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Colunistas de VEJA analisam vitória de Trump nas eleições americanas

O editor Ricardo Ferraz, em Washington, e a editora Vilma Gryzinski analisam o futuro do país, do Brasil e do mundo

Por Da Redação Atualizado em 6 nov 2024, 17h50 - Publicado em 6 nov 2024, 16h36

Em VEJA+ e no YouTube de VEJA, Marcela Rahal comanda um programa especial em torno da vitória de Donald Trump contra Kamala Harris. O editor Ricardo Ferraz, em Washington, D.C., e a editora Vilma Gryzinski analisam o futuro do país, do Brasil e do mundo com o retorno do republicano à Casa Branca.

Como foi a vitória de Trump sobre Kamala

Com força e estardalhaço, demonstrando controle total do Partido Republicano na marcha eleitoral, o ex-presidente Donald Trump derrotou a vice-presidente Kamala Harris nesta quarta-feira, 6, e voltará à Casa Branca, em um ciclo repleto de reviravoltas, processos e tentativas de assassinato.

Vitorioso nos chamados swing states, ou estados-pêndulo, capazes de oscilar a contagem de votos do Colégio Eleitoral, Trump deixou Kamala sem saídas viáveis para reverter a desvantagem, ultrapassando os 270 delegados necessários para chegar à Casa Branca. Depois de levar Wisconsin, ele atingiu a marca de 277 delegados, eliminando quaisquer caminhos possíveis de vitória para Kamala.

Com a vitória, o republicano será o primeiro presidente a cumprir dois mandatos não consecutivos desde Grover Cleveland, em 1892, e apenas o segundo na história.

“Era de ouro da América”

Após projeção de vitória na Pensilvânia, que o colocou a uma pequena distância da vitória nacional, mas ainda sem os votos necessários, o ex-presidente subiu ao palco em West Palm Beach, na Flórida, junto da esposa, de familiares, de seu vice, J.D. Vance, e do presidente da Câmara, o republicano Mike Johnson, para discursar. No momento, apenas a Fox News havia projetado a vitória do republicano, embora outras emissoras reconhecessem que era apenas questão de tempo.

Aos gritos de “USA! USA! USA”, o republicano disse ter feito o “maior movimento político de todos os tempos”.

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“Quero agradecer à população americana por ter sido eleito o 47º presidente”, afirmou. “Agora, vamos ajudar o nosso país a se curar. Nosso país precisa de ajuda urgente. Vamos consertar nossas fronteiras e vamos consertar tudo sobre nosso país”, disse o magnata, que melhorou seu desempenho em relação a 2020, quando perdeu para Joe Biden em todas as faixas, de áreas rurais a centros urbanos.

Ele também prometeu aos americanos que “todos os dias estarei lutando por vocês” e disse que inauguraria a “era de ouro da América”, afirmando que esse momento “ajudará o país a se curar”. Além disso, em referência ao ataque a tiros em que levou uma bala de raspão na orelha, o republicano ressaltou que “Deus poupou minha vida por um motivo”.

“E esse motivo era salvar nosso país e restaurar a grandeza dos Estados Unidos. E agora vamos cumprir essa missão juntos”, declarou. “A tarefa diante de nós não será fácil, mas trarei cada grama de energia, espírito e luta que tenho em minha alma para o trabalho que vocês me confiaram”, acrescentou.

Junto à conquista, o Partido Republicano também retomou a maioria no Senado dos EUA, após virar as cadeiras democratas em West Virginia e Ohio, conquistando o importante poder de confirmar o gabinete do próximo líder da Casa Branca, assim como um novo juiz da Suprema Corte, que já é de maioria conservadora. Comemorando a vitória na casa legislativa, Trump afirmou que “a América nos deu um mandato poderoso e sem precedentes”.

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Volta por cima

Sob um cenário de indefinição e pesquisas de opinião que mostravam uma disputa voto a voto, Trump entrou no dia da eleição com uma chance de 50-50 de recuperar a Casa Branca, uma reviravolta notável em relação a 6 de janeiro de 2021, quando muitos especialistas declararam que sua carreira política estava encerrada. Naquele dia, uma multidão de apoiadores invadiu o Congresso em uma tentativa violenta de anular os resultados da eleição de 2020, vencida por Biden.

A estratégia de buscar apoio entre hispânicos, eleitores tradicionalmente democratas, e entre famílias de baixa renda que sentiram fortemente o impacto dos aumentos de preços desde a última eleição presidencial em 2020, deu certo. Ele conquistou 45% dos eleitores hispânicos em todo o país, atrás de Harris, com 53%, mas com alta de 13 pontos percentuais em relação a 2020.

Cerca de 31% dos eleitores disseram que a economia era sua principal questão e votaram em Trump por uma margem de 79% a 20%, de acordo com pesquisas de boca de urna. Cerca de 45% dos eleitores em todo o país afirmaram que a situação financeira de suas famílias estava pior hoje do que há quatro anos e eles favoreceram Trump por 80% a 17%.

O que esperar do novo mandato

A plataforma do Partido Republicano estabelece um plano de vinte pontos para revitalizar a economia dos Estados Unidos, fortalecer as fronteiras e interromper o que classifica de “declínio americano”. A agenda inclui expandir o poder do presidente, espalhar aliados pela máquina administrativa, reformular o Departamento de Justiça e usar seus mecanismos para processar adversários e desidratar agências reguladoras.

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Na política externa, Trump seguirá na linha do primeiro mandato, dando pouca atenção ao que não diz respeito diretamente aos EUA e interferindo sem disfarces no que afeta o país — estratégia que deve comprometer alianças com entidades como a Otan, levar a um corte na ajuda militar à Ucrânia no esforço de guerra contra a Rússia e reforçar a posição de dureza do governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

Na economia, Trump promete ser uma máquina ceifadora de impostos, tanto da população em geral — sobre gorjetas, sobre horas extras, sobre gastos com o cuidado de idosos e até sobre o imposto de renda —, que sonha recuperar o poder aquisitivo pré-pandemia, quanto das grandes corporações, como forma de acelerar o crescimento do PIB.

É ainda intenção de Trump penalizar empresas que transfiram operações para o exterior e premiar as que voltem a produzir em solo americano. Na mesma seara protecionista, ele pretende compensar a perda da receita tributária impondo tarifas sobre tudo o que vem de fora.

Sob o argumento de que assim estará protegendo empregos e indústrias americanas, o republicano antecipa taxar em até 20% todas as importações e em 60% as da China, com quem abriu uma guerra comercial no primeiro mandato e dá indícios de querer apertar ainda mais os parafusos agora. São propostas ousadas — segundo o banco suíço UBS, só as tarifas provocariam uma contração de até 10% no mercado de ações.

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