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EUA defendem eleições antecipadas como solução para crise na Nicarágua

Quase 200 pessoas já morreram em onda de protestos contra o governo de Daniel Ortega

Por Da Redação
19 jun 2018, 12h32

O governo dos Estados Unidos defendeu na segunda-feira (18) que a convocação de eleições antecipadas na Nicarágua pode representar “um caminho construtivo” para superar a crise sociopolítica que já deixou quase 200 mortos no país centro-americano.

“Observamos o clamor generalizado entre os nicaraguenses por eleições antecipadas. Os Estados Unidos acreditam que as eleições antecipadas representam um caminho construtivo”, disse a porta-voz do Departamento de Estado, Heather Nauert, em comunicado.

Além da defesa de pleitos, os Estados Unidos solicitaram ao governo de Daniel Ortega o “pleno cumprimento” do acordo alcançado na semana passada com a oposição para convidar comissões da Organização dos Estados Americanos (OEA), da ONU e da União Europeia (UE).

“Os Estados Unidos sabem que o governo da Nicarágua aceitou outra visita da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), e recomenda que comece imediatamente”, disse Nauert.

A porta-voz da diplomacia exterior americana aproveitou seu pronunciamento para voltar a condenar a violência “patrocinada pelo governo” na Nicarágua, especialmente um incêndio de uma casa que também funcionava como loja na qual no último sábado morreram seis pessoas na capital Manágua. “Os ataques e as ameaças contra manifestantes pacíficos e a população em geral são inaceitáveis, e devem cessar”, destacou Nauert.

A Conferência Episcopal da Nicarágua já propôs no início do mês a Ortega a antecipação das eleições gerais para 29 de março de 2019, sem que nelas seja possível sua reeleição, a fim de superar a crise que assola o país. Por sua parte, o secretário-geral da OEA, Luis Almagro, também defendeu em maio que a solução para a crise no país centro-americano “deve ser eleitoral”.

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Diálogos suspensos

Apesar da promessa em receber os organismos internacionais, a ausência de convites por parte do governo até o momento levou a suspensão dos diálogos de paz. A Conferência Episcopal (CEN), que conduzia as conversações, vinculou o prosseguimento dos diálogos à participação desses organismos.

A sessão plenária do diálogo prevista para esta terça-feira (19) está adiada até o “envio urgente” do convite aos organismos internacionais de direitos humanos, como ficou acertado na sexta-feira passada. “Quando o governo nos enviar a cópia dos convites e os organismos internacionais nos transmitirem sua recepção” convocaremos a retomada das mesas de trabalho e a sessão plenária do diálogo, destacou a CEN.

A Aliança Cívica pela Justiça e a Democracia já havia abandonado as mesas de trabalho na segunda-feira (18), após acusar o governo de ignorar o acordo para convidar os organismos para as investigações sobre a repressão violenta aos protestos.

O diálogo acontecia no seminário de Nossa Senhora de Fátima, em Manágua, e nesta segunda-feira ocorria após a morte de seis membros de uma família em ataque atribuído a paramilitares ligados ao governo do presidente Daniel Ortega.

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O líder estudantil Lesther Alemán revelou que durante mais de uma hora se pediu ao governo a cópia do convite que deveria enviar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), ao Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos e à União Europeia (UE), e “como não a apresentaram, nos levantamos” da mesa.

O chanceler Denis Moncada, chefe da delegação oficial, justificou a ausência do convite aos organismos internacionais por razões “burocráticas”, revelou o acadêmico Carlos Tünnerman, delegado da sociedade civil no diálogo.

“Vá a seu gabinete, redija as cartas, mande os convites e traga as cópias para o plenário do diálogo nesta terça-feira”, disse Tünnerman a Moncada, horas antes da decisão dos bispos de suspender o diálogo.

O governo emitiu uma declaração na qual negou a repressão aos protestos e manifestou sua “gravíssima preocupação pela trágica escalada da violência”.

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Na declaração, afirma que propôs à oposição “trabalhar para se alcançar acordos verificáveis de segurança, paz e reconciliação nos municípios e departamentos da Nicarágua”, mas não citou a questão do convite aos organismos internacionais dos direitos humanos.

Para segunda-feira, estava prevista a discussão do levantamento dos bloqueios às estradas, a antecipação das eleições para março e a reformulação do Poder Judiciário.

Tünnerman destacou que o governo não cumpre com o acertado no diálogo porque se comprometeu a aplicar 15 recomendações da CIDH, incluindo o fim da repressão e o desarmamento dos grupos civis armados e “não fez nada”.

“Precisamos que estes organismos estejam no país como garantia” ao que foi acertado e que a violência contra a população se encerre, disse a dirigente do Movimento de Mulheres, Azhalia Solís.

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O Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad Al Hussein, condenou durante na sessão do Conselho de Direitos Humanos em Genebra a violência na Nicarágua e pediu ao governo que cumpra os compromissos firmados na sexta-feira.

A Nicarágua atravessa uma crise sociopolítica, que teve como estopim as manifestações contra a reforma na Previdência emitida pelo presidente em abril. A reforma propunha uma redução em 5% na aposentadoria dos nicaraguenses e aumentava o tempo de contribuição das empresas e trabalhadores. Após uma série de protestos que deixou centenas de mortos, o próprio presidente admitiu que a mudança era inviável.

(Com EFE e AFP)

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