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Desencantados com Boric, os chilenos devem radicalizar de novo nas urnas

São boas as chances para a extrema direita

Por Caio Saad Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO , Paula Freitas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 16 nov 2025, 08h00

Ao vencer as eleições no Chile em 2021, Gabriel Boric, hoje com 39 anos, ex-líder estudantil e o mais jovem presidente da história do país, se tornou o retrato de uma nova esquerda, mais moderna e esclarecida — condenou, com insistência, o viés ditatorial dos governos esquerdistas da Venezuela e da Nicarágua. Já em fim de mandato e impedido por lei de buscar a reeleição, Boric em nada corresponde à imagem de político do futuro: desaprovado por 60% dos chilenos, virou uma figura apagada por lá. A população, que o elegeu em uma convulsão de descontentamento com os partidos tradicionais, mostra disposição, agora, para virar a página. No primeiro turno da eleição presidencial deste ano, no domingo 16, os principais candidatos são, todos, caras novas, ou ao menos desconectadas das legendas que governaram o país pós-ditadura de Augusto Pinochet.

Segundo as pesquisas (que são suspensas duas semanas antes da eleição), quem sai na frente é a comunista Jeannette Jara, 51 anos, ex-ministra de Boric, à frente de uma coalizão esquerdista. Seus dois principais adversários são da direita e tudo leva a crer que, no segundo turno, a reunião desses votos vai favorecer o mais conhecido deles, José Kast, 59 anos, ex-deputado que largou tudo para criar em 2019 sua própria legenda, abertamente nostálgica da era Pinochet e alinhada com a extrema direita. O pêndulo que costuma reger as eleições na América Latina está em movimento no Chile, com uma particularidade: só há extremos na balança.

VOZ DA SITUAÇÃO - Jara: candidata da situação sofre o efeito da ligação com o governo impopular
VOZ DA SITUAÇÃO – Jara: candidata da situação sofre o efeito da ligação com o governo impopular (Cristobal Olivares/Bloomberg/Getty Images)

Boric nunca se recuperou do duplo fiasco sofrido logo no início de seu governo, ao tentar aprovar em plebiscito uma nova Constituição que substituiria a dos tempos da ditadura, antiga reivindicação popular. Primeiro, o texto elaborado por uma constituinte de esquerda foi derrotado pela radicalidade e por suspeitas de má conduta dos delegados. Depois, a revisão proposta pela direita foi rechaçada por ser ainda mais dura do que a de Pinochet. Resultado: sem alternativa, a antiga segue valendo. Minoritário no Congresso, o presidente tampouco conseguiu tirar do papel promessas de profundas mudanças sociais e econômicas.

Mas a raiz de sua impopularidade atual está na enorme insatisfação sobretudo em relação à segurança, primeiro, e também à situação econômica do país. Embora o PIB esteja em crescimento e a inflação, sob controle, a taxa de desemprego gira em torno de 9%, pavio para seguidos protestos promovidos pelas centrais sindicais. A maior preocupação, porém, é com a criminalidade: mesmo que continue sendo nação segura para os padrões latino-americanos, no Chile as taxas de homicídio triplicaram na última década e gangues estrangeiras do crime organizado ganharam terreno, com delitos que vão de tráfico de drogas a sequestro e extorsão.

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Como é de praxe nestes tempos, a piora é atribuída, nas hostes da direita, à imigração desenfreada: o país tem hoje 337 000 estrangeiros indocumentados, a maioria venezuelanos que fogem do regime de Nicolás Maduro. O cenário é fértil para o avanço de figuras como Kast e o libertário anti-establishment Johannes Kaiser, 49, que tem no argentino Javier Milei seu guru. Nas últimas pesquisas, Jara liderava com cerca de 30% das intenções de voto, enquanto Kast e Kaiser aparecem em empate técnico. Atrás deles vem a única representante das siglas tradicionais, a centro-direitista Evelyn Matthei. Embora apareça na frente no primeiro turno, com a direita fragmentada, Jara perde para os oponentes nas pesquisas de segundo turno, em 14 de dezembro. Todas as projeções estão sujeitas a um fator novo na votação de domingo: a volta do voto obrigatório, que deve reverter as enormes taxas de abstenção dos últimos anos.

NÃO DEU CERTO - Boric: a expectativa de mudança cedeu lugar à desaprovação de 60%
NÃO DEU CERTO – Boric: a expectativa de mudança cedeu lugar à desaprovação de 60% (Esteban Felix/AP/Imageplus)

Membro do Partido Comunista desde a adolescência, Jara foi ministra do Trabalho do governo Boric e acena com propostas de renda mínima e subsídios para empresas, além de ter se comprometido a modernizar a polícia, construir cinco novas prisões e mobilizar as Forças Armadas na proteção das fronteiras. “Governar não é gritar mais alto nem propor qualquer coisa que passe pela cabeça. Governar exige experiência”, afirma, em crítica indireta a Kast. Católico praticante e dado a exageros no estilo Donald Trump, Kast, adversário derrotado de Boric há quatro anos, fundou o Partido Republicano em 2019, levantando bandeiras contra o aborto e a “ditadura gay”.

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Na disputa, o alvo preferencial de Kast são os imigrantes: promete pôr na cadeia quem entrar no país de forma irregular, expulsar “todos” os indocumentados e construir valas e muros nas fronteiras. “A criminalidade está fora de controle e os chilenos precisam que o governo tome medidas enérgicas para enfrentar isso. O Chile precisa de uma mudança radical”, pregou em comício. “O fracasso em atender às expectativas, a começar pelo colapso do processo constitucional, fez com que milhares de eleitores, antes esperançosos, mudassem suas prioridades”, afirma Rodrigo Espinoza, diretor da Escola de Administração Pública da Universidade Diego Portales, no Chile. Ao apostar nos extremos, os chilenos esperam conseguir sair do impasse político em que se encontram.

Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2025, edição nº 2970

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