Casamento da princesa Mako põe em xeque futuro da família real japonesa
Lei Imperial japonesa exclui da família real mulheres que se casarem com plebeus, limitando o número de descendentes ao trono

A princesa Mako, do Japão, se casou oficialmente com o plebeu Kei Komuro nesta terça-feira, 26, deixando de maneira definitiva a família real. Sob a lei do país, as mulheres perdem seu status imperial ao se casarem com alguém de fora da realeza.
Desse modo, Mako se torna a nona princesa a renunciar à família no período pós-Guerra, reacendendo o debate do encolhimento da linhagem real. No Japão, a sucessão se dá através da patrilinearidade — quando apenas a descendência paterna é levada em consideração — e as mulheres não têm direito ao trono, o que limita o número de descendentes disponíveis.
Atualmente apenas três homens podem suceder o imperador: seu irmão mais novo, de 55 anos, o príncipe herdeiro Akishino; seu sobrinho de 15 anos, Hisahito; e seu tio de 85 anos, Hitachi.
Em uma pesquisa recente, a maioria dos japoneses se mostrou favorável à ideia da descendência materna também ser levada em consideração, quebrando a tradição em nome de uma sucessão estável. No entanto, uma ala mais conservadora, que inclui o primeiro-ministro Fumio Kishida, é contra.
O Japão já teve oito imperatrizes ao longo de sua história, ainda que todas pertencessem à linhagem paterna. Apenas em 1889 as mulheres foram explicitamente proibidas de atingirem o patamar real mais alto.
Além disso, uma atualização da Lei da Casa Imperial em 1947 retirou o status de 11 ramificações que compartilhavam um ancestral em comum e obrigou as princesas a renunciarem caso se casassem com algum plebeu, o que reduziu drasticamente o número de homens disponíveis para o cargo.
Enquanto isso, a família real não vê o nascimento de um príncipe desde 1965, gerando preocupações sobre o futuro da realeza. Ainda que em 2006 isso tenha diminuído devido ao nascimento de Hisahito, o problema continua. O príncipe é o único dos sete homens da família real abaixo dos 40 anos, e se todas as princesas solteiras se casarem com plebeus, ele será o único elegível para a sucessão, o que traz à tona as inquietações.
A responsabilidade de resolver a situação cabe ao governo de Kishida que, sendo o líder do Partido Liberal Democrata conservador e membro do grupo nacionalista Nippon Kaigi, dificilmente apoiará o rompimento de uma tradição que já dura mais de 2.600 anos.
No entanto, o seu porta-voz disse que o primeiro-ministro respeitará as resoluções propostas pelo governo para resolver a situação, incluindo a permissão de que princesas mantenham seu status real mesmo que se casem com plebeus.
Caso Mako
O Japão acompanhou com empolgação o relacionamento entre Mako e Komuro desde o anúncio do noivado, em 2017, com casamento inicialmente marcado para o ano seguinte. Isso mudou após relatos de uma controvérsia financeira envolvendo a mãe de Komuro, o que adiou a união de maneira indefinida.
Mesmo com o silêncio da família real e uma viagem do noivo para Nova York para estudar direito, em 2018, o escrutínio por parte da mídia continuou. No início deste ano, no entanto, ele reiterou que o casamento com a princesa ainda iria acontecer. Após retornar ao Japão, em 27 de setembro, a mídia realizou uma série de críticas ao casal, o que levou Mako a sofrer de estresse pós-traumático.
Para Yoshikazo Kato, diretor de uma empresa de pesquisa de Tóquio, os recentes ataques da mídia à família real são sinais de uma mudança significativa na relação entre a realeza e a população japonesa. Até pouco tempo atrás, questionar membros reais era um tabu no país. Para ele, essa é a oportunidade para a casa imperial se mostrar mais aberta a discutir questões relevantes.