A jornalista e escritora americana Janet Malcolm enxergava o que os outros não viam. Dona de um texto ferino, ancorado em rigorosa apuração de notícias, ela foi um dos grandes nomes do chamado New Journalism — atividade que misturava fato e ficção, mas com um objetivo muito claro, o de expor as verdades. Em 1992, o crítico de literatura Robert Boynton fez o seguinte comentário a respeito do trabalho da companheira de letras: “Nunca coma na frente de Janet Malcolm; ou mostre a ela seu apartamento; ou corte tomates diante dela. Na verdade, não é uma boa ideia conceder a ela uma entrevista, já que cada gesto desagradável e tique nervoso será registrado eventualmente com precisão devastadora”. Autora de um clássico de autocrítica da profissão — O Jornalismo e o Assassino: uma Questão de Ética, de 1989, publicado originalmente na revista The New Yorker —, é dela uma frase repetida à exaustão, irônica e cortante como faca afiada: “Qualquer jornalista, que não seja tão burro ou convencido a ponto de não querer enxergar a realidade, sabe que o que faz é moralmente indefensável”. Morreu em 17 de junho, aos 86 anos, em Nova York, de câncer no pulmão.
O senhor felicidade
Rindo, de sorriso aberto, o psicólogo americano Edward Diener conferiu seriedade a um campo de pesquisa tradicionalmente desdenhado: a felicidade. Sempre se deu prioridade à miséria, à tristeza e ao medo. Diener encontrou um outro caminho. “A felicidade parece estranha, meio frívola”, ele disse em 2017, numa entrevista. “Mas estamos falando da felicidade sustentável, a que você obtém de sua família, trabalho e propósito, tendo objetivos e valores. Bem-estar é muito, mas muito mais do que se divertir.” Em seus trabalhos, resultado de longos depoimentos e acompanhamento de voluntários durante décadas, ele descobriu que dinheiro traz felicidade, mas somente até determinado nível de renda; que relações sociais sólidas e duradouras fazem bem para a saúde. Em tempo: no ranking da felicidade feito numa parceria da ONU com o instituto de pesquisa Gallup, de modo a medir os ânimos em plena pandemia, o Brasil aparece em triste 41ª posição, entre o Japão e a Sérvia. O lugar mais feliz, aqui e agora, é a Finlândia. Diener morreu em 27 de abril, aos 77 anos, em Salt Lake City, mas sua morte só foi anunciada nesta semana. Tinha câncer de bexiga.
Publicado em VEJA de 30 de junho de 2021, edição nº 2744