Comissão da Câmara revoga honraria concedida por Lula a Assad, ditador deposto na Síria
Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, de maior prestígio brasileiro, foi dado ao então presidente sírio em julho de 2010
A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados aprovou nesta quarta-feira, 11, um decreto para revogar uma condecoração concedida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Bashar al-Assad, ditador da Síria que foi deposto na semana passada por rebeldes. O Grande Colar da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul, de maior prestígio brasileiro, foi dado ao então presidente sírio em julho de 2010, no segundo mandato de Lula.
A proposta, de autoria do deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), foi elaborada em 2018. O relator do projeto, o deputado Rodrigo Valadares (União-SE), citou uma série de acusações contra Assad, incluindo crimes contra a humanidade, uso de armas químicas, desaparecimentos forçados e tortura. O texto destacou, ainda, a “conduta indigna e criminosa do tirano sírio perante o povo de seu próprio país e da comunidade internacional”.
A Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul é uma forma de reconhecimento do governo brasileiro a personalidades estrangeiras notáveis. O projeto frisou, então, que “é de público conhecimento que o agraciado, Bashar al-Assad exerce a presidência da Síria de forma ditatorial desde julho de 2000”, acrescentando que o presidente se mantinha no poder “mediante um brutal sistema repressivo, sendo reeleito em processos eleitorais em que concorre sem oposição, e cuja lisura é questionada tanto dentro de seu país quanto por organismos internacionais”.
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Queda de Assad
A autoria dos levantes é reivindicada pelo grupo Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que nasceu a partir de uma ramificação da Al-Qaeda. No final de novembro, eles tomaram Aleppo, a segunda maior cidade da Síria. Na última quinta, 5, chegaram a Hama e, neste sábado, mais cedo, cercaram Homs. Todas essas cidades são consideradas estratégicas, seja pela localização, seja pelas rotas em direção a países vizinhos.
A queda de Assad marca o fim de uma dinastia de mais de 50 anos. No poder desde 2000, o líder comandou com repressão o país depois de herdar a cadeira do pai, Hafez al-Assad, também presidente por mais de 30 anos.
A guerra civil síria começou há 13 anos, durante a Primavera Árabe, e se transformou em um conflito sangrento e multifacetado envolvendo grupos de oposição domésticos, facções extremistas e potências internacionais, incluindo os Estados Unidos, o Irã e a Rússia. Mais de 500.000 sírios morreram e milhões fugiram de suas casas.