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Com força renovada, os radicais ganham o poder em Israel

Netanyahu volta à cena pela sexta vez e leva para dentro do governo a ala mais extremista e religiosa da direita israelense

Por Amanda Péchy 26 nov 2022, 08h00

No ciclo de votações inconclusivas em que Israel está mergulhado, em que ninguém consegue maioria decisiva no Parlamento de 120 cadeiras, a do ano passado — a quarta em dois anos — trouxe um arremedo de reação: partidos de todos os matizes se uniram para desalojar do posto o eterno primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, enrolado em um processo por corrupção e desgastado por coalizões que não se sustentavam. Ninguém punha fé que o esdrúxulo bloco de governo, composto de esquerda, direita, árabes e antagonistas históricos, fosse durar — e não durou. Em novembro, os israelenses, cansados da urna, foram de novo votar, e quem voltou ao poder? Ele mesmo, o bom e velho Netanyahu, no comando da nação pela sexta vez. Esse retorno, no entanto, se deve menos à força da sua personalidade — Israel está dividido entre os prós e os contras Bibi — do que à sua habilidade em criar alianças.

O Parlamento agora empossado tem 64 deputados (uma maioria confortável para os padrões locais) engajados na coalizão liderada por Netanyahu, sendo 32 de seu partido, o Likud, e catorze do Sionismo Religioso, fusão de três legendas nanicas de extrema direita a quem ele prometeu mundos e fundos para juntar seus candidatos em uma frente única. Saídos das sombras e liderados pelo ultrarradical Itamar Ben-Gvir, eles se tornaram a terceira maior força parlamentar e empurraram Israel para o governo mais direitista da história.

ESCALADA - Protesto palestino: a segurança foi tema da eleição -
ESCALADA - Protesto palestino: a segurança foi tema da eleição – (Mahmud Hams/AFP)

A plataforma dos três partidos — Sionista Religioso, Força Judaica e Noam — é tão radical que, até agora, a própria direita moderada de Netanyahu queria distância. Eles defendem a anexação de assentamentos judeus na Cisjordânia, uma medida ilegal perante a comunidade internacional, a deportação de árabes israelenses considerados “desleais” e o controle político do sistema judicial (uma mão na roda para o processado Netanyahu). Sua maior estrela, Ben-Gvir, 46 anos, líder do Força Judaica, começou a carreira no Kach, movimento virulentamente antiárabe que acabou qualificado como organização terrorista e banido (o próprio Gvir queria, mas não serviu no Exército por ser considerado ameaça à segurança nacional). O Noam é abertamente homofóbico e misógino e opõe o “Israel puro” (religioso ortodoxo) ao “mundo podre e agonizante fora dele” (toda a sociedade secular). O Sionista Religioso, por sua vez, defende a supremacia judaica. “A população não é radical, mas se sente sem opções moderadas que representem seus interesses, como a preservação do território e a identidade judaica”, diz Toby Greene, professor de política da Universidade Bar-Ilan, em Tel Aviv.

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Com a implosão da esquerda (o Partido Trabalhista, primeiro a governar o país, fez seis deputados) e um centro pouco confiável, é na direita que os eleitores depositam a esperança de resposta à preocupação com a segurança, diante de uma escalada de conflitos com palestinos, e ao temor de que a pressão internacional resulte em concessões que comprometam seu território — terrenos propícios para a proliferação de ideias extremistas. Ao contrário do rame-rame das eleições anteriores, esta produziu um fato novo: instalou o radicalismo no governo. E neste momento transformador da política israelense parece que é Bibi, o mágico articulador de compromissos, que terá de se submeter à influência dos radicais da extrema direita.

Publicado em VEJA de 30 de novembro de 2022, edição nº 2817

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