Colin Powell: um diplomata guerreiro
Ex-secretário de Estado americano morreu em 18 de outubro, aos 84 anos, em Nova York, de complicações de Covid-19

Um modo de entender a dimensão histórica do general Colin Powell, secretário de Estado americano de 2001 a 2005, durante a Presidência do republicano George W. Bush, é acompanhar a reação dos democratas. “Colin personificava os mais elevados ideais de guerreiro e diplomata”, disse o presidente Joe Biden. “Ele nunca negou o papel que a raça desempenhou em sua própria vida e em nossa sociedade de forma mais ampla”, sublinhou Barack Obama. Filho de imigrantes jamaicanos, Powell ingressou no Exército em 1958, aos 21 anos, e rapidamente encaminhou uma carreira promissora. Depois de trabalhar como conselheiro de Segurança Nacional de Ronald Reagan nos derradeiros anos da Guerra Fria (1988 e 1990), foi nomeado chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos Estados Unidos no governo de Bush pai, durante a primeira Guerra do Golfo, em 1991. Tinha apenas 52 anos, o mais jovem oficial a ocupar o posto e o primeiro de origem afro-americana. Coube a ele costurar uma consistente aliança internacional, que incluía o apoio da Arábia Saudita. Antes dos ataques contra o Iraque de Saddam Hussein, contudo, tentou ao máximo evitar o confronto bélico. Era a implementação de uma estratégia que seria apelidada de “Doutrina Powell”. Ele acreditava que os Estados Unidos não deveriam recorrer à força militar até que todos os meios diplomáticos e políticos fossem esgotados. Caso fosse decidida a ação armada, o caminho seria o uso de força máxima, para subjugar o inimigo rapidamente — com o necessário apoio do Congresso e da sociedade.
A doutrina funcionou naquele episódio do início dos anos 1990, mas foi severamente criticada por seus pares logo após os atentados de 11 de setembro de 2001, quando Powell era secretário de Estado. Ele pedia cautela na deflagração da chamada Guerra ao Terror — na contramão do que pensavam Bush e o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, defensores da intervenção americana mesmo sem o apoio internacional. Teve de ceder. Apoiaria, em 2003, a invasão do Iraque. Contudo, um ano e meio depois da deposição e morte de Saddam Hussein, Powell assumiria o mais grave erro de sua vida, ao admitir que as informações de Inteligência sugerindo que o ditador iraquiano tinha “armas de destruição em massa” estavam equivocadas. Fez a confissão e anunciou sua renúncia. Powell morreu em 18 de outubro, aos 84 anos, em Nova York, de complicações de Covid-19. Já havia sido duplamente vacinado, mas seu sistema imunológico estava enfraquecido em decorrência do tratamento contra um mieloma múltiplo, um tipo de câncer que afeta a circulação sanguínea.
Publicado em VEJA de 27 de outubro de 2021, edição nº 2761