EUA e China realizam primeiro diálogo sobre armas nucleares em 5 anos
Pequim deu garantias de que não usaria bombas atômicas contra Taiwan; negociações estavam interrompidas desde o governo Trump
Os Estados Unidos e a China retomaram negociações semioficiais sobre armas nucleares em março, pela primeira vez em cinco anos. As informações são da agência de notícias Reuters, com base no depoimento de dois membros da delegação americana. As conversas fazem parte de um diálogo de duas décadas sobre os arsenais das duas potências, que foi interrompido depois que o governo do ex-presidente americano Donald Trump retirou o financiamento do mecanismo em 2019.
No encontro, a delegação americana levantou preocupações de que a China pudesse usar, ou ameaçar usar, armas nucleares se enfrentasse em um conflito por Taiwan. Segundo os diplomatas, os representantes de Pequim garantiram que não recorreriam a ameaças atômicas contra a ilha democrática que o governo chinês considera parte de seu território.
Os participantes das negociações “Track Two” são geralmente antigos funcionários do governo e acadêmicos, que podem falar com autoridade sobre a posição do seu governo, mesmo sem envolvimento direto na tomada de decisões. As negociações entre governos são conhecidas como “Track One”.
Washington foi representado por cerca de seis delegados, incluindo ex-funcionários do governo e acadêmicos, nas discussões de dois dias, que aconteceram em um hotel em Xangai. Pequim enviou uma missão de acadêmicos e analistas, incluindo vários antigos oficiais do Exército de Libertação Popular.
Um porta-voz do Departamento de Estado americano disse à Reuters que as negociações Track Two poderiam ser “benéficas”. O governo não participou da reunião de março, embora tivesse conhecimento do arranjo. No entanto, o porta-voz disse que as conversas semiformais não podem substituir as formais.
As discussões entre as duas potências nucleares ocorreram enquanto os Estados Unidos e a China continuam em desacordo sobre importantes questões econômicas e geopolíticas. Os líderes de ambos os lados trocam acusações sobre má-fé durante quaisquer negociações.
Os dois países retomaram brevemente as conversas Track One (entre governos) sobre armas nucleares em novembro passado, mas desde então o processo estagnou. Um alto funcionário da Casa Branca chegou a expressar publicamente sua frustração com a incapacidade de resposta da China.
O Pentágono, que estima que o arsenal atômico de Pequim aumentou mais de 20% entre 2021 e 2023, disse em outubro que o governo chinês “também consideraria o uso de armas nucleares para restaurar seu poder de dissuasão se sofresse uma derrota militar convencional em Taiwan”.
A China nunca renunciou ao uso da força para tomar a pequena ilha vizinha e, nos últimos quatro anos, intensificou a atividade militar na divisa semioficial entre os dois territórios.