Catar diz que avião de US$ 400 milhões de presente a Trump é ‘coisa normal’ entre aliados
Fala se dá em meio à crescente polêmica em torno das possíveis questões legais envolvendo recebimento do agrado

O primeiro-ministro do Catar, xeique Mohammed bin Abdulrahman Al Thani, defendeu durante fórum econômico no Catar, nesta terça-feira, 2o, que presentear o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, com um avião Boeing 747-8, de valor de 400 milhões de dólares, é “uma coisa normal que acontece entre aliados”. A fala se dá em meio à crescente polêmica em torno das possíveis questões legais envolvendo o recebimento do agrado, apelidado de “palácio nos céus”.
Nesta terça-feira, Al Thani rejeitou declarações de que o Catar estaria tentando comprar influência, após o líder democrata do Senado dos EUA, Chuck Schumer, apresentar um projeto de lei que impediria qualquer aeronave estrangeira de operar como o Air Force One, o avião presidencial, por questões de segurança.
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O luxuoso jato só poderia voar pelo espaço aéreo doméstico sob escoltas de caças militares, caso não receba uma profunda modernização de defesa e comunicação, afirmam fontes da indústria e analistas de aviação. Mesmo depois de eventuais melhorias — como novos sistemas antimísseis, blindagem eletrônica e canais criptografados —, o avião de treze anos ainda ficaria aquém da proteção integrada na atual aeronave presidencial. Trump, contudo, pode dispensar qualquer exigência técnica com uma simples canetada.
“Espero que os Estados Unidos vejam o Catar como um parceiro confiável na diplomacia, que não esteja tentando comprar influência”, disse Al Thani.
A secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse na segunda-feira que a aeronave “será aceita de acordo com todas as obrigações legais e éticas”.
Atrasos x lacunas de segurança
A proposta catari surgiu após sucessivos atrasos nos dois 747-8 encomendados à Boeing (pelo próprio Trump, em seu primeiro mandato) para substituírem o atual Air Force One. Previstas agora para 2027 – três anos a mais que o cronograma original, devido a entraves técnicos e à pandemia de Covid-19 –, as aeronaves já custaram à fabricante mais de US$ 4,7 bilhões e geraram US$ 2,4 bilhões em prejuízos.
Enquanto esperava, Trump avaliou pessoalmente o jato catari em fevereiro – e gostou do que viu. O presidente disse, ainda, que seria “bobagem” recusar o presente estimado em US$ 400 milhões.
Diferentemente do Air Force One, projetado para resistir até mesmo ao pulso eletromagnético de uma detonação nuclear, a aeronave catari não dispõe de sensores infravermelhos, lançadores de flare ou bloqueadores eletrônicos de última geração. Por isso, o Pentágono cogita restringir as rotas do avião ao espaço aéreo americano, além de utilizar caças como guarda-costas.
Além dos sistemas defensivos, o avião precisaria de uma suíte de comunicações capaz de suportar ligações encriptadas da Casa Branca, rede interna para a tripulação e infraestrutura para abrigar equipe presidencial, Serviço Secreto e imprensa.
Como presidente, Trump tem poderes para relevar qualquer lacuna de segurança. “Se ele aceitar o risco de voar sem todos os recursos do verdadeiro Air Force One, nada o impede”, resumiu Mark Cancian, ex-oficial da Força Aérea, em entrevista à agência de notícias Reuters.
Ainda assim, haveria limites. Voos internacionais podem ficar fora de cogitação, por exemplo, uma vez que nem sempre é possível garantir o mesmo nível de proteção em aeroportos no exterior.
Embora cite um preço “de tabela” de US$ 400 milhões, o governo não revela quanto pagaria — se pagar — pelo 747 catari. Consultores da Cirium estimam que um 747-8 de segunda mão valha, na prática, cerca de 25% disso. Porém, especialistas avaliam que o interior luxuoso pode valer mais do que a própria aeronave.