Datas: Claude Montana, Jacob Rothschild e Ira de Fürstenberg
As despedidas que marcaram a semana

Uma reportagem do jornal The New York Times de 1985 costurou o personagem com rara precisão: “Claude Montana está para os ombros largos como Alexander Graham Bell para o telefone”. Dito de outro modo: os anos 1980 não teriam sido o que foram — exagerados, estridentes e coloridos — sem o traço do estilista Montana, revelado em desfiles parisienses que anteciparam os espetáculos de luz e som de hoje. Sua marca: proporções rompidas, cinturas apertadas, muito amarelo e vermelho. Foi um choque na elegância chique e calma de Yves Saint Laurent e na simplicidade de pegada oriental de Kenzo e Issey Miyake. Contudo, dada a timidez atávica e o jeitão calado, ele nunca conseguiu a fama de dois de seus pares daquele tempo dourado, Thierry Mugler e Azzedine Alaïa. No início dos anos 1990, chegou a ser convidado pela Dior, mas recusou, por saber não ser a sua praia. Depois do auge, mergulhou no álcool e nas drogas, afastado da ribalta, como se fosse uma Greta Garbo da moda, fora de cena antes da hora. Morreu em 23 de fevereiro, aos 76 anos, de causas não reveladas.
Ovelha desgarrada

O sobrenome Rothschild, mais do que qualquer outro na história, talvez, remete a riqueza, luxo, arte, vinhos de qualidade e boa dose de guerra fratricida. Jacob Rothschild — o mais celebrado membro da dinastia de origem alemã que enriqueceu comprando títulos britânicos na véspera da derrota de Napoleão em Waterloo — abriu seu próprio fundo de investimento à margem da família, como ovelha desgarrada, em meados dos anos 1960. Mecenas cuidadoso, era um dos principais investidores da National Gallery de Londres. Desde sempre teve íntima ligação com Israel, que ajudava com instituições filantrópicas. Dado o charme e popularidade, durante muito tempo se disse que o Mr. Burns do desenho Os Simpsons fora inspirado em Jacob — informação que nunca foi negada. Sua morte foi anunciada em 26 de fevereiro — sem detalhes do lugar e data exata, como convém ao mundo sempre um tanto secreto de um Rothschild.
No jet set internacional

Nunca houve uma mulher como Ira de Fürstenberg, batizada como Virginia Caroline Theresa Pancrazia Galdina zu Fürstenberg. A sucessão de nomes era como uma etiqueta de pedigree entre os muito famosos e muito ricos da Europa. Ela nasceu em Roma, de pai austro-húngaro com sangue alemão, o príncipe Tassilo Fürstenberg, e mãe italiana, Clara Agnelli, irmã de Gianni Agnelli, fundador da Fiat. Muito antes das celebridades das redes sociais, muito antes da efemeridade dos dias de hoje, Ira — como era conhecida — fez de tudo e mais um pouco, sinônimo do que, lá na pré-história, se chamava jet set internacional. Foi princesa, claro, mas também atriz de cinema, designer de joias e modelo. Nas palavras do escritor Nicholas Foulkes, autor de uma vasta biografia, “nos anos 1960 e 1970 ela foi o que as Kardashian são hoje”.
Com uma pitada, anote-se, de molho brasileiro. Entre 1961 e 1964, ela foi casada com o playboy paulistano Francisco “Baby” Matarazzo Pignatari, neto do conde Francisco Matarazzo, industrial que deflagrou a industrialização de São Paulo. “Baby” levava a vida a sorrir, bon vivant como poucos. Ira — que chegou a namorar o príncipe Rainier de Mônaco depois da morte de Grace Kelly — morreu em 18 de fevereiro, aos 83 anos, em Roma, de causas não reveladas.
Publicado em VEJA de 1º de março de 2024, edição nº 2882