Na ONU, Coreia do Norte defende lançamento de míssil balístico
Última aparição do país no Conselho de Segurança foi em dezembro de 2017; regime alega que testes nucleares fazem parte do direito de autodefesa

Em uma rara aparição ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, o embaixador da Coreia do Norte, Kim Song, afirmou nesta quinta-feira 13 que o lançamento do míssil balístico intercontinental (ICBM) pelo regime norte-coreano foi um exercício do direito de autodefesa “para deter movimentos militares perigosos de forças hostis e salvaguardar a segurança” no país.
O conselho, composto de 15 membros, se reuniu após Pyongyang testar, nesta quarta-feira 12, seu mais novo ICBM Hwasong-18. De acordo com o enviado do país, a arma é o núcleo de sua força de ataque nuclear.
“Rejeitamos e condenamos categoricamente a convocação do briefing do Conselho de Segurança pelos Estados Unidos e seus seguidores”, disse o embaixador ao conselho.
Segundo os diplomatas, a última vez que um enviado da Coreia do Norte falou em uma reunião do conselho sobre os programas nucleares e de mísseis balísticos foi em dezembro de 2017. No entanto, desde 2006, o país está sob sanções das Nações Unidas que proíbe o desenvolvimento de mísseis balísticos no território.
Nesta sexta-feira, 14, Kim Yo-Jong, a irmã do líder norte-coreano, Kim Jong-un, denunciou “veementemente” a reunião das Nações Unidas, acusando seus membros de serem injustos e tendenciosos. Para ela, os Estados Unidos é um dos grandes culpados pela escalada das tensões na região.
“O preço que os Estados Unidos terão de pagar por nos provocar não será leve”, afirmou Kim, acrescentando que iria pressionar o governo americano por meio de uma “esmagadora” dissuasão nuclear até Washington abandonar sua “política hostil” contra Pyongyang.
Nos últimos anos, o conselho emitiu opiniões divergentes sobre como lidar com a Coreia do Norte. Tanto a Rússia quanto a China, países que possuem poder de veto como os Estados Unidos, Reino Unido e França, concordam que não se deve criar mais sanções contra Pyongyang.
O governo chinês e russo afirmam a necessidade de medidas mais atenuadas e culpam os exercícios militares conjuntos dos Estados Unidos e Coreia do Sul por provocarem o regime norte-coreano. Ao mesmo tempo, Washington acusa Pequim e Moscou de encorajar as atividades balísticas da Coreia do Norte ao protegê-la de mais sanções.
“Rússia e China impediram este conselho de falar com uma só voz. E com esses lançamentos repetidos, Pyongyang demonstra que se sente encorajado”, disse o vice-embaixador americano nas Nações Unidas, Jeffrey DeLaurentis, ao conselho.
DeLaurentis afirmou que Washington está comprometida com a diplomacia “pública e privadamente e em altos níveis” e encorajou diversas vezes o país a se “engajar no diálogo”. No entanto, o vice-embaixador observou que a Coreia do Norte não respondeu a nenhuma das ofertas de negociação.
Já o embaixador da China nas Nações Unidas, Zhang Jun, disse ao conselho que Pequim está comprometida com a desnuclearização da Península Coreana. O país acredita que a solução está no diálogo entre as potências. Zhang descreveu a situação como “tensa” e “cada vez mais conflituosa”. Além disso, ele afirmou que o país está ciente do último lançamento de míssil da Coreia do Norte.
“A Guerra Fria acabou há muito tempo, mas a mentalidade da Guerra Fria persiste. Ela não apenas tornou a questão da Península intratável, mas também intensificou o antagonismo e o conflito em todo o mundo”, declarou.
Nesta semana, Zhang lançou críticas a um comunicado divulgado pelos líderes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) que acusava o governo chinês de desafiar os interesses, a segurança e os valores da aliança militar ocidental com “suas ambições e políticas coercitivas”.
O embaixador chinês reiterou que o conselho era “prolixo” e repetia “ as mesmas velhas melodias cheias de mentalidade da Guerra Fria e preconceitos ideológicos”. Para ele, a o órgão das Nações Unidas deveria fazer um “exame de consciência”.
“A China não causa problemas, nem teme problemas”, disse Zhang. “Estamos prontos para responder com firmeza e força a qualquer ato que viole a soberania e a integridade territorial da China, prejudique o desenvolvimento e os interesses de segurança da China e viole a paz e a estabilidade na vizinhança da China.”