‘Entrou papa e saiu cardeal’: por que Pietro Parolin não foi escolhido no conclave
Considerado um dos favoritos antes da votação, o cardeal italiano recebeu críticas sobre seu envolvimento no acordo entre o Vaticano e a China

Considerado o favorito nas semanas que antecederam o conclave que elegeu o papa Leão XIV, o cardeal italiano Pietro Parolin acabou deixando a Capela Sistina como entrou: cardeal. A escolha de Robert Francis Prevost como o novo líder da Igreja Católica surpreendeu boa parte da opinião pública, mas entre a cúpula da Cúria Romana, o movimento a favor do americano já vinha ganhando força discretamente.
Parolin entrou no conclave em uma posição delicada, com rumores circulando sobre sua saúde estar frágil — ele teria passado mal por conta de pressão alta, apesar do Vaticano ter negado tal boato. Além disso, pesaram contra ele denúncias de fragilidade política, após o italiano esperar até a última hora para apresentar documentos que sustentavam o veto à participação do cardeal Angelo Becciu no conclave (ele perdeu os direitos de voto a mando de Francisco, uma vez que o religioso foi condenado em um caso de corrupção).
Mas foi a dura intervenção do influente e conservador cardeal Raymond Burke, na reta final das congregações, que pode ter posto fim em suas chances de se tornar papa.
Burke criticou a falta de transparência no acordo entre o Vaticano e a China para a nomeação de bispos, negociado diretamente por Parolin em 2018. Antes do acordo histórico, os dois Estados não tinham relações diplomáticas desde 1951 devido a excomunhões por parte de Pio XII de dois bispos designados por Pequim.
+ Por dentro do conclave: como cardeal Robert Prevost foi eleito papa Leão XIV
Depois da declaração de Burke, o apoio ao cardeal italiano começou a diminuir. Sua falta de experiência pastoral, já apontada como um problema, também ganhou mais peso – ele tinha muita prática em navegar as burocracias da Cúria Romana, mas já fazia tempo que estava afastado do rebanho. Prevost, agora Leão XIV, foi visto como o melhor dois dois mundos: até 2023, era arcebispo de Chiclayo, no Peru, e passou os últimos dois anos aprendendo sobre as engrenagens do Vaticano como chefe do importantíssimo Dicastério dos Bispos, que analisa as indicações de bispos no mundo todo.
Quando Parolin percebeu que não conseguiria alcançar os dois terços dos 133 votos necessários para ser escolhido como papa, decidiu apoiar Prevost, segundo vaticanistas e cardeais que falaram à mídia sob condição de anonimato, sem revelar mais detalhes.
A reviravolta contra Parolin contribuiu para que o conclave de 2025 fosse o mais rápido dos últimos 86 anos, empatado com o de 1978. Também reforçou o popular ditado romano: “Quem entra como papa, sai como cardeal”.