‘Espero que armas nucleares não sejam necessárias’, diz Putin sobre Ucrânia
Presidente russo volta a falar do tema em vídeo ultranacionalista que marca 25 anos de seu governo

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou em um vídeo divulgado no domingo 4 que seu país tem força e recursos suficientes para vencer a guerra na Ucrânia, mas afirmou esperar que não haja “necessidade” de usar armas nucleares. As declarações foram feitas em um filme da TV estatal sobre seus anos no poder, intitulado “Rússia, Kremlin, Putin, 25 anos”.
No clipe, ao ser questionado por um repórter sobre o risco de uma escalada nuclear na guerra da Ucrânia, Putin coloca a culpa no inimigo.
“Eles queriam nos provocar para que cometêssemos erros”, disse ele, numa cena ao lado de um retrato do Czar Alexandre III, um conservador do século XIX que reprimia dissidências. “Não houve necessidade de usar essas armas… e espero que não sejam necessárias.”
“Temos força e meios suficientes para levar o que foi iniciado em 2022 a uma conclusão lógica, com o resultado que a Rússia exige”, completou.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que no afã de tornar-se conhecido como um “pacificador” tem tentado mediar um acordo de paz entre Kiev e Moscou, já alertou que o conflito poderia evoluir para a Terceira Guerra Mundial. O ex-diretor da CIA, William Burns, afirmou que havia um risco real de que a Rússia usasse armas nucleares contra a Ucrânia no final de 2022, uma afirmação rejeitada pelo Kremlin.
Putin ordenou o envio de milhares de soldados russos à Ucrânia em fevereiro de 2022, desencadeando o maior conflito terrestre da Europa desde a II Guerra Mundial e o maior confronto entre Moscou e o Ocidente desde a Guerra Fria. Trump, que caracteriza a guerra como um “banho de sangue”, vem sinalizando há semanas que está frustrado com a lentidão das negociações.
Putin no poder
Putin, ex-tenente-coronel da KGB que substituiu um Boris Yeltsin enfermo na Presidência em 1999, é o líder mais longevo do Kremlin desde Josef Stalin, que governou a União Soviética por 29 anos até sua morte, em 1953.
Dissidentes russos – a maioria agora na prisão ou no exterior – veem Putin como um ditador que construiu um sistema frágil de governo pessoal, baseado em bajulação e corrupção. Seus apoiadores, por sua vez, o retratam como um salvador que bateu de frente com a arrogância do Ocidente e pôs fim ao caos que acompanhou a desintegração da União Soviética em 1991. Pesquisas russas sugerem que ele tem índice de aprovação acima de 85%, embora não seja possível verificar o dado de forma independente.
O filme cuidadosamente coreografado para a TV estatal, que mostrou os bastidores da vida reservada do presidente russo (uma raridade), incluiu uma cena em que Putin oferece chocolates e uma bebida russa de leite fermentado a Pavel Zarubin, um importante correspondente do Kremlin, em sua cozinha particular. Também mostrou cenas que inspiram nacionalismo: o líder do país disse que se ajoelhou para rezar pela primeira vez durante a crise do teatro Nord-Ost de Moscou em 2002, quando militantes chechenos fizeram mais de 900 reféns e mataram mais de 130.
“Não me sinto como um político”, disse Putin sobre seus 25 anos no poder como presidente e primeiro-ministro. “Continuo respirando o mesmo ar que milhões de cidadãos russos. É muito importante. Se Deus quiser, que continue o máximo possível.”