Capela Sistina vira ‘bunker digital’ com reforço de segurança cibernética para o conclave
Bloqueadores de sinal nos azulejos de piso e películas nas janelas contra drones espiões estão entre as proteções anti-vazamento

O Vaticano afirmou nesta segunda-feira, 5, que todos os sistemas de telefonia móvel no território do Estado da Cidade do Vaticano, excluindo a área de Castel Gandolfo, serão desativados a partir das 15h locais (13h em Brasília) do dia 7 de maio, quando começa o conclave. É apenas mais uma das medidas de segurança para garantir a incomunicabilidade dos 133 cardeais encarregados de escolher o sucessor do papa Francisco no Trono de Pedro, um processo secretíssimo e realizado em clausura total na Capela Sistina.
Nas últimas semanas, a Santa Sé reforçou drasticamente a segurança cibernética no local, transformando a igreja embelezada por Michelangelo em uma espécie de “bunker digital”. Além do tradicional isolamento dos cardeais, medidas inéditas de cibersegurança foram adotadas para evitar qualquer tipo de espionagem ou vazamento de informações.
Técnicos instalaram bloqueadores de sinal (os chamados jammers) para impedir transmissões por celular, com destaque para azulejos de piso projetados para esse propósito, e aplicaram películas nas janelas contra drones e lasers espiões. Antes da entrada dos cardeais, todos os dispositivos eletrônicos — celulares, tablets e laptops — serão confiscados.
A Gendarmaria do Vaticano também preparou um plano de segurança cibernética. Todas as comunicações entre os vários departamentos da Santa Sé são criptografadas. E canais reservados de um novo sistema de rádio criptografado foram criados para operações sensíveis ou emergenciais. Mas, como dizem os cientistas da computação, o único sistema seguro é aquele que não pode ser acessado.
O reforço da segurança cibernética ocorre após dois ataques hackers sofridos pelo Vaticano em 2022 e 2024, atribuídos a grupos ligados à Rússia. Na época, o site oficial da Santa Sé foi invadido após uma série críticas do papa Francisco à guerra na Ucrânia.
Com mais de 90% dos sites vaticanos considerados inseguros em 2024, a Santa Sé recorreu a empresas britânicas, israelenses e à Agência de Cibersegurança da Itália para reforçar sua infraestrutura digital. Os servidores foram transferidos para a Biblioteca Apostólica e todas as comunicações internas passaram a ser criptografadas.
Esquema de segurança
A segurança em torno do Vaticano também foi reforçada, retomando as medidas já adotadas para o funeral do papa Francisco no fim de abril. Na manhã desta segunda-feira, a Delegacia de Polícia finalizou o plano de vigilância para os próximos dias, marcados não apenas pelo conclave e seguinte anúncio do novo papa, mas outros eventos que trarão milhares de pessoas a Roma: o Torneio Internacional de Tênis no Foro Itálico, a partida decisiva entre Lazio e Juventus no próximo sábado no Estádio Olímpico, e no dia 14 de maio, a final da Coppa Itália entre Milan e Bologna, com mais de sessenta mil torcedores das duas equipes.
A Praça São Pedro, onde os fiéis irão aguardarão o anúncio da escolha do novo pontífice, terá postos de controle nas entradas com detectores de metais e vigilância reforçada, além de sistemas antidrones. Não haverá zonas proibidas, mas sim limitação de público por motivos de segurança: 50 mil pessoas na Praça de São Pedro e mais de 100 mil na Via della Conciliazione.
Um alerta máximo foi convocado não apenas para o Vaticano, mas também para três basílicas papais: São João de Latrão, São Paulo Fora dos Muros e Santa Maria Maior.
O plano da Sede da Polícia inclui a utilização de centenas de agentes de plantão 24 horas por dia, justamente porque não é possível saber quanto tempo durará o conclave, nem quantas pessoas poderão afluir à Praça de São Pedro em caso de fumaça branca. Haverá, por dia, dois momentos particularmente delicados até a eleição: às 12h e às 19h locais (7h e 14h em Brasília), quando são anunciados, por meio da chaminé da Capela Sistina, se há resultado das votações ou não.