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Como um navio encalhado no Canal de Suez gera caos no comércio mundial

Mais de 200 embarcações aguardam na região; estima-se que bloqueio segure cerca de 400 milhões de dólares por hora em produtos transportados

Por Julia Braun Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 26 mar 2021, 12h41

Um navio de carga de 220.000 toneladas e 400 metros encalhou na última terça-feira 23 no Canal de Suez, no Egito, causando congestionamento náutico e gerando caos em uma das passagens mais importantes para o comércio mundial. O tráfego marítimo poderá levar semanas a voltar ao normal e os prejuízos podem chegar a bilhões de dólares.

O navio Evergreen foi atingido por uma rajada de vento quando ia do Mar Vermelho para o Mediterrâneo, fazendo com que ele bloqueasse a rota. Mais de 200 navios estão atualmente retidos nas extremidades do canal e na área da exploração no meio do canal, causando grandes atrasos nas entregas de petróleo e de outros produtos.

De acordo com o Conselho Mundial de Navegação, a capacidade diária de fluxo do Canal de Suez é de 106 navios. Dessa forma, as embarcações represadas não conseguirão ser liberadas em um único dia. Se o canal fica fechado por dois dias, por exemplo, são necessários mais dois dias após a reabertura para ajustar o trânsito

O Egito reabriu uma das passagens mais antigas do canal para tentar desafogar o tráfego. Mas ainda não se sabe quando o tráfego náutico será liberado e o impacto já é tremendo. Isso porque o canal está em uma rota de navegação que concentra cerca de 12% do comércio marítimo internacional. Suez ainda é a rota marítima mais importante no comércio entre Ásia, Oriente Médio e Europa: 80% das importações e exportações do continente passam por lá.

O transporte de gás natural liquefeito, petróleo bruto e petróleo refinado que passa pelo canal representa de 5% a 10% do movimento marítimo de todo mundo. O restante do tráfego do canal é em grande parte de produtos de consumo, como roupas, móveis, manufatura e peças automotivas.

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Segundo o Lloyd’s List Intelligence, um serviço especializado de informações comerciais dedicado à comunidade marítima global, o bloqueio está segurando cerca de 400 milhões de dólares por hora em comércio e 5,1 bilhões por dia. O aumento nos custos para o transporte deve levar ao aumento dos preços dos produtos para o consumidor, aumentando a pressão sobre a inflação.

“Sem dúvidas, a região mais afetada pelo bloqueio do canal é a Europa. Porém, isso gera um efeito dominó em toda a cadeia logística mundial, incluindo o Brasil. Com o acidente, as demais embarcações têm duas opções: esperar na crescente fila ou adicionar 15 dias na viagem contornando a África”, afirma Antônio Bonassa, professor de Logística na ESPM SP.

Gigantes do comércio marítimo como os grupos Maersk e Hapag-Lloyd, da Alemanha, afirmaram nesta quinta-feira 25 considerar desviar a rota de seus navios e navegar pelo Cabo da Boa Esperança, no sul da África. O desvio acrescentaria 9.000 quilômetros na viagens dos navios e levaria 10 dias a mais.

Outro problema logístico grave a é a escassez de navios causada pelo encalhamento. “Esse atraso no desembarque das mercadorias também irá causar um atraso nos embarques posteriores, provocando escassez de navios e contêineres. Isso afeta muito o transporte de commodities, setor no qual o Brasil é exportador. Já estamos sentindo esses efeitos na cotação dos produtos no mercado, como observado no caso do petróleo”, afirma Antônio Bonassa.

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