Democrata socialista diz que sua vitória em NY pode ser replicada no resto dos EUA
Zohran Mamdani, um muçulmano esquerdista, venceu as primárias do seu partido e deve ser eleito prefeito da cidade mais populosa do país

Zohran Mamdani, em sua primeira grande entrevista após uma vitória surpreendente nas primárias do Partido Democrata para a prefeitura de Nova York, argumentou nesta quinta-feira, 26, que seu estilo de campanha e suas posições na extrema esquerda do espectro político podem ser aplicadas em qualquer lugar dos Estados Unidos para eleger democratas.
Em termos de eleições, as primárias democratas para prefeito na terça-feira 24 foram um eletrochoque: os eleitores de Nova York se afastaram de um rosto conhecido e famoso (além de muito bem financiado), o ex-governador Andrew Cuomo, e, com isso, promoveram uma ruptura geracional e ideológica com a corrente principal do partido. Eles se voltaram para Mamdani, um deputado estadual de 33 anos cuja campanha se sustentou numa mensagem otimista – que escapou a muitos democratas país afora – sobre uma economia mais acessível e o aumento do custo de vida.
Mamdani, um muçulmano socialista, foi um sopro de renovação em relação a Cuomo, que apostou numa plataforma centrista apoiada pela maior parte do establishment do Partido Democrata. Em entrevista à emissora MSNBC, a estrela em ascensão da política americana argumentou que sua campanha populista – com foco na desigualdade e promessas radicais em relação à redução dos aluguéis, alimentação e transporte público gratuito – poderia ser implementada em qualquer lugar dos Estados Unidos, enquanto os democratas tentam combater Donald Trump e seu movimento MAGA (“faça a América grande novamente”).
“Acredito que, em última análise, esta é uma campanha sobre desigualdade, e você não precisa morar na cidade mais cara do país para ter vivenciado essa desigualdade, porque é uma questão nacional. E o que os americanos de costa a costa buscam são pessoas que lutem por eles, que não apenas acreditem nas coisas que ressoam em suas vidas, mas que realmente lutem e concretizem essas mesmas coisas”, disse ele.
Mamdani acrescentou: “Acredito que, ao focarmos nos trabalhadores e em suas lutas, também retornamos ao que faz tantos de nós nos orgulharmos de sermos democratas em primeiro lugar.”
Mensagem eficaz
Mamdani – que teve o apoio dos colegas socialistas Bernie Sanders, senador por Vermont, e da congressista nova-iorquina Alexandria Ocasio-Cortez – fez uma campanha híbrida entre o presencial e o digital, com uma força-tarefa batendo de porta em porta para encontrar eleitores e uma estratégia de redes sociais altamente eficaz.
Um forte contraste com Cuomo, que contava com milhões de dólares de doadores ricos e o apoio de figurões do partido, incluindo Bill Clinton e o congressista da Carolina do Sul, Jim Clyburn, e que apostou numa campanha focada em eventos mais encenados. Durante todo o processo, porém, ele foi perseguido pelas mesmas acusações por assédio sexual que o levaram a ser destituído do governo do estado de Nova York quatro anos antes. Também não pegou bem a sensação de que o político estava usando a campanha para prefeito para ressuscitar sua própria carreira, ao invés de traçar planos específicos para cidade que pretendia liderar.
“Encontramos a maneira correta de derrotar o dinheiro organizado, que são pessoas organizadas. Estamos falando de uma escala de campanha que não víamos nesta cidade há muito tempo”, relatou Mamdani à MSNBC. “Em última análise, acreditamos em uma política sem necessidade de tradução, que fale diretamente às lutas da vida dos trabalhadores e também seja aplicada diretamente. E não há nada mais direto do que um nova-iorquino batendo à porta de outro nova-iorquino.”
Depois da vitória de terça-feira, ele será o candidato do Partido Democrata na eleição para prefeito e, dada a forte preferência dos eleitores de Nova York pelo partido, tudo indica que ele ganhará o cargo.
Porém, Cuomo sinalizou que ainda pode concorrer como candidato independente. E o atual prefeito, Eric Adams, eleito como democrata, também participará do pleito como independente – apesar de não ter muita perspectiva de vitória. Sua popularidade despencou devido, em parte, a acusações de corrupção e sua recente aproximação com Trump.
No canto oposto do ringue estará o candidato do Partido Republicano, Curtis Sliwa, um podcaster de direita que fundou a organização beneficente Guardian Angels, focada em segurança nas ruas. Caso o favoritismo de Mamdani se confirme, ele se tornaria o primeiro prefeito muçulmano de Nova York.