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Documentário mostra diversas faces da revolução egípcia

Há 1 ano tinha início o levante popular que conseguiu derrubar o ditador Hosni Mubarak. 'Tahrir 2011: The good, the bad and the politician' conta essa história

Por Nana Queiroz
25 jan 2012, 09h38

“É um trabalho colaborativo, o que é muito representativo daquele momento. Assim como milhares de pessoas com histórias e personalidades diferentes estiveram integradas na Praça Tahrir durante os 18 dias de protestos, estão integradas as partes deste filme.”

Tamer Ezzat, diretor

Em meio ao furor da revolução do Egito iniciada em 25 de janeiro de 2011, três cineastas compartilhavam um desejo em comum: registrar os abusos cometidos pelas forças de segurança na repressão contra os manifestantes que pediam a renúncia do ditador Hosni Mubarak. A ideia era reunir provas para levar o caso à Justiça. Para isso, o trio pediu ajuda de todo egípcio que conseguisse registrar imagens dos protestos. Em poucos dias, eles conseguiram reunir um material tão consistente e amplo que se viram obrigados a transformá-lo em documentário. Assim nasceu Tahrir 2011: The good, the bad and the politician (Tahrir 2011: O bom, o mau e o político, em tradução livre). “Esse filme foi dirigido pelo povo egípcio. Eu fui apenas um organizador. Foi um trabalho feito a centenas de mãos, assim como a revolução”, disse ao site de VEJA Tamer Ezza, um dos diretores.

Infográfico: Mundo islâmico foi palco de cinco revoltas diferentes

O resultado final é um mosaico da revolta visto a partir de centenas de olhos que presenciaram cada grito de liberdade na praça da capital Cairo que foi cenário dessa revolta – e de todas que a seguiram. “Eu vejo um estilo nesse filme: egípcios tomando parte na ação e registrando essa participação. Cada cena é filmada por uma pessoa diferente e essa é a beleza do documentário”, comenta Ezzat. “É um trabalho colaborativo, o que é muito representativo daquele momento. Assim como milhares de pessoas com histórias e personalidades diferentes estiveram integradas na Praça Tahrir durante os 18 dias de protestos, estão integradas as partes deste filme”, acrescenta. A divisão do longa em três partes passeia por estereótipos: os bons seriam os manifestantes, os maus, os policias, e o político, o conjunto formado por Mubarak e seus aliados. Todavia, o documentário mostra que a queda de Mubarak e a passagem do poder ao Exército foram conduzidas por personagens muito mais complexos.

Dica de filme

‘Tahrir 2011: The good, the bad and the politician’

Tahir 2011: The good, the bad and the politician - capa
Tahir 2011: The good, the bad and the politician – capa (VEJA)

O documentário foi feito durante a revolução que derrubou o ditador Hosni Mubarak do poder no Egito. A maioria das cenas foi gravada por rebeldes que participavam dos protestos.

Diretores: NAHARDA, ZAY EL; EZZAT, TAMER; AMIN, AYTEN

Produtora: Film Clinic & Amana Creative

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Personagens De mão em mão, cada cena de Tahrir 2011 exibe uma série de fatos que não ganharam espaço no noticiário internacional. A primeira parte do filme, “o bom”, revela que uma das grandes forças dos protestos estava ligada à eficiente organização dos manifestantes. O complexo criado na praça contava não apenas com equipes médicas bem integradas para tratar os feridos, mas também com farmácias, centros de imprensa, cozinhas, esquemas de proteção a fotógrafos e cinegrafistas, profissionais responsáveis pelo entretenimento dos acampados e até um cabeleireiro. Chama a atenção, ainda, a grande presença de crianças nos protestos. Não tendo com quem deixar os filhos, ou até mesmo para dar-lhes “uma lição de cidadania”, os pais carregavam os pequenos nos ombros ou às mãos.

Uma dessas mães – cuja história é detalhada no documentário, mas a identidade nunca foi descoberta – levava duas meninas a caminho de uma barreira policial quando uma bomba de gás caiu dentro de sua veste muçulmana. Todos ao redor pararam, assustados, para socorrê-la. Ela, então, empurrou as filhas adiante, gritando: “Vocês não ousem parar!”. Como nessa história, a determinação dos rebeldes frente a ataques com armas (e até camelos!) já sensibilizou o público de uma série de festivais de cinema ao redor do mundo desde que o longa foi lançado, no ano passado. “Ao final da exibição, recebíamos muitos elogios e apertos de mão calorosos. Mas senti que eles reagiam assim à revolução e não somente ao filme”, lembra Ezzat.

O filme segue, e o foco agora são os agentes de segurança que não mediam a violência para reprimir qualquer exaltação. Ao contrário do que uma primeira impressão possa passar, eles não chegam a ser retratados como a definição dura do que é ser “mau”. Todos tiveram a chance de dar a sua versão para a história, e o que se vê não são depoimentos de apoiadores cegos do regime, e sim de trabalhadores em um dilema muito íntimo entre cidadania e obrigação profissional. Já na terceira e última parte, os diretores esmiúçam as forças que seguraram Mubarak no poder por três décadas. Especialistas explicam, por exemplo, o processo psicológico que fez com que o tirano fosse se convencendo, gradualmente, de que sua figura era essencial para o Egito se desenvolver.

Sem fim – Hoje, um ano depois do início desse (primeiro) grande levante popular, Ezzat observa o desenrolar da história egípcia com pesar, ao ver que grupos que naquela ocasião se uniram, acabaram depois entrando em conflitos uns contra os outros. “Estou desapontado. Não está mais claro aquele sentimento de união que nós tínhamos na Praça Tahrir e, agora, estão ainda mais confusas nossas definições de quem são os bons e os maus”, desabafa. “Só o que espero é que este documentário sirva para reavivar a lembrança daqueles 18 dias. Porque é assim que minha parte do filme termina, com a frase: ‘E a revolução continua…'”.

Confira, abaixo, o trailer do filme Tahrir 2011: The good, the bad and the politician:

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