EUA e Rússia negociam trégua que beneficia Putin e impõe perdas à Ucrânia, diz agência
Segundo a Bloomberg, há um risco de que Volodymyr Zelensky seja encurralado com um acordo de "pegar ou largar"

Os Estados Unidos e a Rússia buscam elaborar um acordo de cessar-fogo na guerra da Ucrânia, no qual será estabelecido que territórios ucranianos capturados passarão a fazer parte do mapa russo, afirmou a agência de notícias americana Bloomberg nesta sexta-feira, 8, com base em fontes familiarizadas com o assunto. A informação surge enquanto o presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o seu homólogo americano, Donald Trump, planejam uma reunião para abordar o futuro do conflito já na próxima semana.
Putin demanda que Kiev concorde em ceder as quatro regiões ucranianas anexadas por ele há quase três anos — Donetsk, Lugansk, Zaporizhzhia e Kherson –, além da Crimeia, tomada ilegalmente em 2014. Ele também exige que a Ucrânia adote status de neutralidade, no qual seria impedida a se aliar a outros países, e abandone a pretensão de aderir à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), principal aliança militar ocidental.
A Ucrânia, contudo, não pode constitucionalmente abrir mão de territórios. Além disso, o presidente do país, Volodymyr Zelensky, rejeita qualquer proposta que fira o princípio da soberania. Mas, caso Zelensky aceite o acordo, tropas ucranianas deverão bater em retirada de Luhansk e Donetsk, áreas que nunca foram completamente dominadas pelos russos desde o início da guerra, em fevereiro de 2022.
Segundo a Bloomberg, há um risco de que Zelensky seja encurralado com um acordo de “pegar ou largar”. Com o retorno de Trump à Casa Branca, em 20 de janeiro, o líder ucraniano passou a ser jogado para escanteio nas negociações sobre o fim da guerra. O republicano, ao contrário do ex-presidente Joe Biden, optou por privilegiar discussões com Putin, ainda que a relação dos dois tenha sido marcada por altos e baixos, de admiração a críticas efervescentes.
No tabuleiro bélico, aliados europeus temem que a Ucrânia termine a guerra no prejuízo, sem parte de seu mapa, enquanto Putin ganha tempo e espaço para reconstruir as forças armadas russas. O acordo, disseram autoridades à agência, exigiria que Putin interrompesse a ofensiva nas regiões de Kherson e Zaporizhzhia, bem como em outras linhas de frente do confronto. Mas o plano ainda está em andamento, sendo passível a mudanças. Uma trégua permitiria o avanço das negociações de paz para o fim da guerra, que caminha para o seu quarto ano.
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Negociações de Putin
Enquanto negocia com os americanos, Putin engatou em uma série de ligações a aliados para informá-los sobre a guerra na Ucrânia e a situação com Trump. Na lista de telefonemas, estiveram o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente da China, Xi Jinping. Na quarta-feira, 6, o líder russo se encontrou com o enviado especial dos EUA, Steve Witkoff, em Moscou, onde concordaram com uma bilateral entre Putin e Trump na próxima semana.
Ainda não há informações sobre local e data da reunião. Mas o líder russo tem movimentado o tabuleiro político nos bastidores. Um dia após a conversa com Witkoff, Putin falou com o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que expressou o “total apoio da África do Sul às iniciativas de paz que acabarão com a guerra e contribuirão para uma paz duradoura entre a Rússia e a Ucrânia”. Ele também participou de uma reunião com o presidente dos Emirados Árabes Unidos, Mohammed bin Zayed Al Nahyan.
E ele não parou por aí. No X, antigo Twitter, Modi afirmou que teve “uma conversa muito boa e detalhada” com Putin nesta sexta-feira, 8. No bate-papo, o premiê agradeceu ao “amigo” por “compartilhar os últimos acontecimentos na Ucrânia”. Os dois também reafirmaram o “compromisso de aprofundar ainda mais” a parceria Índia-Rússia, disse Modi, acrescentando: “Aguardo ansiosamente receber o Presidente Putin na Índia ainda este ano.”
Além do indiano, Putin acionou Xi. O líder chinês disse que está satisfeito em acompanhar a melhora dos laços entre Rússia e Estados Unidos para a construção de uma resolução política sobre o conflito na Ucrânia, informou a emissora estatal chinesa CCTV. O futuro das relações entre Putin e Trump é incerto, já que o prazo dado ao republicano para que o russo colocasse fim à guerra expirou nesta sexta-feira. Caso o presidente americano cumpra a promessa, Moscou e aliados serão alvo de novas sanções.
Todos os países em questão são membros do Brics, grupo composto por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Irã e Indonésia. Além deles, Putin abordou os resultados da visita de Witkoff em ligações com o presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, e com os líderes do Cazaquistão e do Uzbequistão. Ou seja, contatou aliados de três ex-nações soviéticas.