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Champanhe do século XIX é encontrada no fundo do mar

Garrafas estavam quase todas intactas. Cada uma pode valer até 70.000 dólares

Por The New York Times
19 dez 2010, 15h33

O leito do mar Báltico demonstrou que é uma adega perfeita, com temperatura de 4 graus, escuridão total e pressão suficiente para manter as rolhas presas

Quando Christian Ekstrom, que trabalha como motorista em Mariehamn, na Finlândia, finalmente pode explorar uma escuna de dois mastros naufragada que conhecia há anos, encontrou garrafas, muitas garrafas e levou uma delas para a superfície.

“Eu disse, vamos provar um pouco de água do mar”, contou, entre sorrisos, enquanto bebia um café dias atrás. “Assim, bebi diretamente do gargalo. Foi nesse momento que me dei conta: isso não é água do mar.”

Ekstrom, de 31 anos, um homem pequeno com uma mecha de cabelo ruivo, levou a garrafa para especialistas nesse povoado de 11 mil habitantes na ilha Aland, que fica no meio do caminho entra a Finlândia e a Suécia. Depois levou-as para a Suécia e finalmente para a França.

Ainda que a garrafa não tivesse rótulo, a rolha tinha marcas que deixavam claro que era uma garrafa de Juglar, um premiado champanhe francês que deixou de ser vendido com esse nome depois de 1830, quando passou a se chamar Jacquesson, em homenagem a outros dos proprietários da casa produtora. Continua como um dos menores produtores, porém um dos mais finos, de champanhes francesas. “Ainda se podia ver as borbulhas, e se notava sua claridade”, disse Ekstrom.

O naufrágio de quase 23 metros, a 48,5 metros de profundidade, também tinha outras cargas: caixas cheias de uvas, murchas há muito tempo, tapetes, sementes de café, especiarias, entre as quais pimenta branca e do reino, assim como quatro garrafas de cerveja.

Sem contar a que Ekstrom bebeu, os mergulhadores logo descobriram um carregamento que chegava a 172 garrafas de champanhe. Quatro estavam quebradas, mas 168 permaneciam intactas e no começo de agosto foram retiradas e levadas a terra firme, armazenadas em Mariehamn. O leito do mar Báltico demonstrou que é a adega perfeita, com temperatura de 4 graus, escuridão total e pressão suficiente para manter as rolhas presas.

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“Onde fica Aland?” – Não foi fácil encontrar ajuda para reconhecer a descoberta. “Foi muito difícil fazer com que alguém nos escutasse”, disse Ekstrom. Quando se colocou em contato com a Veuve Clicquot, uma das maiores casas de champanhe da França, em busca de experiência, uma voz no telefone disse a ele: “É uma história fantástica, mas tenho que perguntar a você: onde fica Aland?”

Lentamente, a história circulou pelo mundo da champanhe, e especialistas do exterior, em novembro, incluindo gente da Jacquesson e Veuve Clicquot, foram convidados a Aland para substituir as rolhas degradadas de dez garrafas, e para uma degustação. Nesse ínterim, a champanhe havia se tornado propriedade do governo local, que tem direito sobre qualquer coisa encontrada em naufrágios que tenha mais de cem anos de antiguidade.

As primeiras três garrafas que tiveram as rolhas trocadas eram Juglar, mas no fundo da quarta rolha estavam a estrela e a âncora da Veuve Clicquot. A estrela representa um cometa que cruzou os céus da França em 1811 e, supostamente, deu origem a safras fabulosas. “Pensei, madame Clicquot está nos observando”, disse Ekstrom.

Em outra sessão para colocar novas rolhas, apareceram mais garrafas de Veuve Clicquot. François Hautekeur, vitivinicultor que estava presente, destacou o sobrenome Werle gravado no fundo da rolha, que faz referência a Edouard Werle, o homem que assumiu em 1830 boa parte do negócio da viúva Clicquot, cujo nome real era Barbe Nicole Clicquot – Ponsardin quando solteira – que herdou a empresa de seu marido em 1805 e a administrou até sua morte. “Portanto, é posterior a 1831”, notou Hautekeur.

Jean-Herve Chiquet, cuja família hoje é proprietária e operadora da Jacquesson, a casa que absorveu a Juglar, disse que a forma das garrafas e o uso do nome Juglar indicavam que a champanhe era do final da década de 1820 e talvez tenha sido armazenada por algum tempo antes de ser embarcada.

Estava “tomado pela emoção”, disse, quando provou pela primeira vez a champanhe na operação para colocar novas rolhas nas garrafas, em novembro. “Tinha um aroma potente, mas agradável, notas de frutas secas e tabaco, assim como uma notável acidez”, disse Chiquet. A champanhe mais antiga do inventário da Jacquesson data de 1915, disse.

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Corte do czar – É provável que a champanhe estivesse a caminho da corte do czar Alexandre II, em São Petersburgo, quando o cargueiro, feito de madeira, afundou. Ainda que não se conheça a data exata da champanhe, ela enfrenta uma dura competição na categoria dos champanhes mais antigos.

A casa Perrier-Jouet alega que sua safra de 1825 é a champanhe mais antiga cuja existência está registrada. Hautekeur disse que a garrafa mais antiga da Veuve Clicquot para beber era de 1904.

Do seu lado, Richard Juhlin, autor sueco de vários livros sobre champanhe, disse que notava “grandes variações” nas primeiras dez garrafas que provaram, “da água do mar até um magnífico trago”. Depois de supervisionar a colocação das novas rolhas, disse que tanto a Juglar quanto a Veuve Clicquot “tinham em comum um aroma maduro, quase a queijo de vaca, brie ou vacherin, quase muito forte”, combinado com uma “doçura similar à de um licor”. De todas as champanhes, descobriu que a Juglar “era um pouco mais intensa, maior, rústica, diriam os franceses”, mas notou que ambas se comparavam favoravelmente com algumas das melhores champanhes atuais.

Mistura inexplicável – Nesta série de ilhas não acontece muita coisa, ainda que pertença à Finlândia e seus habitantes falem sueco, de forma que seus moradores compreensivelmente esperam que a champanhe ponha Mariehamn no mapa. O governo quer leiloar as garrafas no futuro. De maneira um tanto inexplicável, também há planos focados em misturar uma parte do líquido com champanhe moderna, para vender em restaurantes locais.

Alguns especialistas, como Juhlin, sugerem que as garrafas poderiam chegar a 70.000 dólares cada em um leilão. A marca anterior foi de 21.000 dólares por uma Krug de 1928, no ano passado, em Hong Kong.

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