Namorados: Assine Digital Completo por 1,99

Em grave crise, Cuba inicia reforma para abrir economia

Depois de 26 anos do sistema de duas moedas, o peso cubano prevalecerá sobre o CUC a partir do 1º de janeiro; governo também reduzirá subsídios

Por Da Redação
Atualizado em 4 jun 2024, 13h48 - Publicado em 14 dez 2020, 15h56

Na última sexta-feira 11, Cuba bateu o martelo a respeito da reestruturação econômica esperada há anos. A partir do dia 1º de janeiro de 2021, os salários mínimos vão quintuplicar, de 400 para 2.100 pesos cubanos (de 17 para 87 dólares) e o sistema de duas moedas que vigora na ilha será unificado, informou o presidente Miguel Díaz-Canel.

Depois de 26 anos, o peso cubano será a única moeda a circular, com uma taxa de câmbio oficial de 24 pesos por dólar, e o peso conversível cubano (o CUC) vai desaparecer. Díaz-Canel, contudo, não deu mais detalhes de como o processo será realizado, enquanto Raúl Castro, o primeiro secretário do Partido Comunista, não fez comentários.

Atualmente, os salários do Estado e serviços são pagos em pesos cubanos, equivalentes a 24 dólares. Enquanto isso, o CUC mantém uma paridade fictícia com o dólar para empresas estatais e o orçamento do governo. A reforma vai retirar o privilégio das empresas, cujo valor de câmbio será o mesmo que o da população.

A unificação monetária já havia sido aprovada pelo Partido Comunista em 2013, no âmbito de um complexo processo de fortes correções e uma reabertura na economia. Para economistas, a moeda dupla prejudicou a contabilidade das estatais, colocando muitas em risco de falência com a unificação.

Díaz-Canel fez a ressalva de que a medida “não é uma solução mágica” para os problemas da ilha e alertou que “não está isenta de riscos”, podendo gerar inflação e especulação de preços, mas permitiria ao país avançar.

Salários

A população terá até 180 dias para trocar seus CUCs nos bancos e casas de câmbio do país e as estatais podem receber empréstimos temporários para mitigar o efeito da eliminação da moeda dupla. Além disso, a reforma econômica vai aumentar salários em 525%, criando 32 escalas segundo o tipo de trabalho (a maior remuneração será de 9.510 pesos cubanos, ou 396 dólares).

Continua após a publicidade

“Faz-se necessário estabelecer um salário mínimo no país que garanta a satisfação das necessidades básicas do trabalhador e de sua família, assim como a tabela de tarifas salariais aplicável a todos os trabalhadores”, diz uma resolução do Ministério do Trabalho, publicada no Diário Oficial de Cuba.

Um jornalista passará a ganhar 3.610 pesos por mês, menos do que um professor de Ensino Fundamental, que ganhará 4.010 pesos cubanos. Médicos especialistas receberão 5.560 pesos, enquanto dirigentes de empresas estatais e do governamental serão remunerados com o teto de até 9.510 pesos.

Contudo, também vão subir os preços dos alimentos, medicamentos, serviços públicos e outros serviços, podendo levar a uma queda ainda maior no poder de compra dos cubanos.

Segundo o jornal americano Miami Herald, o valor dos alimentos e serviços básicos deverá equivaler a cerca de 1.500 pesos, mais ou menos o mesmo valor da aposentadoria mínima do Estado, o que atingirá a população idosa com força. Medicamentos também podem tornar-se inacessíveis: três comprimidos de antibiótico custarão 150 pesos, enquanto um frasco de 50 comprimidos de anti-inflamatório custará 137 pesos.

Continua após a publicidade

Uma lista de medicamentos para tratar doenças crônicas, controlada por meio de um cartão que identifica o paciente, manterá seus preços baixos.

Díaz-Canel disse que inflação descontrolada ou “preços abusivos não seriam permitidos. Ninguém ficará desamparado. Na Cuba socialista, a terapia de choque nunca será usada contra o povo ”.

O duro ajuste econômico contempla, ainda, a eliminação gradual de subsídios “excessivos e gratuidades indevidas” destinados para manter o sistema empresarial estatal e a vida cotidiana dos trabalhadores. Ao invés dos benefícios do Estado estatais serem outorgados a determinados produtos, eles serão destinados a pessoas, que financiarão o consumo com sua renda.

As medidas anunciadas têm como objetivo tornar a economia mais eficiente e facilitar os investimentos estrangeiros, no momento em que o país precisa de dinheiro, após meses de privação de divisas do setor turístico pela pandemia do coronavírus. Antes mesmo da chegada da pandemia, em março, a ilha já sofria o impacto de um embargo recrudescido dos Estados Unidos na administração de Donald Trump.

Continua após a publicidade

Neste ano, a economia cubana deve sofrer uma retração de 8%, segundo projeções da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

“Essa transformação pode permitir colocar Cuba outra vez muito mais claramente no tabuleiro internacional e fazer nossos números mais comparáveis com os de outros países. A partir daí, caso se queira, facilita a tomada de decisões e a chegada de potenciais investidores”, disse Ricardo Torres, economista da Universidade de Havana.

O CUC, introduzido em 1994, continuou em circulação como a moeda forte local depois que o governo encerrou a dolarização iniciada durante a crise econômica dos anos 1990, conhecida como Período Especial. Porém, mais de 15 anos depois, o dólar voltou ao país e o CUC perdeu seu valor em relação às moedas estrangeiras.

Por enquanto, seu acesso é restrito aos cubanos mais ricos e só pode ser usado por meio de cartões para compras em lojas exclusivas que só utilizam a moeda, mas circula em notas no mercado negro. Ainda não se sabe se o governo manterá as lojas após a unificação das moedas.

 

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.