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Com risada e ironia, Kamala coloca Trump na defensiva em debate

Democrata tentou pintar republicano como extremista, afastando o rótulo de si mesma, e brilhou ao falar de aborto. Mas ele cutucou alguns pontos sensíveis

Por Amanda Péchy Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 11 set 2024, 00h18 - Publicado em 10 set 2024, 23h26

O primeiro debate presidencial dos Estados Unidos entre a candidata democrata, Kamala Harris, e o republicano, Donald Trump, começou agitado nesta terça-feira, 10. Ambos mostraram o poder de suas línguas afiadas, criticando um ao outro nos temas em que são mais vulneráveis (imigração para Kamala, aborto e democracia para Trump). Mas a vice-presidente americana apareceu com respostas mais incisivas, em comparação com as falas muitas vezes desconexas do rival, e tem construído pontes nas réplicas que Joe Biden, quando ainda estava na corrida, não conseguiu fazer ao debater Trump em junho.

Os gestos e expressões dos dois candidatos chamaram a atenção. Kamala sorriu o tempo todo, balançando a cabeça como quem diz que não, em gesto de incredulidade, enquanto ele falava. Manteve sua postura calma e controlada, fugindo menos de respostas do que ele e construindo réplicas eficazes. Já ele ficou de cara fechada o tempo todo, e não olhou para a rival enquanto ela falava. Além disso, se irritou com as zombarias da democrata, que o cutucou, por exemplo, ao dizer que o público fica “entediado” e sai mais cedo de seus comícios.

Nada disso é acidental. Kamala passou por um treinamento intenso em que discutiu sua postura, na tentativa de discordar de maneira veemente do oponente sem parecer agressiva. É uma linha tênue, para não alienar eleitores.

Apesar de tudo, nenhum dos dois fez algo que era muito esperado do debate: detalhar políticas, mais especificamente na área da economia, questão mais importante para os eleitores americanos.

“Ele que é extremista”

Os principais motes de Kamala, como tem sido o caso por toda sua campanha, são palavras de ordem como “virar a página”, “olhar para frente”, “proteger a democracia” e “unir o país”. Mas talvez o que une todos esses pontos seja sua estratégia de pintar Trump como extremista. Uma pesquisa do New York Times/Siena College publicada na última sexta-feira mostrou que o eleitorado a vê como mais radical do que ele, mas ela tem conseguido destacar esse ponto diante das falas do republicano.

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Depois de chamar Kamala de “marxista” ao fazer referência ao seu pai, um professor de economia aposentado da Universidade de Stanford, ele começou a destilar críticas ao governo democrata pelo aumento de chegadas de imigrantes no país, se comprometendo a deportar pelo menos 11 milhões de pessoas se eleito.

“Temos uma nação em declínio, um país falido. Milhões e milhões de pessoas entraram em nosso país e o destruíram, destruíram o tecido social. (Os democratas) permitiram que milhões de criminosos, terroristas e traficantes de drogas chegassem aos Estados Unidos”, declarou, citando também uma teoria da conspiração que prega que o Partido Democrata traz imigrantes deliberadamente para solo americano para que eles votem na legenda.

“Imigrantes estão comendo os animais de estimação das pessoas em algumas cidades. E o crime diminuiu na Venezuela e em outros países, enquanto subiu aqui, porque o governo Biden trouxe essas pessoas para cá. Vamos acabar virando a Venezuela com esteroides.”

Um dos moderadores, David Muir, âncora do “World News Tonight”, corrigiu Trump ao informar que não há nenhum relatório confiável sobre estrangeiros comendo pets, e que o FBI divulgou um relatório afirmando que a taxa de criminalidade caiu nos Estados Unidos, não subiu: crimes violentos diminuíram 15,2% no primeiro trimestre de 2024 em relação ao mesmo período em 2023, com uma queda ainda maior em cidades com mais de um milhão de habitantes. O republicano comentou que os dados se tratariam de “fraude”.

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“Isso que é extremismo”, afirmou Kamala, em resposta aos comentários, uma frase que usou algumas vezes no debate. “E (as menções sobre criminalidade) são irônicas vindo de alguém que foi indiciado quatro vezes e aguarda sua sentença pela primeira condenação”, acrescentou, cutucando o republicano de uma maneira que Biden não havia conseguido fazer anteriormente.

“Precisamos virar a página nessa velha e cansada retórica”, ela continuou, dizendo que o governo deve se concentrar em questões como o déficit habitacional, o crescimento dos pequenos negócios e a redução do custo das compras no mercado, e não com uma pessoa que pode chegar à Casa Branca e “abolir” a Constituição.

Trump se defendeu afirmando que os quatro processos criminais abertos contra ele são perseguição política, acusando os democratas no governo de “usarem o Departamento de Justiça como arma” para caçar opositores políticos. Ele também sugeriu que “quase levou uma bala na cabeça” por causa das “mentiras que contaram sobre mim”. A cada fala duvidosa, a rival deu risada.

O ex-presidente também voltou a afirmar que não acredita ter perdido as eleições em 2020, quando Biden o derrotou. Segundo ele “há muitas provas” de que, na época, conseguiu 75 milhões de votos que o dariam a vitória. “Perdemos porque nenhuma corte aceitou considerar nossos casos”, disparou, sendo corrigido pelos moderadores, que lembraram das dezenas de processos em diversos estados americanos que foram avaliados.

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Kamala, irônica, usou o slogan do antigo reality do bilionário, “O Aprendiz“, para dizer: “Donald Trump foi demitido por 81 milhões de pessoas (em 2020). Sua capacidade mental está em questão, ele não consegue nem apreender fatos.”

Aborto

Enquanto Biden se enrolou, em seu embate contra Trump, para aproveitar o melhor ponto democrata – o apoio ao aborto, em que os eleitores estão do lado do partido –, Kamala foi incisiva e relembrou que mesmo mulheres que querem ter filhos estão sendo afetadas por proibições em seus estados. Trump pareceu confuso ao responder, dizendo ao mesmo tempo que “fez algo que ninguém esperava ser possível” (em aparente referência à decisão da Suprema Corte que baniu o direito), e se recusando a explicitar se vai assinar um banimento nacional.

O que ele fez foi acusar os democratas, incorretamente, de quererem “executar bebês após o nascimento”. A maior parte dos abortos acontece até o segundo trimestre de gestação. Mas cutucou, agora corretamente, que uma real falha da campanha democrata nesse ponto: qualquer promessa de retorno a uma garantia ao aborto a nível federal dependeria de Congresso. “Ela não vai conseguir isso”, disse, relembrando a divisão praticamente de 50/50 nas duas casas do legislativo.

O espectro Biden

Em paralelo, Trump repetiu diversas vezes um eixo central de sua estratégia: “Ela é o Biden”, declarou sobre Kamala, ao criticar a gestão econômica do governo democrata. Segundo ele, a inflação está descontrolada – embora tenha subido nos primeiros dois anos do mandato, já retornou a nível semelhante ao do governo republicano. Falando sobre Ucrânia, ele também afirmou que ela “é pior que Biden”. 

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A vice-presidente, porém, não deixou passar, dizendo que “claramente, não sou Biden nem Trump” e repetindo o lema “vamos virar a página”. Sempre que ela segue nessa linha, ele faz um questionamento como: “Ela disse que vai fazer todas essas coisas maravilhosas. Por que ela não fez nada disso até agora?”, lembrando que Kamala está no governo.

Quando a moderadora Linsey Davis, âncora do “ABC News Live Prime”, fez a pergunta que a campanha democrata mais temia – por que Kamala mudou de opinião em temas-chave nos últimos anos? – ela se saiu bem, insistindo que seus valores não mudaram.

“Não vou banir o Fracking”, garantiu, citando uma importante fonte de renda do setor do petróleo para a Pensilvânia, estado onde ocorreu o debate e é considerado crucial para a eleição. “Mas é importante diversificar fontes de energia.”

O fato de que a pergunta veio da moderação, não de Trump, pode ter sido uma bênção. Pego despreparado, ele disse apenas que ela não mudou verdadeiramente de ideia e que “vai acabar com a indústria do petróleo”.

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Política externa: Gaza e Ucrânia

Trump citou o autocrata Viktor Orban, da Hungria, criticado por minar o Estado de direito em seu país, para dizer que ele e outros líderes acham que sua vitória é necessária para garantir a segurança global. “Ele me disse, quando eu estava na presidência, China, Rússia e Coreia do Norte tinham medo dos Estados Unidos”, afirmou.

O republicano corretamente apontou que o líder russo, Vladimir Putin, não tomou território adicional durante sua presidência. Ele fez isso com Barack Obama, em 2014, e depois com Biden, em 2022. Ele também disse que as guerras na Ucrânia e em Gaza “não teriam acontecido” se ainda estivesse na Casa Branca.

“Kamala odeia Israel. Se ela vencer, Israel deixará de existir em 2 anos. E ela odeia árabes também. Tudo será explodido em Gaza (com ela no poder)“, Trump disse.

A democrata, por sua vez, acusou o republicano de ser amigo de figuras autoritárias e de ele mesmo querer desmantelar a democracia americana, relembrando fala em que ele declarou que será um ditador “no primeiro dia” da presidência.

“Putin estaria sentado em Kiev, olhando para o resto da Europa, começando pela Polônia (se Trump estivesse na presidência)“, disse ela. “Você desistiria (de ajudar a Ucrânia) em nome do que você acha que é uma amizade com quem é conhecido por ser um ditador (Putin), que o comeria no almoço”.

Sobre a guerra em Gaza, ela voltou a assumir uma postura “em cima do muro”, reconhecendo que o Hamas “massacrou milhares de israelenses” e “estuprou mulheres”, mas defendendo o fim da guerra que arrasou a vida de milhões de palestinos.

“Israel tem o direito de se defender, como nós faríamos no mesmo caso. Mas como fazer isso importa. Muitos civis, mulheres e crianças palestinas foram assassinadas. Esta guerra precisa acabar. A maneira de fazer isso é por meio de um cessar-fogo. Precisamos de um caminho para uma Solução de Dois Estados, que dê segurança tanto para Israel quanto para palestinos, com autodeterminação e dignidade”, declarou ela. Mas eu sempre defenderei o direito de Israel de se defender, especialmente do Irã”, frisou.

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