Em ano de alta tensão, Maduro reafirmou: daqui ninguém me tira
Cada vez mais truculento e mais arrogante, o ditador vai se eternizando no comando do país que destruiu

Entra ano, sai ano e nada de Nicolás Maduro se desgrudar de seu trono no Palácio de Miraflores, em Caracas, onde se senta há mais de uma década. Em 2024, chegou a parecer próximo disso. Pesquisas confiáveis indicavam que o vencedor da eleição presidencial de julho, com folga, seria seu rival, o diplomata aposentado Edmundo González, um poste elevado a favorito pela popularíssima líder oposicionista María Corina Machado — ela própria impedida de se candidatar por manobras do Judiciário pró-Maduro. Quando viu a derrota de perto, o ditador venezuelano agiu rápido. Nem bem fechadas as urnas, o Conselho Nacional Eleitoral, controlado por ele, proclamou seu triunfo por 51% a 44% dos votos. Todo mundo chiou. Manifestantes tomaram as ruas. Observadores internacionais independentes duvidaram do resultado. Fiscais da oposição divulgaram atas de seções eleitorais comprovando a nítida dianteira de González. Europa, Estados Unidos e outros se recusaram a cumprimentar Maduro. O Brasil do presidente Lula, um dos últimos amigos da Venezuela deste lado do planeta, se viu investido do papel de buscar uma saída para o impasse.
De cima do muro, Lula exigiu, antes de qualquer coisa, transparência na divulgação dos relatórios eleitorais. Como isso não aconteceu, as relações foram se deteriorando até chegar ao estado atual, em que a temida milícia bolivariana lança insultos contra a diplomacia brasileira nas redes, Maduro profere provocações e o Brasil bloqueia a entrada do vizinho no bloco dos Brics. Maduro não está sozinho. Conta com a ajuda do Irã e da Rússia para driblar as sanções americanas e escoar parte de sua produção. Também se beneficia da breve suspensão de parte delas, que permitiu que empresas americanas voltassem a operar na Venezuela. As sanções foram reimpostas, mas a autorização não perdeu efeito e os cobiçados dólares continuam entrando. González, temendo pela própria vida, exilou-se na Espanha e promete voltar e assumir “seu” cargo em janeiro, quando a Assembleia Nacional — pró-Maduro — dará posse ao novo presidente. Cada vez mais truculento e mais arrogante, ditando ordens para uma população desesperançada e querendo ir embora, Maduro vai se eternizando no comando do país que destruiu.
Publicado em VEJA de 20 de dezembro de 2024, edição nº 2924