Em carta ao governo, 1.200 oficiais das Forças de Israel pedem fim da guerra ‘imoral’ em Gaza
Militares, tanto da ativa quanto da reserva, também apelaram para o retorno dos 59 reféns que permanecem no enclave palestino

Cerca de 1.200 oficiais das Forças de Defesa de Israel (FDI) condenaram nesta terça-feira, 27, a guerra na Faixa de Gaza em carta aberta ao governo e ao comando do Estado-Maior israelense. Os militares, tanto da ativa quanto da reserva, apelam para o retorno dos 59 reféns que permanecem no enclave palestino, dos quais 24 estão vivos e 35 mortos, e afirmaram que o conflito” não serve à segurança nacional de Israel e, portanto, é imoral”.
“Nós, antigos e atuais oficiais e comandantes da reserva das FDI, exigimos que o governo e o chefe do Estado-Maior parem a guerra política em Gaza e devolvam imediatamente todos os reféns”, diz a carta, antecipada ao jornal israelense Haaretz, acrescentando que “continuar a guerra vai contra a vontade da esmagadora maioria do público, resultará na morte de reféns, soldados das FDI e civis inocentes, e pode até levar à prática de crimes de guerra.”
Na semana passada, uma pesquisa publicada pela emissora Channel 12 revelou que 55% dos israelenses entrevistados acreditavam que o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, estava mais interessado em permanecer no poder do que em lutar pela libertação dos reféns. Além disso, 61% deles relataram querer o fim da guerra, contra 25% que apoiaram a expansão dos combates e a ocupação de Gaza.
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‘Comprometimento com a vida’
O texto também indica que “esta é uma guerra para preparar a ocupação de Gaza e tem como objetivo implementar a visão messiânica de uma pequena minoria na sociedade israelense”. Na terça-feira, Israel anunciou uma nova fase de sua ofensiva militar na Faixa de Gaza, com o objetivo de tomar três quartos do território palestino até julho. A estratégia, segundo autoridades militares, busca desalojar o Hamas, forçando a população civil a se concentrar em apenas 25% da região.
“Estamos confiantes de que o chefe do Estado-Maior recusará qualquer ordem que agite uma ‘bandeira negra’ e que possa levar os soldados a executar ordens cujas consequências os assombrarão pelo resto de suas vidas”, aponta o documento. “Nossa existência como sociedade e como país é condicionada pela crença na justiça de nosso caminho, garantias mútuas, defesa dos valores da moral judaica e um profundo comprometimento com a vida humana continua.”
Em abril, os oficiais envolvidos nesta carta já haviam divulgado um comunicado no qual apelavam para o retorno dos sequestrados, ainda que para a libertação fosse necessário o fim da guerra. Alguns deles foram dispensados dispensados do serviço de reserva por ordem do chefe do Estado-Maior, Eyal Zamir, e do comandante da Força Aérea Tomer Bar. Na ocasião. os militares escreveram que o confronto em Gaza “não beneficia nenhum de seus objetivos declarados e causará a morte de reféns, soldados das FDI e civis inocentes”.
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Críticas generalizadas
O ex-primeiro-ministro de Israel, Ehud Olmert, disse nesta terça-feira, 27, que o país comete crimes de guerra na Faixa de Gaza. Em artigo de opinião publicado no jornal israelense Haaretz, ele afirmou que “o governo de Israel está atualmente travando uma guerra sem propósito, sem metas ou planejamento claro e sem chances de sucesso” e que, como consequência, “milhares de palestinos inocentes estão sendo mortos, assim como muitos soldados israelenses”.
“Nunca, desde sua criação, o Estado de Israel travou uma guerra como essa. A gangue criminosa liderada por Benjamin Netanyahu também estabeleceu um precedente sem igual na história de Israel nessa área”, criticou Olmert, que ocupou o posto de 12º primeiro-ministro israelense entre 2006 e 2009.
Antigo membro do mesmo partido de Netanyahu, o Likud, ele também destacou que as “vítimas inúteis entre a população palestina” haviam atingido “proporções monstruosas” nas últimas semanas, resultado do aumento da violência da campanha militar de Israel no território. Olmert escreveu que “as operações recentes em Gaza não têm nada a ver com objetivos legítimos de guerra”, acrescentando: “Esta é agora uma guerra política privada. Seu resultado imediato é a transformação de Gaza em uma área de desastre humanitário”.
A comunidade internacional também aumentou o furor das críticas contra operações israelenses em Gaza. A União Europeia (UE) anunciou na última quarta-feira, 21, que revisará os laços comerciais com Israel devido à crise humanitária palestina. A chefe de política externa do bloco, Kaja Kallas, afirmou que Comissão Europeia, braço executivo da UE, reavaliará o Acordo de Associação UE-Israel, que regula as relações políticas e econômicas entre os dois lados através do livre comércio.
A decisão, segundo ela, foi aprovada por uma “forte maioria” dos ministros dos 27 países membros. A movimentação da UE ocorreu um dia após o governo britânico suspender as negociações de livre comércio com Israel e impor novas sanções contra assentamentos na Cisjordânia. Na semana passada, Reino Unido, França e Canadá ameaçaram “ações concretas” contra Israel em comunicado.
O trio também se opôs “a qualquer tentativa de expandir os assentamentos na Cisjordânia” e afirmou que, apesar de apoiar o direito de defesa israelense, não ficaria “de braços cruzados enquanto o governo (de Benjamin) Netanyahu realiza essas ações atrozes”.
O alerta foi seguido por uma declaração conjunta assinada por 22 países, que exige que Israel passe a “permitir a retomada total da ajuda a Gaza imediatamente e permitir que a ONU e as organizações humanitárias trabalhem de forma independente e imparcial para salvar vidas, reduzir o sofrimento e manter a dignidade”.