Diplomata de Deus no século XXI: quem é Pietro Parolin, o mais cotado para ser papa
Secretário de Estado do Vaticano, o cardeal é o preferido dos clérigos italianos e figura central nos bastidores da igreja global

Aos 70 anos, o cardeal Pietro Parolin está em alta como um dos principais favoritos para assumir o Trono de Pedro. Italiano de nascimento e formação, é considerado o preferido dos compatriotas para liderar a Igreja Católica após a morte de papa Francisco. Durante anos, foi seu braço direito, com quem compartilhou não só afinidades pastorais, mas também o cotidiano: ele reside no segundo andar da Casa Santa Marta, a hospedaria oficial do Vaticano onde também viveu o Santo Padre, que optou por lá permanecer desde o início de seu pontificado em 2013, em um gesto de simplicidade e proximidade pastoral.
A proximidade entre os dois era visível não apenas na gestão da Cúria, mas também nos momentos de fragilidade. Em fevereiro, logo após a internação de Francisco no Hospital Gemelli, foi Parolin quem conduziu o primeiro rosário público (reza do terço) na Praça São Pedro em intenção do pontífice, reunindo fiéis em oração e reafirmando o espírito de unidade e cuidado que marcou sua atuação ao lado do pontífice argentino.
Desde então, tornou-se peça-chave na arquitetura da diplomacia da Santa Sé, recebendo chefes de Estado, conduzindo negociações internacionais e sendo presença constante em eventos multilaterais.
Trajetória da sensatez
Nascido em 17 de janeiro de 1955, na cidade de Schiavon, na província de Vicenza, região do Vêneto, Pietro Parolin cresceu em uma família católica de classe média. Perdeu o pai ainda jovem, o que marcou profundamente sua trajetória pessoal e espiritual. Desde pequeno, mostrou inclinação para os estudos e uma sensibilidade religiosa incomum. Frequentou o seminário e prosseguiu sua formação teológica com destaque, demonstrando vocação clara para o sacerdócio e grande interesse pela missão da igreja no mundo.
Foi ordenado sacerdote em 1980 e depois continuou sua formação em Roma, onde obteve o doutorado em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense. Fluente em diversas línguas, Parolin ingressou no serviço diplomático da Santa Sé em 1986. Serviu nas nunciaturas da Nigéria e do México, desenvolvendo experiência prática em contextos sociopolíticos desafiadores e aprendendo a conciliar prudência com firmeza moral.
De 2002 a 2009, atuou como subsecretário para as Relações com os Estados, participando de diálogos com países como China, Vietnã, Cuba e Israel. Sua atuação discreta, mas eficaz, lhe rendeu a confiança do alto escalão da Igreja. Em 2013, foi nomeado Secretário de Estado por Francisco, cargo que ocupa até hoje – equivalente a um primeiro-ministro do Vaticano, com poderes sobre a política externa e a administração interna da Santa Sé.
Elevado ao cardinalato em 2014, Parolin ficou conhecido por seu estilo sereno, conciliador e realista. Não buscava os holofotes, mas era respeitado como um mestre da diplomacia e da prudência. Esteve à frente do histórico — e polêmico — acordo com a China sobre a nomeação de bispos, considerado um dos maiores desafios diplomáticos do Vaticano nos tempos modernos.
Com trânsito livre entre diferentes correntes eclesiais, Parolin é visto como um candidato de consenso: firme nas convicções, mas aberto ao diálogo; atento às raízes da tradição, mas sensível aos dilemas contemporâneos. Sua postura pastoral, aliada à vasta experiência política e institucional, o torna um nome fortemente cotado para guiar a Igreja Católica em tempos de mudança e transição.