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De Bush a Obama: como a política dos EUA reage aos protestos

Todos os ex-presidentes vivos pediram mudanças e união após morte de George Floyd, enquanto ex-aliados de Trump o acusam de tentar dividir o país

Por Vinicius Novelli Atualizado em 4 jun 2020, 15h49 - Publicado em 4 jun 2020, 15h02

Os protestos contra a morte de George Floyd começam a se aproximar da segunda semana nos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que políticos das mais diversas ideologias entram no debate público para expressar suas opiniões. A divisão entre republicanos e democratas é clara no Congresso americano, e em quase todos os cantos da política nacional.

O ex-presidente democrata Barack Obama incentivou na quarta-feira 3 os jovens que lideraram os protestos a continuarem a realizá-los, para garantir que tragam transformações. Disse ainda que o movimento reflete uma “mudança de mentalidade” sem precedentes na história do país.

Em pronunciamento por videoconferência organizado por sua fundação, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos disse não concordar inteiramente com as comparações dos protestos atuais aos que se seguiram ao assassinato de Martin Luther King em 1968, porque “há algo diferente” nos atuais.

O ex-presidente disse ainda que “embora alguns protestos tenham sido manchados pelas ações de uma minoria que se envolveu em violência, a maioria dos americanos ainda acredita que os protestos são justificados”, algo que, segundo ele, “não teria acontecido há 40 ou 50 anos”. “Está acontecendo uma mudança de mentalidade, um maior reconhecimento de que podemos fazer melhor”, ressaltou.

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George W. Bush, antecessor de Obama e integrante do Partido Republicano, também veio a público comentar a morte de Floyd. Bush, que liderou o país durante os atentados de 11 de Setembro e a invasão do Iraque e do Afeganistão, disse que os Estados Unidos devem examinar “suas falhas trágicas” para acabar com o racismo estrutural do país.

“Essa tragédia – que faz parte de uma longa lista de tragédias semelhantes – levanta uma questão que deveria ter sido levantada antes sobre como acabar com o racismo estrutural em nossa sociedade”, disse o ex-presidente num comunicado. “É hora de os Estados Unidos examinarem seus trágicos fracassos”, concluiu.

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O ex-presidente democrata Bill Clinton afirmou que é impossível não sentir luto pela família de Floyd, “e raiva, repulsa e frustração”. Sua morte é “lembrete doloroso que a raça de uma pessoa ainda determina como ela é tratada em todos os aspectos da vida americana”.

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Já o ex-presidente Jimmy Carter, também democrata, lamentou a morte e disse que a violência não é a solução, mas ressaltou que “o silêncio é pior que a violência”. “Pessoas com poder, privilégios, e consciência moral devem se levantar e falar ‘nunca mais’ para a discriminação racial policial, o sistema judiciário, as disparidades econômicas entre negros e brancos e as ações de um governo que tenta minar a nossa unificada democracia”, afirmou.

“Precisamos de um governo que esteja a altura de suas pessoas, e nós somos melhores que isso”, concluiu a carta.

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O ex-presidenciável e ex-vice-presidente Al Gore afirmou “que temos a obrigatoriedade moral de demandar a igualdade a todos, independentemente da raça, religião, orientação sexual ou status econômico”. Afirmou ainda que o racismo nos Estados Unidos criou um impacto da poluição desproporcional na população de afrodescendente do país, uma vez que, em meio a pandemia de Covid-19, o vírus tem mais facilidade de matar em populações afetadas pelo ar poluído.

Em um artigo publicado pelo jornal The Washington Post, a ex-secretária de Estado no governo de George W. Bush Condoleezza Rice pediu que o sentimento de luto, revolta e choque não seja esquecido rapidamente, e que os americanos continuem lutando contra o racismo mesmo após o fim dos protestos. “A terrível morte de Floyd deve ser suficiente para finalmente nos levar a uma ação positiva”, disse a professora da Universidade de Stanford, que é negra.

Trump ‘quer dividir o país’

Apesar do atual presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, não ter sido diretamente citado pelos ex-presidentes, a crítica de figuras conhecidas pelo publico foram mais enfáticas. Uma delas foi o ex-secretário de Defesa Jim Mattis, que renunciou ao cargo em 2018 em protesto à retirada unilateral do soldados americanos da Síria. Mattis era visto como um dos únicos membros do governo que conseguiriam controlar Trump na Casa Branca.

“Em toda minha vida, Donald Trump foi o primeiro presidente que não tenta unir os americanos, que não pretende sequer tentar”, num texto assinado para a revista The Atlantic. “Ao contrário, ele está tentando nos dividir (…) Somos testemunhas das consequências de três anos sem uma liderança madura”.

Na redes sociais, congressistas democratas criticaram Trump por sua falta de resposta à nova crise no país porque desde o início dos protestos, o presidente apenas ameaçou o uso do Exército para pôr ordem nas ruas. O Pentágono, no entanto, já descartou essa possibilidade.

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Nesta quinta-feira, 4, a senadora republicana Lisa Murkowski defendeu a fala de Mattis contra o presidente, e afirmou que não têm mais certeza se irá apoiar Trump nas eleições de 2020. Murkowski não é a única. Na terça-feira, o também senador republicano Mitt Romney disse que Mattis “é um patriota americano de um serviço e sacrifício extraordinário, além de ter um grande senso de justiça”.

Os posicionamentos dos republicanos, no entanto, divergem. Os aliados de Trump no Congresso concordam em sua maior parte com o presidente e focam na violência isolada dos protestos, enquanto outros parlamentares usam um tom mais ameno para a situação, como no caso do deputado Doug Collins, que disse que “todo mundo tem o direito de se sentir ultrajado e com raiva pela morte de George Floyd. Este momento da história deve ser usado para catalizar uma mudança nas nossas leis e nas comunidades. Mas não pode ser usada para catalisar a pilhagem”.

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