Combate ao Hamas não justifica ofensiva de Israel em Gaza, diz chanceler da Alemanha
Chanceler da Alemanha criticou crise humanitária no enclave palestino e disse que ligará para o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu

O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, afirmou nesta segunda-feira, 26, que a campanha militar de Israel na Faixa de Gaza não pode mais ser justificada como uma guerra contra o grupo radical Hamas devido à grave crise humanitária que assola o enclave. Mais de 53 mil palestinos foram mortos desde o início do conflito, em outubro de 2023, e quase toda a população de Gaza enfrenta “risco crítico” de fome e “níveis extremos de insegurança alimentar”, de acordo com a Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar (IPC).
“Prejudicar a população civil dessa forma, como tem acontecido cada vez mais nos últimos dias, não pode mais ser justificado como uma luta contra o terrorismo do Hamas”, disse o chanceler alemão à emissora alemã WDR. “Não entendo mais o que o Exército israelense está fazendo na Faixa de Gaza, com que objetivo a população civil está sendo impactada dessa forma.”
Merz também revelou que telefonará para o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, para pedir a ele “não exagerar”, ainda que a Alemanha seja mais cautelosa em criticar Israel por “razões históricas”. Ele, no entanto, argumentou que “quando os limites são ultrapassados, quando o direito internacional humanitário é violado, então, o chanceler alemão também deve se manifestar”.
Embora tenha destacado que a Alemanha continuará a ser “o parceiro mais importante de Israel na Europa”, Merz afirmou que “o governo israelense não deve fazer nada que seus melhores amigos não estejam mais dispostos a aceitar”. Ataques de Israel contra Gaza mataram mais de 50 pessoas nesta segunda-feira, sendo 33 delas deslocados que se abrigavam em uma escola, segundo a Defesa Civil do território palestino. Bombardeios separados foram registrados em Khan Younis, no sul, Jabalia, no norte, e Nuseirat, no centro da Faixa de Gaza.
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Críticas generalizadas
Trata-se de um aumento do tom de uma gama de países contra a campanha militar israelense em Gaza. A União Europeia (UE) anunciou na última quarta-feira, 21, que revisará os laços comerciais com Israel devido à crise humanitária palestina. . A chefe de política externa do bloco, Kaja Kallas, afirmou que Comissão Europeia, braço executivo da UE, reavaliará o Acordo de Associação UE-Israel, que regula as relações políticas e econômicas entre os dois lados através do livre comércio.
A decisão, segundo ela, foi aprovada por uma “forte maioria” dos ministros dos 27 países membros. A movimentação da UE ocorreu um dia após o governo britânico suspender as negociações de livre comércio com Israel e impor novas sanções contra assentamentos na Cisjordânia. Na semana passada, Reino Unido, França e Canadá ameaçaram “ações concretas” contra Israel em comunicado.
O trio também se opôs “a qualquer tentativa de expandir os assentamentos na Cisjordânia” e afirmou que, apesar de apoiar o direito de defesa israelense, não ficaria “de braços cruzados enquanto o governo (de Benjamin) Netanyahu realiza essas ações atrozes”.
O alerta foi seguido por uma declaração conjunta assinada por 22 países, que exige que Israel passe a “permitir a retomada total da ajuda a Gaza imediatamente e permitir que a ONU e as organizações humanitárias trabalhem de forma independente e imparcial para salvar vidas, reduzir o sofrimento e manter a dignidade”.
“Quero deixar registrado hoje que estamos horrorizados com a escalada de Israel”, reforçou o primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, ao Parlamento do Reino Unido nesta terça-feira. “Precisamos coordenar nossa resposta, porque esta guerra já dura tempo demais. Não podemos permitir que o povo de Gaza morra de fome.”
Além disso, Starmer repetiu o apelo para um cessar-fogo em Gaza e argumentou que uma trégua era a única forma de libertar os reféns mantidos pelo grupo palestino radical Hamas. Ele disse, ainda, que a a quantidade básica de ajuda humanitária permitida por Israel é “completamente inadequada”.
Ainda na segunda-feira, o primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, também apelou para que Israel seja excluído de eventos culturais internacionais. Ele destacou que não se deve “permitir padrões duplos, nem mesmo na cultura” e criticou aqueles que defendem “um setor cultural insípido, silencioso e equidistante”.