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Cardeal acusado de pedofilia e afastado circula livremente pelo Vaticano

Arcebispo emérito de Lima causa desconforto entre religiosos e fiéis ao participar do pré-conclave; Santa Sé diz que convites foram enviados a todos

Por Cinthia Rodrigues, de Roma
1 Maio 2025, 09h29

O cardeal Juan Luis Cipriani Thorne, de 81 anos, portanto sem direito a voto e impedido de participar do conclave por causa da idade, reapareceu no Vaticano, segundo a imprensa italiana. Membro do Opus Dei, grupo católico presente em cerca de setenta países e conhecido por sua postura conservadora, ele tem circulado nas Congregações Gerais que antecedem o conclave, apesar das restrições que ainda pesam sobre ele.

A saída de Cipriani da arquidiocese de Lima, em 25 de janeiro de 2019, foi oficialmente atribuída ao limite de idade — ele havia completado 75 anos semanas antes, o que obriga os bispos a apresentar renúncia ao papa. Cardeais que ocupam cargos pastorais ou atuam na Cúria Romana também devem renunciar com a mesma idade (com possibilidade de prorrogação até os 80), mas permanecem com o cargo por toda a vida. Aos 80, perdem apenas o direito de votar em conclaves. No caso de Cipriani, porém, havia algo mais: uma denúncia de abuso sexual contra uma menor, apresentada diretamente a Francisco, por fatos que teriam ocorrido em 1983, cinco anos antes de sua ordenação episcopal.

A acusação motivou medidas disciplinares impostas pela Santa Sé em 2019. A Sala de Imprensa do Vaticano informou, na época, que ele foi submetido a um preceito penal com restrições relativas à vida pública, obrigação de residência fixa fora do Peru, proibição do uso de insígnias e declarações públicas. Segundo o jornal catolico Crux, ele também não poderia participar de futuros conclaves, mesmo que tivesse idade para isso.
Cipriani sempre negou as acusações e declarou que aceitou as sanções “por obediência” e por “amor à Igreja”. Também afirmou que jamais teve a chance de se defender adequadamente. No entanto, as sanções permanecem em vigor, segundo reiterou a própria Sala de Imprensa da Santa Sé, apesar de algumas exceções pontuais por razões familiares ou de saúde.

Mesmo com essas limitações, Cipriani não só circula no Vaticano como foi visto em celebrações e momentos de oração durante o período pré-conclave. Sua presença não passou despercebida, especialmente entre fiéis e religiosos da América Latina, onde sua figura é amplamente contestada. A própria Igreja do Peru reagiu com firmeza após as denúncias: o atual arcebispo de Lima, cardeal Carlos Castillo, ligado à Teologia da Libertação, manifestou apoio à posição da Santa Sé e solidariedade à vítima. A Conferência Episcopal Peruana também lamentou os fatos e se disse próxima de todas as vítimas de abusos na Igreja.

Ainda assim, dentro das congregações gerais, o caso não foi abordado publicamente. Questionada nesta semana, a Sala de Imprensa do Vaticano respondeu: “O convite para as reuniões foi enviado a todos os cardeais. O caso é conhecido. Se nenhuma decisão foi tomada sobre esse tema, cada um tire suas próprias conclusões, tendo em mente o que diz a Universi Dominici Gregis”. Trata-se do documento que regula a vacância da Sé Apostólica e a eleição do próximo papa.

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A situação chama atenção não apenas pela gravidade das acusações, mas também pela ambiguidade com que são tratadas em ambientes institucionais. Cipriani mantém apoio de setores ultraconservadores no Peru, como o prefeito de Lima, Rafael López Aliaga, que lhe concedeu honrarias durante sua visita recente, ignorando completamente as medidas em vigor.

A história de Cipriani se entrelaça com um período particularmente conturbado da Igreja peruana. Sua gestão coincidiu com a ascensão e posterior queda do Sodalício de Vida Cristã, grupo dissolvido pelo papa Francisco após denúncias de abusos sexuais e financeiros. Embora existisse antes do episcopado do cardeal, foi durante sua proteção que prosperou.

Hoje, sua presença nas reuniões do Vaticano, mesmo sem direito a voto, causa mal-estar. Enquanto isso, as vítimas esperam por justiça.

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