Netanyahu se reuniu em segredo com Bin Salman, diz imprensa israelense
Primeiro-ministro e príncipe herdeiro saudita teriam discutido normalização de relações entre países, mas nenhum acordo foi fechado
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, viajou em segredo no domingo 22 à Arábia Saudita, onde se reuniu com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, e, pela primeira vez, com o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, segundo a emissora israelense Kan.
De acordo com a rede, que cita funcionários do governo israelense, que falaram sob anonimato, Netanyahu viajou acompanhado de Yossi Coheh, diretor do Mossad, o serviço de inteligência de Israel, em um avião emprestado por um empresário. Outros veículos da imprensa do país, como o Jerusalem Post e o jornal Haaretz também confirmaram a visita, que durou apenas algumas horas.
O gabinete de Netanyahu ainda não se manifestou, enquanto o governo saudita nega que o primeiro-ministro israelense tenha participado da reunião com Pompeo e com o príncipe herdeiro, conhecido pela sigla MBS.
“Essa reunião não ocorreu”, disse no Twitter o ministro das Relações Exteriores da Arábia Saudita, o principe Faisal bin Farhan. “Os únicos oficiais presentes eram americanos e sauditas”, afirmou.
Segundo o The Wall Street Journal, que citou fontes do governo da Arábia Saudita, Netanyahu e MBS discutiram sobre o Irã e a normalização de relações diplomáticas. No entanto, o encontro saiu infrutífero e nenhum acordo foi assinado.
Incentivados pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Bahrein e Emirados Árabes Unidos já assinaram os Acordos de Abraão com o objetivo de estabelecer estabelecer relações diplomáticas com Israel. Segundo a Casa Branca, mais países árabes estariam no acordo. Em agosto, Netanyahu chegou a anunciar que Israel mantém conversas secretas com múltiplos Estados árabes.
A Arábia Saudita, por enquanto, segue a posição da Liga Árabe de não estabelecer vínculos com Israel até uma solução para o conflito com os palestinos envolvendo as fronteiras de 1967, além de assentamentos israelenses fora de seu território, vistos como ilegais por grande parte da comunidade internacional.
Um dos requisitos para os dois países do golfo assinassem o acordo foi o descarte por parte de Tel Aviv do Plano do Século de Trump, elaborado sem a presença palestina e que estabeleceria um estado para o povo árabe sem direito a demandas históricas.
Agora, analistas israelenses questionam se durante um governo do presidente eleito dos EUA, o democrata Joe Biden, novos acordos continuarão sendo anunciados, com foco especial na Arábia Saudita.
A administração Trump não deu grande importância aos direitos humanos em sua diplomacia internacional e sempre demonstrou cautela no momento de criticar a situação na Arábia Saudita, em particular após o assassinato por agentes sauditas do jornalista Jamal Khashoggi, um crítico das autoridades do reino.
Muitos analistas acreditam que a administração Biden, que receberá muitas pressões, em especial da ala mais progressista do Partido Democrata, se veria em uma situação incômoda se estimulasse um pacto israelense-saudita sem uma reforma dos direitos humanos no país.