Como a Alemanha mantém pleno emprego, mesmo diante de uma pandemia global
Saiba como funciona o Kurzarbeit, sistema que agora é copiado por Inglaterra, França e Itália
![MUNICH, GERMANY - MAY 28: German Chancellor and Chairwoman of the German Christian Democrats (CDU) Angela Merkel holds a beer mug after her speech at the Trudering fest on May 28, 2017 in Munich, Germany. The CDU and CSU, along with the German Social Democrats (SPD), form the current German coalition government, though relations between Merkel and Seehofer have been complicated as the two have clashed over certain issues, especially immigration. (Photo by Sebastian Widmann/Getty Images)](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/05/angela-merkel-cerveja-20170528-0017.jpg?quality=90&strip=info&w=1125&h=720&crop=1)
Ao confinar quatro bilhões de pessoas em casa, o novo coronavírus produziu um rastro de destruição na economia poucas vezes visto na humanidade. O Grande Confinamento, termo usado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para designar a atual recessão, deverá deixar 305 milhões de desempregados em 2020.
Só nos Estados Unidos, 40 milhões de pessoas, ou 25% da população, já enfrentam o problema, percentual só visto durante a Grande Depressão dos anos 1930. Na Índia, 100 milhões viram-se sem o sustento da noite para o dia. E no Brasil, 1 milhão de postos com carteira assinada evaporaram.
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![Coronavírus: ninguém está imune](https://veja.abril.com.br/wp-content/uploads/2020/05/capa-de-veja-2688-v-1.jpg?quality=70&strip=info&w=1024&crop=1)
Mas esse efeito perverso pode ser evitado. É o que mostra a Alemanha, país que, segundo o FMI, deve encerrar 2020 com desemprego na faixa dos 4%. Ou seja, em invejável situação de pleno emprego.
Esse cenário confortável, porém, não significa que os alemães foram poupados pela crise. O PIB do país deve fechar o ano com queda de 7%, o maior tombo desde a Segunda Guerra Mundial. O segredo está num programa conhecido como Kurzarbeit (trabalho de curta duração).
Trata-se de uma política pública em que o governo assume parte da folha de empresas que estão em dificuldades. A medida pode ser estendida por até 21 meses, tempo mais que suficiente para que os empresários se recuperem.
Assim, o estado passa a pagar até 80% dos salários dos funcionários, uma ajuda que pode chegar a até 5.000 euros mensais. Assim, os empresários tem alívio imediato no caixa, e os empregados recebem a garantia que não serão demitidos enquanto durar o cenário adverso.
Desde março, quando a pandemia se intensificou, o Kurzarbeit se expandiu rapidamente. Segundo o Ministério do Trabalho alemão, ao menos 9 milhões de empregados, ou 20% da força de trabalho, estão sendo assistidos pelo programa, um número inédito. Eles pertencem, sobretudo, à indústria, setor fundamental à poderosa máquina exportadora alemã.
Especialistas creditam a rápida recuperação da Alemanha em crises anteriores, como a recessão de 2009, ao Kurzarbeit. Ao permitir que empresas mantenham boa parte dos trabalhadores, mesmo os de maior salário e qualificação, a iniciativa não só suaviza a contração econômica quando o cenário é adverso, como também encurta a duração das crises. “Como não tem medo de perder o emprego, as pessoas podem seguir consumindo, o que mantém a roda da economia girando”, diz Anelies Goger, especialista em desigualdade do Brookings Institution, de Washington.
Uma eficácia que, por sinal, já havia sido demonstrada em outros períodos de grande incerteza. O Kurzarbeit é, na verdade, centenário, e remonta ao conturbado início do século XX. Sua estreia aconteceu às vésperas da Primeira Guerra (1914-1918), sendo utilizado ainda na reconstrução que se seguiu ao segundo conflito global (1939-1945). À época, ajudou um enorme contingente de alemães na travessia de crises econômicas e sociais.
O sucesso é tanto que o programa vem sendo copiado na Europa. No momento, França, Itália, Espanha e até o Reino Unido, país que costuma rejeitar maiores regulações sobre a economia, têm cerca de 20% de seus trabalhadores beneficiados por programas do tipo.