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Ecos de Watergate no Congresso dos EUA

Sem obter depoimento de ex-assessores de Trump, democratas convocam a mais famosa testemunha que incriminou Richard Nixon em 1973

Por Lúcia Guimarães 10 jun 2019, 20h36

Na ausência de processo de verdade, que tal um teatro de impeachment? Nesta segunda-feira, 10, o Comitê Judiciário da Câmara dos Deputados convocou quatro testemunhas para depor na primeira audiência sobre as conclusões do procurador especial Robert Mueller em seu relatório sobre o conluio da campanha de Donald Trump com os russos e a possível obstrução de justiça pelo presidente dos Estados Unidos.

Líder do Comitê, o democrata nova-iorquino Jerry Nadler escolheu duas ex-promotoras federais conhecidas por suas críticas ao governo de Trump e um especialista em Constituição ligado a um think tank conservador. Mas a testemunha estrela da audiência foi  John Dean, o advogado da Casa Branca entre 1970 e 1973 que ajudou a derrubar o então presidente americano Richard Nixon com a investigação do escândalo Watergate.

Esta foi a primeira vez, nos últimos 46 anos, que Dean ergueu a mão direita para testemunhar no Comitê Judiciário, sob juramento. Ele cumpriu sentença abreviada de quatro meses de prisão por seu testemunho, em junho de 1973, que levou Richard Nixon à renúncia em desgraça 14 meses depois, em agosto de 1974.

Dean contou ao Congresso que Nixon sabia do esforço liderado por ele para encobrir a invasão da sede do Partido Democrata no edifício Watergate, em Washington, durante a campanha presidencial de 1972. Além disso, o advogado da Casa Branca sugeriu corretamente que haveria gravações das conversas de Nixon para comprovar os atos ilícitos do presidente.

Escolinha do professor Nadler

A audiência convocada por Nadler foi um esforço para preencher o vazio criado pelas recusas de várias testemunhas a comparecer à audiência. O deputado gostaria de colocar diante das câmeras de televisão, entre outros, o próprio Robert Mueller, que declarou na semana passada não ter mais nada a declarar.

A diferença entre a era Nixon, analógica, e a era Trump, digital, é que, na primeira, só havia três redes nacionais de TV, e os dois grandes jornais, o The Washington Post e o The New York Times, competiam entre si pelos furos. Naquele início dos anos 1970, seria impensável uma corporação privada, como a Fox News, agindo como TV estatal em favor do presidente dos Estados Unidos, com uma vasta audiência cativa.

Como a grande maioria dos americanos não leu as mais de 400 páginas do relatório de Mueller, o deputado Nadler tenta apresentar ao público a narrativa de maneira didática. Mueller não encontrou prova de conspiração criminosa da campanha do republicano com os russos. Mas enumerou dez situações em que o presidente Trump teria tentado obstruir a Justiça.

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John Dean abriu seu testemunho destacando os paralelos que encontrou entre as tentativas de Nixon de obstruir a justiça e o que considera ações comparáveis de Trump. Ausente na audiência de hoje foi também o interesse apartidário de chegar aos fatos. Em 1973, Howard Baker, o principal republicano na audiência do Comitê Judiciário da Câmara fez a pergunta histórica: “O que Nixon sabia e quando ele soube?”

Nesta segunda-feira, democratas e republicanos se alternaram na sabatina às testemunhas e pareciam habitar dois planetas. Os democratas citavam passagens do relatório Mueller para a análise das testemunhas, enquanto os conservadores partiram para o ataque especialmente contra John Dean, revivendo seu envolvimento no escândalo Watergate e seus livros recentes, nos quais ataca outros  outros republicanos.

Foi uma encenação eletrônica para contentar os democratas – mais de 60 dos 235 deputados do partido – que gostariam de iniciar o processo de impeachment de Donald Trump. Mas estão sendo energicamente contidos pela presidente da Câmara, a também democrata Nancy Pelosi. Como o impeachment não passaria pela maioria republicana no Senado, Pelosi quer que Trump perca o cargo nas urnas em novembro de 2020.

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