Em meio a tensões, Xi Jinping inicia 1ª viagem à Europa em 5 anos
O líder chinês chegou nesta terça a Paris, onde deve ser pressionado sobre a guerra na Ucrânia e os subsídios do seu governo a empresas de carros elétricos
O presidente chinês, Xi Jinping, desembarcou na França nesta segunda-feira, 6, dando início a sua primeira viagem à Europa em cinco anos. Temas como a guerra na Ucrânia e subsídios chineses a fabricantes de veículos elétricos devem ser foco das discussões com o bloco europeu.
Para analistas, a viagem tem como objetivo reparar as relações na Europa, prejudicadas pelo apoio da China à guerra da Rússia contra a Ucrânia. Isso envolve diretamente a agenda de segurança econômica da União Europeia em relação a Pequim, incluindo sua busca por independência das cadeias de produção chinesas. Durante a visita, Xi deve destacar os fortes laços com os seus principais parceiros europeus, Sérvia e Hungria.
Na semana passada, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Lin Jian, afirmou que Pequim estava pronta para “trabalhar com a França e a União Europeia para aproveitar esta reunião como uma oportunidade para tornar as relações mais estratégicas e estáveis”. Além da França, Xi visitará a Hungria e a Sérvia.
França
Em Paris, Xi se encontrará com o presidente francês, Emmanuel Macron, e a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, no ano que marca os 60 anos das relações diplomáticas entre Pequim e Paris. O governo francês afirmou que as guerras na Ucrânia e em Gaza terão destaque nas discussões com a China, que manteve neutralidade e não condenou a Rússia por seu ataque a Kiev.
“Os intercâmbios serão centrados nas crises internacionais, principalmente na guerra na Ucrânia e na situação no Oriente Médio”, afirmou o Palácio do Eliseu em comunicado, se referindo à visita do presidente chinês.
Desde o início da guerra na Ucrânia, Pequim e Moscou estreitaram suas relações e Macron pretende persuadir o presidente chinês a se posicionar em relação à guerra e se envolver nos esforços pela paz na região. O presidente francês está cada vez mais firme em sua oposição à Rússia e chegou a sugerir que estaria disposto a enviar soldados para defender Kiev.
“Devemos continuar tentando envolver a China, que é objetivamente o ator internacional com maior influência sobre Moscou”, disse uma fonte diplomática ao jornal francês Le Monde.
Os subsídios fornecidos pela China aos fabricantes de veículos elétricos nacionais também são fonte de preocupação para a Europa, que pretende abordar o assunto com Xi. Em setembro do ano passado, a Comissão Europeia iniciou uma investigação sobre os benefícios estatais concedidos a empresas chinesas, que dificultam o avanço de negócios internacionais devido à concorrência supostamente injusta.
Em entrevista à revista britânica The Economist na semana passada, Macron afirmou que conversaria com Xi sobre a importância da Europa proteger seus próprios fabricantes e indústrias.
Depois do encontro em Paris, Xi e sua esposa, Peng Liyuan, seguirão para a cordilheira dos Pireneus à passeio na terça-feira, 7, na companhia do presidente francês e sua mulher, Brigitte. Os casais devem andar no teleférico até o Pic du Midi, um observatório a 2.877 metros de altitude.
Sérvia e Hungria
Depois de sua passagem pela França, Xi viajará para a Sérvia e a Hungria, países que mantêm laços estreitos com a Rússia mesmo após a guerra na Ucrânia.
Xi desembarcará em Belgrado para um encontro com o presidente sérvio, Aleksandar Vucic, no 25º aniversário do bombardeio da Otan à Embaixada da China no país, que deixou três pessoas mortas. Washington afirma que o ataque foi, na verdade, um acidente.
Desde o bombardeio, a China aumentou significantemente seus investimentos na Sérvia, que não é membro da União Europeia, e mantém uma relação firme com a nação do Leste Europeu.
Na quarta-feira, 8, o presidente chinês viajará para Budapeste, onde encontrará o presidente húngaro, Viktor Orban. Os dois devem discutir os progressos da construção da ferrovia de alta velocidade entre Budapeste e Belgrado.
A Hungria assinou recentemente um acordo de cooperação em segurança com a China, que permite que policiais chineses trabalhem em áreas do país onde há grande presença de população chinesa, ou regiões populares entre os chineses. O presidente húngaro é um dos maiores apoiadores da Rússia na União Europeia e os laços entre os dois países preocupam o bloco.
Crimes contra a humanidade
Diversos ativistas das regiões do Tibete, região autônoma da China, e de Xinjiang, onde suspeita-se que o governo de Xi tenha cometido crimes contra a humanidade por prender cerca de 1 milhão de muçulmanos da etnia uigur em “campos de reeducação”, iniciaram protestos para atrair a atenção da União Europeia durante a viagem de Xi.
A Human Rights Watch exigiu que Macron aborde a questão e peça a libertação das pessoas que foram presas injustamente em Xinjiang, além de questionar o presidente chinês sobre as cerca de 1 milhão de crianças tibetanas que estão sendo afastadas de sua língua e cultura e colocadas em internatos.
“O presidente Macron deveria deixar claro a Xi Jinping que os crimes de Pequim contra a humanidade têm consequências para as relações da China com a França”, disse Maya Wang, diretora interina da China da Human Rights Watch. “O silêncio e a inação da França em matéria de direitos humanos apenas encorajam o sentimento de impunidade do governo chinês pelos seus abusos, alimentando ainda mais a repressão.”