Charlie Kirk: a escalada do ódio
Não é de hoje que o ódio fermenta nos palanques dos Estados Unidos

O recente assassinato de Charlie Kirk, o ativista com quem Donald Trump contava para mobilizar milhões de jovens em torno da face mais conservadora do Partido Republicano, deu novos contornos à escalada da violência no ultrapolarizado caldo da política americana. Aos 31 anos, Kirk foi alvejado em plena luz do dia justamente quando dava voz a ideias extremadas da direita, na Universidade de Utah Valley, por um rapaz que, de acordo com as investigações do FBI, namorava uma pessoa trans, grupo na mira dos trumpistas, e já teria manifestado aversão ao aliado do presidente. Nestes tempos em que a internet faz tudo reverberar em escala global, o caso insuflou um protesto de mesma coloração radical em Londres, no sábado 13, que tinha como propósito original agitar bandeiras anti-imigração, mas também expôs indignação em relação à morte do ativista — um ato execrável que colide com a noção civilizatória mais elementar. Não é de hoje que o ódio fermenta nos palanques dos Estados Unidos — só em 1968, Martin Luther King, figura maior na luta contra a discriminação racial, e o senador Robert Kennedy foram vítimas desse mal que vem ganhando envergadura conforme as redes o amplificam. Nos últimos doze meses, há registro de uma centena de episódios em que poderosos de alçadas diversas foram alvo da ira alheia em solo americano, um avanço de 40% em um ano. Outra diferença para esta era tomada por extremos é que, no lugar de fazer baixar a poeira, altos quadros do governo, a começar pelo próprio Trump, trataram de aprofundar as rachaduras na sociedade. “Isso é terrorismo da esquerda e vamos achar cada um dos que contribuíram para tal atrocidade”, bradou o ocupante da Casa Branca. É o tipo de ameaça que só atiça a triste chama do radicalismo.
Publicado em VEJA de 19 de setembro de 2025, edição nº 2962