EUA anunciam nova política de visto que tem como alvo estrangeiros que ‘censuram’ americanos
Decisão ocorre um dia após governo Trump ordenar que embaixadas dos Estados Unidos suspendam entrevistas para visto de estudante

O governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quarta-feira, 28, uma nova política de restrição de vistos que visa impedir a entrada de estrangeiros que “censuram” americanos. A decisão foi comunicada pelo secretário de Estado, Marco Rubio, apenas um dia após a administração ordenar que embaixadas dos EUA suspendam entrevistas para vistos de estudante.
“Por muito tempo, americanos foram multados, assediados e até mesmo acusados por autoridades estrangeiras por exercerem seus direitos de liberdade de expressão. Hoje, anuncio uma nova política de restrição de vistos que se aplicará a autoridades estrangeiras e pessoas cúmplices na censura de americanos”, escreveu Rubio no X, antigo Twitter.
“A liberdade de expressão é essencial ao estilo de vida americano – um direito inato sobre o qual governos estrangeiros não têm autoridade”, acrescentou ele. “Estrangeiros que trabalham para minar os direitos dos americanos não devem ter o privilégio de viajar para o nosso país. Seja na América Latina, na Europa ou em qualquer outro lugar, os dias de tratamento passivo para aqueles que trabalham para minar os direitos dos americanos acabaram.”
+ Governo Trump ordena que embaixadas dos EUA suspendam entrevistas para visto de estudante
Cerco a alunos internacionais
O governo Trump ordenou nesta terça-feira, 27, que embaixadas americanas mundo afora suspendam o agendamento de entrevistas de visto para estudantes estrangeiros. A decisão ocorre em meio à queda de braço do republicano com a Universidade Harvard, que foi proibida a princípio de matricular alunos internacionais por supostamente acobertar casos de antissemitismo e fomentar discriminação racial. O bloqueio a Harvard, no entanto, foi revertido temporariamente pela Justiça dos EUA.
Em novo cerco, o telegrama do Departamento de Estado instruiu nesta terça-feira as seções consulares a interromperem a adição de “qualquer capacidade adicional de agendamento de visto de estudante ou visitante de intercâmbio (F, M e J) até que novas orientações sejam emitidas” em alguns dias. A diretriz pode atrasar o processamento da documentação e prejudicar universidades do país, muitas delas acusadas pelo governo Trump de serem “woke” (termo relacionado à ideologia progressista).
“O departamento está realizando uma revisão das operações e processos existentes para triagem e seleção de candidatos a vistos de estudante e de visitante de intercâmbio”, disse o telegrama, acrescentando que novas orientações incluirão a “ampliação da seleção de mídias sociais para todos esses candidatos.”
A ordem demonstra o endurecimento do processo de triagem dos EUA, que passou a analisar a partir de março se estudantes participaram de protestos pró-Palestina em campi universitários. Os agentes passaram a ser obrigados a verificar as redes sociais dos aplicantes de visto em busca de “atividades terroristas ou a uma organização terrorista”, revelou um telegrama obtido pelo jornal britânico The Guardian na época.
Os funcionários consulares devem tirar capturas de tela de qualquer conteúdo “potencialmente depreciativo” para registros permanentes, ainda que a postagem tenha sido apagada. Há mais de um milhão de estudantes estrangeiros nos Estados Unidos, que contribuíram com quase US$ 43,8 bilhões (mais de R$ 247 bilhões na cotação atual) para a economia americana e geraram mais de 378 mil empregos entre 2023 e 2024, de acordo com dados da Associação de Educadores Internacionais (NAFSA, na sigla em inglês).