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De olho na reeleição, Trump desafia o Congresso no processo de impeachment

O presidente americano também abandonou velhos aliados no Oriente Médio para agradar aos seus eleitores

Por Ernesto Neves Atualizado em 4 jun 2024, 15h27 - Publicado em 11 out 2019, 06h00

A tática não é nova. Desde que supostos deslizes do presidente Donald Trump começaram a ser investigados em variadas comissões da Câmara dos Deputados (atualmente são seis), o governo vem dificultando ao máximo os trabalhos, inclusive negando autorização para que funcionários públicos prestem depoimentos. Quando, há três semanas, um novo escândalo deslanchou a engrenagem que pode desembocar em impeachment, a Casa Branca até tentou seguir a linha do “não tenho nada a temer”: divulgou a transcrição do célebre telefonema em que Trump pressiona outro presidente, Vladimir Zelensky, da Ucrânia, a dar uma mãozinha em sua campanha eleitoral e permitiu que Kurt Volker, enviado especial dos EUA a Kiev até o fim de setembro e íntimo do infame diálogo, falasse aos deputados. Foi um tiro no pé — do relato de Volker se depreende que, além de pressão, houve troca-troca: ou Zelensky investigava possíveis podres do pré-candidato democrata Joe Biden ou não receberia uma ajuda de 391 milhões de dólares.

Lição aprendida, na terça-feira 8 a Casa Branca declarou guerra aberta às investigações que correm na Câmara: não vai mais mexer uma palha para colaborar para “esse esforço ilegítimo de anular o resultado da eleição de 2016”. “Essas ações sem precedentes deixam o presidente sem opção”, escreveu Pat Cipollone, conselheiro da Casa Branca, em um documento oficial. “Em respeito ao cumprimento de seus deveres para com o povo americano, a Constituição, o Poder Executivo e todos os futuros ocupantes da Presidência, o presidente Trump e sua equipe não podem participar desse inquérito partidário e inconstitucional.” Traduzindo: o governo não vai entregar nenhum documento solicitado nem autorizar que qualquer funcionário convocado para depor ponha os pés no lado “inimigo” do Capitólio, a Câmara dominada pelos democratas. Pouco antes de entregar o documento, Gordon Sondland, embaixador americano na União Europeia que foi chamado a Washington, recebeu ordem do Departamento de Estado para não atender a uma convocação de testemunhar perante três comissões sobre o Ucraniagate. “Eu adoraria que o embaixador Sondland, um homem bom e um grande americano, testemunhasse”, escreveu Trump na sua tribuna, o Twitter. “Mas ele falaria diante de um tribunal totalmente viciado, em que os direitos dos republicanos são negados e a verdade não é levada a público”, disparou.

Os líderes dos três comitês que ouviriam Sondland (Relações Exteriores, Inteligência e Supervisão) anunciaram que vão intimá-lo, o que joga a bola para o Judiciário e pode atrasar o andamento dos trabalhos. Eles também subiram o tom das ameaças. “Consideramos essa interferência uma obstrução ao processo de impeachment”, disseram em comunicado — o que, por si só, é motivo de impeachment. “O presidente está impedindo o Congresso de obter fatos necessários. É um abuso de poder ele agir dessa maneira”, atacou Nancy Pelosi, a arqui-inimiga presidente da Câmara que abriu a comporta do impeachment. Esse confronto pode empurrar para além de 3 de novembro de 2020, data da eleição presidencial, a sombra de um afastamento em que os dois lados veem vantagens e desvantagens. Quando a Câmara democrata, enfim, puder encerrar os inquéritos e pedir formalmente o afastamento, o processo passará para o Senado, de maioria republicana. Trump pode ser absolvido — ponto para ele e derrota para os democratas. Mas a divulgação de detalhes potencialmente escabrosos ao longo do processo pode convencer alguns senadores a mudar de posição e votar pelo impeachment — e aí as vantagens se invertem.

À PRÓPRIA SORTE – A Turquia abre fogo na Síria: os americanos foram embora

“É muito provável que vários aspectos do processo cheguem aos tribunais e, eventualmente, à Suprema Corte. A decisão final deve acontecer perto da eleição, ou até depois dela. E, se Trump for reeleito, ganhará força para brecar seu impedimento”, avalia Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano, instituto que analisa assuntos internacionais. Na mesma linha trator que costuma adotar em momentos difíceis, Trump anunciou na terça-feira 8 a decisão de remover as tropas americanas ainda postadas no norte da Síria e entregar à própria sorte os combatentes curdos que aniquilaram de fato a barbárie do califado do Estado Islâmico na região. Os curdos são um espinho na garganta da Turquia — eles querem um país próprio, que inclui parte do território turco; em Ancara são tratados como terroristas (o que tem lá seu traço de verdade). Junto com os americanos, tropas curdas controlam um bolsão grudado na fronteira turca e coalhado de campos de refugiados do terreno que o EI chegou a controlar. A Turquia quer porque quer “limpar” a área à força de bombardeios.

Diante da insistência do presidente turco Recep Erdogan, que já lhe apresentou o pleito muitas vezes, Trump, depois de uma conversa com o colega por telefone, capitulou e anunciou a retirada das tropas americanas. Com essa medida tomada sem consultar ninguém, contrariou seu Departamento de Defesa, seu Departamento de Estado, seus embaixadores, boa parte de seus conselheiros e um bom número de senadores republicanos (aqueles que têm nas mãos o destino do impeachment). Mas agradou imensamente ao eleitorado, que cobra dele a promessa de levar para casa os soldados americanos envolvidos em “guerras sem fim”. Faltando pouco mais de um ano para a eleição, o candidato Trump e o presidente Trump vão ficando cada vez mais cúmplices — e um depende do sucesso do outro.

Publicado em VEJA de 16 de outubro de 2019, edição nº 2656

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