EUA suspendem envio de armas e sistemas de defesa para Ucrânia
Alarmado, governo ucraniano convoca diplomatas americanos para discutir assistência militar; ajuda a Israel contra o Irã pode ter reduzido estoque

Os Estados Unidos suspenderam o envio de armas, munições e sistemas de defesa aérea para a Ucrânia, reportaram as emissoras americanas CNN e PBS e o jornal britânico The Guardian nesta quarta-feira, 2. De acordo com a Casa Branca, a decisão foi tomada para “colocar os interesses americanos em primeiro lugar”, em meio a especulações de que os estoques estão em baixa – em parte devido à assistência militar do governo de Donald Trump a Israel durante doze dias de guerra aérea com o Irã.
A decisão gerou alarme em Kiev. Sistemas de defesa tornaram-se ainda mais essenciais enquanto ataques de mísseis e drones da Rússia aumentaram em frequência e intensidade desde o início do ano. No último final de semana, 477 drones e 60 mísseis foram lançados contra a Ucrânia, o maior ataque aéreo noturno desde o início da guerra, de acordo com a Força Aérea do país. Um relatório das Nações Unidas divulgado na segunda-feira 30 indicou que 986 civis perderam a vida e 4.807 ficaram feridos entre dezembro de 2024 a de maio de 2025 — um aumento de 37% em comparação ao mesmo período do ano anterior.
O Ministério das Relações Exteriores da Ucrânia informou ter convocado o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos, John Ginkel, para uma reunião com a vice-ministra das Relações Exteriores, Mariana Betsa, para discutir a assistência militar americana e a contínua campanha russa de ataques aéreos.
“O lado ucraniano enfatizou que qualquer atraso ou procrastinação no apoio às capacidades de defesa da Ucrânia apenas encorajará o agressor a continuar a guerra e o terror, em vez de buscar a paz”, afirmou o ministério.
A medida dos Estados Unidos interrompe as entregas de sistemas de defesa aérea Patriot, mísseis ar-solo Hellfire, mísseis GMLRS (usados pela pelos foguetes Himars), sistemas portáteis de defesa aérea Stinger e projéteis de artilharia de 155 mm. As armas fazem parte de um pacote de assistência militar de US$ 66 bilhões, aprovado pelo Congresso americano em fevereiro de 2022, durante o governo do ex-presidente Joe Biden. Embora nenhum novo gasto tenha sido autorizado sob o governo Trump, os pacotes de ajuda militar anteriores tinham sido entregues (com exceção de uma breve pausa em março) – até agora.
Estoque baixo
A decisão de suspender o envio de armas à Ucrânia foi tomada discretamente no mês passado, após uma revisão ao longo de junho, pelo chefe de políticas do Pentágono, Elbridge Colby. A vice-secretária de imprensa da Casa Branca, Anna Kelly, declarou que a interrupção serve “para colocar os interesses dos Estados Unidos em primeiro lugar”, mas insistiu que “o poder das nossas Forças Armadas permanece inquestionável – basta perguntar ao Irã.”
O Irã pode, inclusive, ser o motivo do estoque baixo. No final da reunião da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), em Haia, na semana passada, Trump insinuou que os suprimentos dos sistemas Patriot estavam acabando porque alguns haviam sido fornecidos a Israel. Embora tenha afirmado após reunião às margens da cúpula com seu homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, que “vamos ver se conseguimos” disponibilizar os artefatos bélicos para Kiev, fez a ressalva de que “eles são muito difíceis de obter. Estávamos fornecendo (os sistemas Patriot) a Israel”.
A Rússia comemorou a suspensão do envio de armas à Ucrânia, enfatizando, embora sem provas, que ela foi tomada porque os Estados Unidos não tinham armas suficientes.
“Pelo que sabemos, o motivo dessa decisão foram os armazéns vazios e a falta dessas armas nos armazéns. Mas, de qualquer forma, quanto menos armas forem fornecidas à Ucrânia, mais próximo estará o fim da nossa operação militar especial”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a repórteres, usando o apelido do governo russo para a guerra.
Enquanto isso, oficiais da Otan alertaram na semana passada que Moscou está produzindo “um bom número” de mísseis balísticos e havia adquirido alguns da Coreia do Norte. A inteligência militar ucraniana informou em junho que a Rússia fabrica de 60 a 70 mísseis balísticos do modelo Iskander-Ms e de 10 a 15 Kinzhals, mísseis hipersônicos, por mês. Sistemas de defesa aérea levam mais tempo para serem confeccionados do que mísseis.
Aliados europeus da Ucrânia vêm tentando preencher algumas das lacunas deixadas pelos Estados Unidos, mas armas americanas são a nata das munições disponíveis, e algumas são consideradas essenciais para a resistência de Kiev. Enquanto segue numa guerra defensiva contra a Rússia, as negociações de um cessar-fogo entre os dois países, mediadas por Trump, estão paralisadas uma vez que Moscou acredita que está gradualmente vencendo o conflito.