EUA e Reino Unido revogarão vistos envolvidos na morte de jornalista
Governos espanhol e britânico ainda estão relutantes em suspender vendas de armas para a Arábia Saudita, apesar da pressão internacional
Os Estados Unidos e o Reino Unido decidiram revogar os vistos de autoridades da Arábia Saudita suspeitas de envolvimento no assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.
Segundo o Departamento de Estado americano, 21 “sauditas suspeitos” terão seus vistos revogados ou serão declarados inelegíveis para entrar no país. O órgão não especificou quem são os afetados.
Em entrevista coletiva em Washington, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, afirmou que o país também avalia a possibilidade de impor sanções às mesmas pessoas.
“Estas penas não serão a última palavra dos EUA neste assunto, continuaremos estudando medidas adicionais para que os responsáveis prestem contas. Estamos deixando muito claro que os Estados Unidos não tolerarão esta impiedosa ação para silenciar o senhor Khashoggi, um jornalista, através da violência”, afirmou.
Pompeo garantiu que os Estados Unidos continuarão com uma “forte parceria” com a Arábia Saudita, mas ressaltou que nem ele, nem o presidente Donald Trump estão “satisfeitos com esta situação”.
O secretário não esclareceu quem são as pessoas que o governo americano identificou como supostos autores do assassinato, porque a informação de vistos é considerada confidencial pelas autoridades migratórias americanas.
Reino Unido
A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, também anunciou a medida ao falar nesta quarta-feira, 24, com deputados no Parlamento.
“O Secretário de Estado para Assuntos Internos está tomando ação contra todos os suspeitos para impedi-los de entrar no Reino Unido, e se esses indivíduos têm visto atualmente, esses vistos serão revogados hoje”, afirmou.
May também condenou mais uma vez o assassinato de Khashoggi e disse que espera informações mais convincentes sobre o episódio. A premiê confirmou que deve falar por telefone com o rei Salman ainda hoje.
Pressionada, porém, ela não falou em cortar a venda de armas aos sauditas, dizendo que elas seguem autorizadas, pelas regras hoje em vigor, embora possam ser revistas mais adiante. “Seguimos as regras mais estritas no mundo em nossas exportações de armas”, argumentou.
Venda de armas
O governo da Espanha também reforçou sua intenção de manter a venda de armas para a Arábia Saudita, apesar dos últimos acontecimentos.
Em discurso no plenário do Congresso dos Deputados, o primeiro-ministro Pedro Sánchez afirmou que o “terrível crime” contra Khashoggi deve ser investigado e que a Justiça deve atuar para que “todo o peso da lei caia” sobre os responsáveis.
No entanto, disse que isso “não pode, nem deve impedir” que ele e seu governo atuem “com responsabilidade” na defesa dos interesses nacionais.
A Espanha enfrenta um dilema: condenar o regime saudita e aderir à suspensão da venda de armas anunciada pela Alemanha, ou manter o contrato para a construção de cinco navios militares para o país árabe.
Esse contrato está a cargo do estaleiro Navantia, de propriedade estatal e situado na baía de Cádiz, no sul do país, uma das regiões com maior nível de desemprego da Espanha. Os trabalhadores e sindicatos da região reivindicam a manutenção do contrato, que está avaliado em 1,8 bilhão de euros e criaria aproximadamente 6 000 empregos.
O caso
Jamal Khashoggi entrou em 2 de outubro no consulado saudita em Istambul para pedir documentos necessários para se casar com sua noiva, cidadã turca. Crítico do regime de seu país, há anos ele vivia nos Estados Unidos, como exilado, onde era colaborador do jornal The Washington Post. Khashoggi não deixou o consulado.
A Arábia Saudita tem se desdobrado para tirar dos ombros do príncipe Salman a responsabilidade por ordenar a morte do jornalista.
Ao anunciar sua versão dos fatos, Riad afirmou primeiro que Khashoggi foi morto em uma briga com oficiais consulares. Alguns dias depois, uma autoridade do governo mudou a versão oficial e disse que o jornalista tinha sido assassinado em uma “operação clandestina” não autorizada pela administração saudita.
A Arábia Saudita também informou sobre a prisão de dezoito suspeitos e a demissão de cinco autoridades, entre as quais, quatro generais.
Ainda assim, muitas potências mundiais têm cobrado Riad por explicações mais razoáveis e mais detalhes sobre o crime.
(Com EFE e Estadão Conteúdo)