Cessar-fogo entra em vigor, mas futuro da devastada Gaza segue incerto
Estimativas das Nações Unidas apontam que 69% das estruturas do enclave foram danificadas ou destruídas durante a guerra entre Israel e Hamas

O cessar-fogo entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza entrou em vigor neste domingo, 19, inaugurando a primeira pausa no conflito em mais de 15 meses. Além da libertação de reféns mantidos em cativeiro no enclave, a população palestina também terá permissão para retornar a certas áreas no note, de onde foram obrigadas a fugir devido aos combates. No entanto, ao retornar às suas casas, muitos irão se deparar com bairros inteiros reduzidos a escombros.
O acordo alcançado na última quarta-feira 15 prevê que uma resolução para a situação em Gaza, no longo prazo, só será discutida na terceira e última fase da trégua. Ou seja, a reconstrução do enclave – e quem será responsável por ela – continua no campo da incerteza.
Bombardeios israelenses constantes, que começaram assim que o Hamas invadiu comunidades no sul de Israel em 7 de outubro de 2023, arrasaram quase por completo o enclave palestino. Estimativas das Nações Unidas apontam que 69% das estruturas em Gaza foram danificadas ou destruídas, incluindo mais de 245 mil residências. O Banco Mundial calculou que os prejuízos ultrapassam os 18,5 bilhões de dólares (cerca de 111 bilhões de reais) — quase a produção econômica da Cisjordânia e de Gaza juntas em 2022 — apenas nos primeiros quatro meses da guerra.
De acordo com avaliações das Nações Unidas, serão necessários dezenas de anos para reconstruir as casas destruídas em Gaza. Só a remoção das mais de 50 milhões de toneladas de escombros pode levar 14 anos e custar 1,2 bilhões de dólares (cerca de 7,2 bilhões de reais). O processo é agravado ainda pela presença de munições não detonadas e outros materiais nocivos sob os destroços, além de restos mortais das vítimas de bombas.
A situação será ainda pior caso Israel e Egito imponham restrições ao movimento de pessoas e mercadorias na Faixa de Gaza, como fizeram quando o Hamas tomou o poder no enclave, em 2007. As Nações Unidas estimam que pode levar mais de 350 anos para reconstruir tudo o que for perdido com esses potenciais bloqueios.
Israel culpa o Hamas pela destruição de Gaza durante a guerra, que teve início após o ataque do grupo palestino matar mais de 1.200 pessoas, além de levar ao sequestro de 250, no dia 7 de outubro de 2023. Desde então, mais de 46 mil palestinos – pelo menos 70% dos quais eram civis, de acordo com estimativas das Nações Unidas –, foram mortos em meio a ataques aéreos e combates, de acordo com autoridades de saúde palestinas.
Acordo de cessar-fogo
O gabinete israelense ratificou o acordo de cessar-fogo em Gaza na sexta-feira 17, dando sinal verde para a interrupção das hostilidades com o Hamas neste domingo, 19, pela primeira vez em quinze meses.
Sob a primeira fase do acordo, que deve durar 42 dias, o Hamas concordou em libertar 33 reféns, entre eles crianças, mulheres — incluindo militares — e pessoas com mais de 50 anos. Em troca, Israel libertaria 50 prisioneiros palestinos para cada mulher das Forças Armadas de seu país, e 30 para os demais reféns.
O acordo também exige que um projeto de reconstrução de Gaza comece em sua fase final, depois que todos os 98 reféns restantes forem libertados (incluindo aqueles sem vida) e as tropas israelenses tiverem se retirado do território palestino.
A possibilidade de reconstrução fica ainda mais nublada diante da incerteza a respeito do futuro governo, a substituir o braço político do Hamas. O secretário de Estado americano, Antony Blinken, expôs um plano que envolve a implementação de um governo interino comandado pela Autoridade Palestina, que atualmente gere partes da Cisjordânia ocupada, em parceria com as Nações Unidas e representantes de nações parceiras. Além disso, soldados dessas nações seriam enviados à região para manutenção da segurança ao lado dos Capacetes Azuis das Nações Unidas.
Enquanto isso, a Autoridade Palestina, envolta em controvérsias devido a corrupção e ligações com membros de grupos militantes, seria reformada, para enfim assumir um governo fixo em Gaza. No entanto, Israel reiterou repetidamente que não aceitará a organização no comando do enclave que faz fronteira com seu país.
Enquanto isso, as condições nos campos de refugiados permanecem precárias, e o retorno à normalidade parece cada vez mais distante para os 2,3 milhões de palestinos que vivem na Faixa de Gaza.