‘Dentro de Israel, Trump é visto quase como um herói’, diz especialista
Segundo Anita Efraim, em entrevista ao Ponto de Vista, presidente americano já colhe dividendos políticos
Em meio à mais delicada trégua do conflito entre Israel e o grupo terrorista Hamas, o presidente dos Estados Unidos Donald Trump emergiu como articulador do cessar-fogo que resultou na libertação de reféns e abriu caminho para a retomada das negociações no Oriente Médio.
“Donald Trump se mostrou muito comprometido em conseguir chegar a essa paz — e a gente pode até questionar o que está por trás disso, talvez o desejo de um Nobel da Paz. Mas o fato é que ele foi eficaz”, diz a jornalista Anita Efraim, gerente de comunicação do Instituto Brasil-Israel e mestre em Comunicação Política pela Universidade do Chile. Em entrevista ao programa Ponto de Vista, apresentado por Marcela Rahal, Anita afirmou que o republicano teve uma atuação direta e eficaz, combinando pressão política e diplomacia pessoal.
De acordo com a especialista, o ponto de virada ocorreu em 9 de setembro, após um ataque israelense ao Catar, considerado um erro estratégico. “Trump ficou irritado, chamou Netanyahu e disse: ‘Chega, você errou totalmente’. Exigiu que o primeiro-ministro pedisse desculpas ao Catar e, menos de um mês depois, o acordo estava assinado”, relatou Anita.
“Quase um herói” em Israel
A atuação de Trump, segundo ela, é vista com gratidão pela sociedade israelense. Pesquisas de opinião mostram que entre 70% e 80% dos israelenses apoiavam um acordo de paz, “fosse qual fosse o preço”.
“Trump conseguiu o que outros líderes não conseguiram: convencer Netanyahu a aceitar um acordo praticamente idêntico aos que havia rejeitado antes, sob a justificativa de continuar com a ofensiva militar”, afirmou Anita.
O presidente americano também articulou o envolvimento de países-chave da região, como Catar e Turquia, na pressão sobre o Hamas para aceitar os termos do cessar-fogo. “Ele conseguiu mobilizar atores importantes do mundo árabe e fazer com que um acordo finalmente saísse do papel”, disse.
Netanyahu e o erro político
Na avaliação de Anita Efraim, a recusa de Benjamin Netanyahu em comparecer à Cúpula da Paz, no Egito — que reuniu Trump, Mahmoud Abbas e Emmanuel Macron — reforça o isolamento do premiê. “Ele alegou um feriado religioso, mas foi uma decisão política. Netanyahu não é uma pessoa religiosa. Foi um erro de cálculo e uma demonstração de resistência em relação à criação de um Estado palestino”, avaliou.
Enquanto o premiê israelense enfrenta críticas internas, Trump tenta capitalizar o êxito diplomático — e, segundo Anita, já colhe dividendos políticos. “Ele tem uma gratidão enorme da sociedade israelense. Foi quem virou o jogo e garantiu que reféns voltassem vivos para casa. Dentro de Israel, Trump é visto quase como um herói.”