Entre gafes e crises: o giro de Trump pela Ásia
Da queda do primeiro-ministro japonês a uma tensão diplomática em um jantar, viagem do americano pelo continente é marcada por acontecimentos inesperados
A agenda de Donald Trump em seu primeiro giro oficial pela Ásia foi marcada por conversas centradas em assuntos econômicos e sobre a crise com a Coreia do Norte. Contudo, a viagem do chefe da Casa Branca não se resumiu apenas a reuniões políticas com os mandatários de Coreia do Sul, Japão e China, além de uma participação do Fórum de Cooperação Ásia-Pacífico (Apec). Para além dos encontros formais, o presidente americano pôde curtir momentos mais descontraídos, que resultaram em episódios curiosos, gafes e até mesmo uma pequena crise diplomática entre seus anfitriões.
Carpas da discórdia
Como parte do ritual de boas-vindas à visita de Trump ao palácio de Akasaka, o presidente americano foi convidado por seu par japonês, Shinzo Abe, a alimentar as carpas do local. Munido de uma caixa de madeira com ração, Trump atirou, com o auxílio de uma colher, pequenas doses, mas, pouco depois, despejou de uma vez, sem nenhuma cerimônia, todo o alimento em um único ponto. A atitude atraiu crítica nas redes sociais – carpas, informa o jornal britânico The Independent, podem ficar doentes e até morrer com o excesso de comida.
A queda de Abe
A viagem de Trump ao Japão também foi pontuada por uma partida de golfe com o presidente Abe. O que mais chamou a atenção no jogo, contudo, não foram as habilidades do chefe da Casa Branca no esporte. A rede local TV Tokyo registrou o momento em que, após uma tacada em um banco de areia, Abe tropeçou ao tentar voltar ao campo e caiu, quase dando uma cambalhota para trás. Aparentemente, Trump sequer se deu conta do incidente. Ao que tudo indica, felizmente o mandatário japonês, de 63 anos, não se feriu no incidente.
Hambúrguer no Japão
Sushi, sashimi, lamen? Esqueça as iguarias tradicionais japonesas. Depois de jogar golfe com Shinzo Abe, o almoço do chefe da Casa Branca foi o prato mais americano possível: hambúrguer. O chefe responsável pelo cardápio, Yutaka Yanagisawa, é dono do restaurante Munch’s Burger Shack, especializado no sanduíche, e tornou-se uma celebridade após a mídia local revelar que sua receita de cheeseburguer foi provada por Trump. De acordo com a rede americana Fox News, a carne usada para o preparo do prato era americana, assim como a mostarda e o ketchup que acompanharam o lanche – tudo condizente com a política ‘American First’ (América Primeiro) que vem guiando as relações diplomáticas e econômicas de Washington.
Jantar indigesto
O banquete oferecido a Trump pelo governo da Coreia do Sul, segundo país do giro asiático, acabou provocando uma pequena crise diplomática com o Japão. Isso porque no menu servido ao presidente americano constavam camarões pescados próximo a ilhas cuja soberania são disputadas entre Seul e Tóquio. Outro momento indigesto no jantar foi a presença de Lee Yong-soo, uma senhora de 88 anos forçada a trabalhar em bordeis militares japoneses durante a II Guerra Mundial. “No momento, quando uma forte coordenação é necessária para lidar com a questão da Coreia do Norte, há a necessidade de evitar ações que possam afetar negativamente essa articulação”, disse o porta-voz do governo japonês, Yoshihide Suga, sobre os episódios, informa o jornal The Guardian.
Twitter na China
Trump usou seu Twitter para agradecer pelo passeio “inesquecível” pela Cidade Proibida, em Pequim, terceira capital visitada na viagem. A mensagem não passou despercebida – menos por conta de seu conteúdo e mais pela ferramenta pela qual foi expressada. O Twitter, afinal, é proibido na China. A porta-voz do ministério de Relações Exteriores do país, Hua Chunying, ao ser perguntada se considerava o uso da rede social pelo presidente americano uma violação das leis locais, desconversou, e disse apenas que “existem muitos meios de comunicação com o exterior”. Dias antes, no entanto, o vice-ministro de Exteriores Zheng Zeguang, havia indicado que Trump poderia acessar sua rede social sem problemas durante a visita oficial. “Não devem se preocupar com as comunicações do presidente Trump com o resto do mundo”, afirmou na semana passada, em declarações a um grupo de jornalistas.
Mandarim de Arabella
Durante um chá acompanhado de Xi Jinping e sua esposa, Peng Liyuan, após um passeio pela Cidade Proibida, em Pequim, Trump fez uma surpresa ao presidente chinês. O chefe da Casa Branca sacou um tablet e exibiu um vídeo no qual Arabella Kushner, sua neta de seis anos, cantou uma música e declamou poesias chinesas para o casal. Detalhe: tudo em mandarim. A pequena Arabella, segundo informa a revista Newsweek, estuda o idioma desde os três anos, e já havia apresentado publicamente suas habilidades linguísticas em fevereiro, quando a mãe, Ivanka, divulgou uma gravação da menina cantando. O vídeo viralizou na China, e, na ocasião, muitos usuários das redes sociais comentaram preferir a garota ao seu avô.
Encontros e desencontros
Tudo indicava que Trump e o presidente russo Vladimir Putin teriam um encontro oficial durante o Fórum de Cooperação Ásia-Pacífico no Vietnã. O chefe da Casa Branca havia manifestado o desejo de conversar com seu colega russo sobre a crise com a Coreia do Norte. O Kremlin chegou a dar como certa a reunião, antes de voltar atrás e dizer que se tratava apenas de uma possibilidade. Por sua vez, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, disse que nenhuma decisão havia sido tomada sobre conversas formais. Os desencontros diplomáticos, por fim, resultaram apenas em um aperto de mão e uma rápida troca de palavras publicamente entre os dois líderes durante o jantar de gala da cúpula. Eventos passados, contudo, sinalizam que um encontro secreto não pode ser descartado.