Em sua primeira audiência desde que denunciou ex-presidente argentino, Fabiola Yáñez disse que violência na mansão presidencial era 'habitual'

Por Paula Freitas Atualizado em 13 ago 2024, 20h48 - Publicado em 13 ago 2024, 18h11

A ex-primeira-dama argentina Fabiola Yáñez detalhou nesta terça-feira, 13, as agressões que diz ter sofrido do ex-presidente Alberto Fernández, com quem nunca se casou oficialmente. Em sua primeira audiência desde que denunciou Fernández, na semana passada, ela chorou em diferentes momentos das quase quatro horas de depoimento e disse que desenvolveu vício em álcool após o antigo parceiro incentivá-la a fazer um aborto, em 2016, ano em que a violência teria começado.

Na Embaixada da Argentina na cidade espanhola de Madri, onde mora, Yáñez confirmou que os diálogos e as fotos de hematomas, encontradas no celular da secretária de Fernández, María Cantero, apreendido no âmbito de uma investigação de corrupção, são fruto de golpes que teria recebido do ex-líder argentino em 2021. A ex-primeira-dama explicou que um dos episódios “foi uma noite, houve uma discussão no quarto e ele terminou me dando um soco no olho”, acrescentando que os golpes que sofria na mansão presidencial eram “habituais” e que “as discussões terminavam com uma pancada, um tapa”.

“Já havíamos discutido muito antes, como sempre, e para encerrar a discussão ele me deu um soco terrível do lado da cama”, relembrou. “Naquele dia eu tive que viajar para Misiones, era um compromisso oficial, como primeira-dama, então viajei mesmo assim, no começo só parecia vermelho, mas fiquei 3 ou 4 dias e meu olho começou a mudar para uma cor mais brilhante a cada tempo forte.”, disse ele.

“Voltei e fiquei em Olivos. Lá, junto com Alberto, ligamos para o Dr. Saavedra, Chefe da Unidade Médica Presidencial, ele me deu glóbulos de arnica e me disse que com o tempo ia passar”, continuou Yáñez. “E eu fiquei assim andando dias dentro de casa, em Olivos, obrigada a não sair para que o golpe não fosse vista.”

Ela desabafou que, hoje, está “vivendo com medo” e, com voz embargada, afirmou que o maior assédio que sofre, no momento, “é a constante ameaça de tirar o meu filho de mim”. Em 2022, Yáñez e Fernández tornaram-se pais de um menino, chamado Francisco, em homenagem ao papa. “Tenho medo que aconteça alguma coisa comigo, porque com quem ele [Francisco] vai ficar?”, questionou.

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+ ‘Nunca bati em uma mulher’, diz Fernández após ser acusado de agressão

Aborto e violência sexual

Segundo a ex-primeira-dama, a violência “era constante, era comum” e ela recebia “todo o tipo de ataques” desde a época que moravam juntos, em Puerto Madero. Na época, engravidou e contou ao companheiro, que passou a tratá-la com “desprezo e rejeição”. Ela disse que o comportamento hostil a levou a “tomar a pior decisão”, em referência ao procedimento de interrupção da gestação. “Você tem que resolver, tem que abortar”, teria dito Fernández, após falar que seu filho, Estanislao, de outro casamento, nem a conhecia ainda.

Para lidar com a perda, Yáñez criou dependência em bebidas alcoólicas, mas disse que ele compartilhava o hábito e fumava. Quando Fernández chegou à presidência e o casal foi morar na Quinta de Olivos, “tudo aumentou”, disse sobre os episódios de agressão. Então, frisou que “depois de ir embora de Olivos e da derrota eleitoral em eleições locais, a violência tornou-se cada vez pior” e sugeriu que vivia num “inferno”.

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Questionada sobre ter sido vítima de violência sexual, ela negou e informou que não mantinha relações com o ex-presidente há três anos. Sobre ter buscado, ou não, ajuda, a ex-parceira de Fernández disse que procurou Cantero, como mostram as mensagens, que contatou a clínica de Facundo Manes sobre o seu estado de saúde e que pediu suporte à ministra da Mulher, Ayelén Mazzina, que nega ter sido procurada.

+ Ex-mulher denuncia ex-presidente argentino Alberto Fernández por violência e assédio

Danos psicológicos e crimes

Embora não tenha apresentado provas na sessão, disse que enviaria fotos e documentos à Justiça. Ela reiterou que foi vítima tanto de “lesões graves” quanto “violência psíquica, psicológica”, um dos principais argumentos desde que apresentou queixa contra o ex-presidente, e destacou que precisou de tratamento psiquiátrico para lidar com os traumas.

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Além da audiência, a ex-primeira-dama entrou com um documento de 20 páginas na Embaixada da Argentina na Espanha, em que relata variadas formas de violência que teria sido alvo, como espancamentos, abusos psicológicos, insultos e indução ao aborto. Em razão da gravidade do caso, solicitou o agravamento dos crimes atribuídos ao ex-chefe de Estado argentino.

Desde a denúncia, Fernández está proibido pela Justiça de chegar perto de “500 metros da morada onde (a ex-companheira) reside em Madri e de qualquer local onde exerça atividades laborais, educativas, recreativas ou frequentes”. A decisão também estabelece uma proibição “absoluta” de contato entre os dois. Ele não pode sair da Argentina, enquanto ela teve a segurança reforçada.

O ex-presidente nega as acusações e, ao jornal espanhol El País, defendeu que “alguém a encorajou a denunciá-lo”. Questionado sobre as fotos e as conversas entre a ex-companheira e sua secretária, respondeu: “Estou sendo acusado de algo que não fiz. Eu não bati na Fabíola. Eu nunca bati em uma mulher. Passei 18 anos com a mãe do meu filho mais velho e 11 anos com Vilma Ibarra [ex-secretária Jurídica e Técnica de sua presidência] e nunca tive um episódio dessa natureza. Vi as fotografias na mídia, mas ainda não tive acesso à causa”.

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