Deputados dos EUA querem ajudar a investigar ‘Capitólio brasileiro’
Segundo agências, membros da Câmara que conduziram inquérito sobre ataque ao Congresso americano já estão negociando com autoridades do Brasil
A invasão do Capitólio dos Estados Unidos, em 6 de janeiro de 2021, foi alvo de uma investigação de um ano e meio, que contou com 10 audiências públicas televisionadas em horário nobre, entrevistas com centenas de testemunhas e análise de mais de 1 milhão de documentos. Agora, membros do comitê da Câmara responsáveis pelo inquérito querem ajudar autoridades brasileiras a investigar os responsáveis pelo ataque às sedes dos Três Poderes, em Brasília, popularmente chamado de “Capitólio brasileiro”.
Segundo a agência de notícias Reuters, deputados americanos e brasileiros já estão conduzindo negociações para cooperar em uma investigação sobre os atos terroristas bolsonaristas de domingo 8, compartilhando seus aprendizados. Mais de 70 legisladores dos dois países assinaram uma declaração conjunta denunciando forças “antidemocráticas” que tentaram anular os resultados das suas respectivas eleições presidenciais com violência política.
Apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro depredaram o Congresso, o Supremo Tribunal Federal e o palácio presidencial do Brasil no domingo, pedindo um golpe militar para derrubar a eleição de outubro, da qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) saiu vitorioso.
O deputado americano Bennie Thompson, presidente do comitê da Câmara que investigou o ataque de 6 de janeiro de 2021 ao Capitólio, recentemente dissolvido, é um dos principais envolvidos nas discussões de cooperação, segundo a agência.
“Estou extremamente orgulhoso do trabalho e do relatório final do Comitê Seleto de 6 de janeiro. Se (ele) servir de modelo para investigações semelhantes, ajudarei de qualquer maneira possível”, disse Thompson em um comunicado por escrito.
No Brasil, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, também discutiu a ideia do intercâmbio com o principal diplomata dos Estados Unidos em Brasília, o encarregado de negócios da embaixada americana, Douglas Koneff, disse a Reuters. Koneff foi receptivo à ideia de compartilhar aprendizados da investigação sobre os apoiadores do ex-presidente Donald Trump, que atacaram o Capitólio em uma tentativa fracassada de impedir o Congresso de certificar a vitória de Joe Biden.
O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, disse na quarta-feira 11 que Washington não recebeu nenhum pedido específico do Brasil em relação ao ataque em Brasília, mas que responderia “rapidamente” se um pedido chegar.
Separadamente, um grupo de 74 deputados federais dos Estados Unidos e do Brasil divulgou uma declaração conjunta na quarta-feira condenando a violência política em Brasília e Washington, que ocorreu com dois anos e dois dias de intervalo.
A declaração, protagonizada por políticos progressistas dos dois países, foi articulada pelo Washington Brazil Office, grupo que promove o diálogo bilateral em defesa dos direitos humanos e do desenvolvimento sustentável.
“Não é segredo que rebeldes de extrema direita no Brasil e nos Estados Unidos estão coordenando esforços”, escreveram eles, citando laços entre apoiadores de Trump e Bolsonaro. “Assim como os extremistas de direita estão coordenando seus esforços para minar a democracia, devemos permanecer unidos em nossos esforços para protegê-la.”
O relatório final do comitê que investigou a invasão ao Capitólio, divulgado em dezembro passado, recomendou que Trump deveria enfrentar um processo criminal por incitar o ataque. O relatório listou 17 descobertas específicas, discutiu as implicações legais das ações do ex-presidente e alguns de seus associados e pediu ao Departamento de Justiça para fazer acusações criminais contra Trump e quatro de seus advogados.