Após sucessivas renúncias de membros de seu gabinete como resultado da grande explosão na semana passada no porto de Beirute, o primeiro-ministro do Líbano, Hassan Diab, anunciou nesta segunda-feira, 10, sua renúncia, junto com o restante de seu gabinete. O premiê estava no cargo há sete meses.
O chefe do governo, que se apresenta como independente, responsabilizou a classe política tradicional por seus fracassos, criticando a “corrupção” que levou a “este terremoto que atingiu o país”.
“Hoje seguimos a vontade do povo em sua demanda por culpar os responsáveis pelo desastre que estava pronto para acontecer há sete nos, e o desejo por mudança real”, disse em um discurso televisionado à nação. “Em face desta realidade, estou anunciando hoje a renúncia deste governo”.
Antes do discurso, Diab se reuniu com sua equipe ministerial na sede do governo. De acordo com fontes, os ministros já tinham a intenção de renunciar. A troca de primeiro-ministro é a terceira em menos de um ano.
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Clique e AssineA explosão em 4 de agosto de mais de 2.000 toneladas de nitrato de amônio matou ao menos 163 pessoas, deixou mais de 6.000 feridas e destruiu parte da capital. Os danos gerados pela detonação são estimados entre 10 e 15 bilhões de dólares e em torno de 300.000 pessoas ficaram desabrigadas. Segundo Diab, a explosão foi “resultado de corrupção endêmica”.
A classe política do país, responsabilizada pela explosão e acusada de negligência, já havia se enfraquecido nos últimos dias. Três ministros já haviam renunciado em meio aos protestos que tomaram conta da capital, sendo eles: a ministra da Justiça, Marie-Claude Najm, a ministra da Informação, Manal Abdel Samad, e o ministro do Meio Ambiente, Damianos Kattar.
De acordo com a Constituição libanesa, o governo cai se mais de um terço de seus membros renunciar, abrindo espaço para uma reestruturação completa do governo.
Durante manifestações no final de semana, reprimidas pelas forças de segurança, os manifestantes pediram “vingança” contra a classe política totalmente desacreditada após a tragédia em um país já atingido por uma crise econômica sem precedentes agravada pela epidemia de Covid-19. Eleições antecipadas não são uma das principais reivindicações das ruas, já que o Parlamento é controlado por forças tradicionais que elaboraram uma lei eleitoral cuidadosamente calibrada para servir aos seus interesses.
“Todos significa todos”, proclamaram nos últimos dois dias os manifestantes, apelando à saída de todos os dirigentes. Efígies de muitos deles, incluindo de Michel Aoun e Hassan Nasrallah, líder do Hezbollah, foram penduradas em forcas durante os protestos.
Embora a renúncia de Diab tenha parecido inevitável após a explosão, ele parecia pouco disposto a deixar o cargo. Há dois dias, o premiê fez um discurso televisionado no qual afirmou que ficaria dois meses no cargo para permitir que todos os grupos chegassem a um consenso sobre um plano para reformas.
Em encontro virtual com autoridades dos Estados-membros, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, destacou nesta segunda-feira a importância de uma “investigação credível e transparente para determinar a causa da explosão e para a responsabilização exigida pelo povo libanês”.
“Também é importante que reformas sejam implementadas para responder às necessidades do povo libanês dentro do longo prazo”, disse.
(Com Reuters e AFP)