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De guerrilheiro e militante a presidente: a trajetória política de José ‘Pepe’ Mujica

Pepe, como era conhecido, estava com um câncer no esôfago em fase 'terminal' e em 'cuidados paliativos', segundo sua esposa

Por Paula Freitas Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 13 Maio 2025, 17h33 - Publicado em 13 Maio 2025, 17h31

O ex-presidente uruguaio José “Pepe” Mujica, que faleceu nesta terça-feira, 13, aos 89 anos, teve uma trajetória estrondosa na política. Filho de pequenos proprietários agrícolas, ele nasceu em Montevidéu e foi criado ao lado de tios peronistas e nacionalistas. Perdeu o pai cedo, aos 8 anos. Mais velho, passou a integrar a juventude do Partido Nacional (Blanco), mais conservador, ligado à causa rural. Chegou à faculdade, mas trocou os livros de direito — profissão que nunca chegou a pegar o diploma — pela guerrilha, unindo-se ao Movimento de Liberação Nacional-Tupamaros (MLN-T), fundado no contexto da Revolução Cubana de 1959.

Foi preso quatro vezes pela atuação política, a pior delas em 1972. No ano seguinte à prisão, Juan María Bordaberry implementou a Ditadura Militar no país. Mujica foi usado como refém do regime — caso os militantes passassem do ponto, Mujica pagaria o pato e seria executado como símbolo. No cárcere, foi torturado e isolado até 1985, quando foi solto após o fim do autoritarismo e a concessão da anistia.

Abandonou a luta armada e escolheu as urnas. Mujica ajudou a fundar o Movimento de Participação Popular (MPP), abraçado pela coalizão de esquerda Frente Ampla. Foi um legado e tanto, já que o partido, hoje, detém o maior número de deputados. Em 1994, foi eleito deputado federal por Montevidéu. Cinco anos mais tarde, chegou ao Senado e foi reeleito em 2004. No ano seguinte, foi convidado para ser ministro da Agricultura. Ficou por lá até 2008, quando voltou a ser senador para lançar-se à Presidência.

Mujica foi escolhido o candidato da Frente Ampla em 2009, pleito do qual saiu vencedor. Disputou com Luis Alberto Lacalle Pou, que viria a ser presidente de 2020 a 2025. No poder, registrou quedas nos índices de pobreza, ampliou programas sociais e aumentou salários. Não virou a face para temas polêmicos, e foi responsável pela legalização da maconha e do aborto, com direito à atendimento gratuito no sistema de saúde público. Além disso, reconheceu o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Doou dois terços de seu salário para a construção de moradias populares. Ajudou a fortalecer o Mercosul, bloco econômico formado por Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai. Era um entusiasta da integração regional entre países latino-americanos. Depois da Presidência, retornou ao Senado, sendo reeleito mais uma vez, mas deixou o cargo em 2020, durante a pandemia de Covid-19.

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Vida pessoal e doença

Conheceu a esposa, Lucía Topolansky, na década de 1970. Assim como ele, também foi presa na ditadura por fazer parte da militância. Eles se casaram em 2005, mas nunca tiveram filhos. Ela também enveredou pela política, sendo ex-vice-presidente do Uruguai. Na véspera à morte do marido, ela anunciou que o câncer havia alcançado a fase “terminal” e que Pepe estava em “cuidados paliativos”. Topolansky disse que o marido estava “nas últimas” e definiu a situação como um “final anunciado”. 

“Estou com ele há mais de 40 anos e estarei com ele até o fim. Foi o que prometi. O que tentamos fazer é preservar a privacidade da nossa família, mas com um personagem como Pepe, é meio impossível “, acrescentou ela.

O ex-presidente uruguaio foi diagnosticado com um tumor no esôfago em abril do ano passado. Inicialmente, sua equipe médica havia informado que o câncer não era muito extenso, mas Mujica enfrentou uma série de sintomas adversos da radioterapia. Em setembro, ele foi hospitalizado três vezes em menos de dez dias e passou por um procedimento cirúrgico para colocar uma sonda no estômago.

Em janeiro, Pepe havia informado que, depois de realizar 32 sessões de radioterapia, não se submeteria a nenhum outro tratamento para se curar do câncer e pediu aos médicos que não o fizessem “sofrer às custas da família”. Na ocasião, ele fez um apelo durante a entrevista: “O que eu peço é que me deixem em paz. Não me peçam mais entrevistas nem nada. Meu ciclo acabou. Sinceramente, estou morrendo. E o guerreiro tem direito ao seu descanso”.

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