Como Trump aniquilou o caminho que Kamala considerava certo para vitória
Democrata contava com os estados do 'blue wall', Michigan, Pensilvânia e Wisconsin, para prevalecer – mas a parede foi varrida pela onda vermelha
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, elevou o número de votos conquistados do Colégio Eleitoral para 292 nesta quarta-feira, 6, após derrotar Kamala Harris no estado de Michigan. O número é maior que os 270 votos necessários para que ele fosse eleito e também significa que ele passou por cima do caminho com o qual a democrata mais contava para vencer o pleito.
Trump não apenas venceu em todas as unidades da federação em que liderava a disputa como conquistou vários dos estados-pêndulo, apontados como cruciais para definir as eleições (alguns ainda estão terminando a contagem). Entre eles, Wisconsin, Michigan e Pensilvânia, três dos tijolos do chamado blue wall, o conjunto de unidades da federação do nordeste do país que tradicionalmente opta pelos democratas.
Esses três estados eram vistos como o caminho mais certo para a vitória de Kamala no Colégio Eleitoral, órgão que conta com 538 delegados distribuídos entre todos os Estados e Washington, D.C., segundo a população e o número de congressistas. Um candidato precisa de maioria simples (pelo menos 270) para vencer.
Trump conseguiu o mesmo feito em Wisconsin, Michigan e Pensilvânia em 2016, quando derrotou Hillary Clinton. O atual chefe da Casa Branca, Joe Biden, superou o republicano nesses estados em 2020.
Michigan
Ao contrário de Clinton em 2016, Harris fez uma campanha intensa na região durante setembro e outubro. A vice-presidente passou o domingo todo em Michigan, mas não conseguiu igualar o nível de apoio de Biden, principalmente no condado de Wayne, onde Detroit oferece um tesouro de votos democratas.
A campanha de Harris tinha temores de que o descontentamento entre os democratas na área metropolitana de Detroit, em especial sobre a forma como o governo Biden lidou com a guerra entre Israel e o Hamas, poderia prejudicar sua campanha. Pode ser que tenha sido o caso.
Trump também foi bastante ativo na região, levando dezenas de comícios aos estados do blue wall, e melhorou suas margens nos três locais em relação a 2020.
Pensilvânia
Na Pensilvânia, a corrida foi intensa. Ambos os candidatos viam seus 19 delegados como cruciais para seu sucesso. Os dois visitaram o estado mais de 12 vezes cada um e passaram um bom tempo por lá na véspera do dia da eleição. Os gastos com propaganda eleitoral na Pensilvânia totalizaram mais de 500 milhões de dólares.
Ambas as campanhas também priorizaram o alcance da crescente população latina do estado. Estima-se que 580.000 pessoas de origem hispânica estavam habilitados a votar nas eleições deste ano, quase 6% do eleitorado da Pensilvânia. De acordo com pesquisas de boca de urna da CNN, 57% votaram em Harris e 42% em Trump (uma margem muito menor do que em 2020).
Além disso, menos eleitores do que o esperado compareceram às urnas na Filadélfia, capital da Pensilvânia, que como quase todo centro urbano moderno nos Estados Unidos dá vitória aos democratas. Uma combinação de perda de eleitores para o candidato republicano e falta de mobilização pode ter custado a vitória de Kamala por lá.
Wisconsin
Tanto Trump quanto Harris e seus vice-candidatos fizeram paradas frequentes em Wisconsin, incluindo várias nas áreas populosas de Milwaukee, Madison e Green Bay. A margem de vitória nas últimas eleições presidenciais foi de menos de 1 ponto percentual em 2020, 2016, 2004 e 2000.
Em 2016, Clinton perdeu no estado, apesar de ter vencido no condado de Milwaukee, com 66% dos votos, no condado de Dane, onde fica Madison, com 71%, e em LaCrosse, com 52%. Quatro anos depois, Biden melhorou o desempenho democrata nesses três condados em 3 a 5 pontos percentuais, o que o ajudou a garantir uma vitória apertada em Wisconsin.
Para os candidatos republicanos, vencer os condados conservadores “WOW” (Waukesha, Ozaukee e Washington), nos subúrbios de Milwaukee, pode ajudar a compensar o forte apoio democrata nos centros urbanos – e parece ter sido suficiente desta vez.